sexta-feira, 21 de novembro de 2008

FRACASSO?

Para não ficarmos aqui desenterrando defunto e também o que passou...passou, vamos dar a última pincelada na Tese do Pe. Mesquiatti, que por sinal é muito reveladora. Porém há algumas coisas que naturalmente, quando passam para a História, perdem certos pormenores e sentido.
Falamos anteriormente no Buraco Negro em que se tornou o nosso SIC enquanto fora tentavam outro modelo de formação de padres. E a primeira experiência foi a "casa do Bosque" ou do Pio XII. Ali, alojaram-se em 1967 a última turma que fez o Colegial completo no SIC. Não vamos aqui descrever o que aconteceu por lá, mas se vocês lerem a Tese do Pe. Meschiatti verão como foi interessante. Eu, na época tinha 14 anos de idade e cheguei a ir lá várias vezes, porque levávamos almoço e jantar para eles, do SIC. Também fiz serviço de datilografia lá mesmo e ouvia um pouco do que imaginava que me esperava no futuro.
Então, aquela experiência, que seguia as novas orientações do Concílio e apertada pela não aceitação mais de seminaristas de outras cidades no Ipiranga, foi uma espécie de solução na qual nem o Bispo D.Paulo, acreditava. Como diz na tese: ele parava o carro diante da casa e não entrava. Lendo tudo isso hoje a gente nota que algo ???? bailava no ar. Dom Paulo havia apostado tudo no Seminário Menor mas parece que se esqueceu do Maior.... Se eu fosse ele, então, teria colocado Filosofia e Teologia lá no SIC mesmo e tudo teria tomado outro caminho. Será?
Com certeza os amigos que viveram a " casa do fracasso", em têrmos de vocação sacerdotal, não deve gostar da minha sugetão. Eram jovens e o mundo estava sofrendo uma das maiores transformações no começo dos anos 60 e eles estavam radiando uma aura fleumática, juvenil e corajosa por uma briguinha.
Enfim, a casa se desviou para a "rua", se meteu em política, tanto estudantil como governamental e se misturou "ao povo", digamos assim. Essa era a mensagem que muitos Bispos entenderam no Concílio e entraram em choque por aqui, para por em prática. E sobrou para os jovens como o Sérgio Cardoso, a quem se referem como "o intelectual", o Gabriel é referido como "o fiel da balança", Bruno Nardini, sobrinho do Mons., industrial; Antoniazzi, filho de políticos influentes; Venturoli, família dona de madeireira.... Essas referências me deixam a pensar o quanto teriam pesado na mudança de destino dos seminaristas maiores. Hoje, parece uma confusão enorme, e se voce ler a tese verá quantos conflitos entre os próprios padres e o Bispo. Por isso não dá para dizer que a casa foi um fracasso.
O que a gente nota analisando tudo dos dias de hoje e que não vi em nenhuma tese ainda é o âmago da coisa, como costumo dizer, o espírito da coisa: ser padre.
O que teria mudado em ser padre e que não se conseguia mais achar um caminho para sua formação? Isso é que é preciso se analisar e se tudo mais ficou na História, isso não; está presente hoje e com muitos problemas.
Na tese o Pe. Meschiatti aborda dois tipos de Seminários: o tridentino, modelo estipulado pelo Concílio de Trento, em 1563 e que veio falecer bem aos nossos pés, no Concílio Vaticano II, que não deixou claro como seria o novo modêlo, mas recomendava que se fizesse de forma aberta. Mas e a figura do padre?
Isso também é histórico e vai longe e vamos ter que passar por cima de muita coisa e eu vou então fazer isso em forma de recordações:
A figura do padre até o começo dos anos 60 era de verdadeira autoridade. Era comum ouvir em discursos e lá estava no palanque um padre ou Bispo, o têrmo "autoridade eclesiástica". Também, fora os católicos só haviam os "crentes" ou protestantes, que não faziam muita questão de aparecerem. Hoje há uma enxurrada de religiosos, até coisas estranhas dentro da própria Igreja Católica.
Mas a noção que a gente tinha do padre é que era um ser super estudado, de grande cultura, de grande poder de oratória, solucionador de problemas, líder da comunidade, etc, etc. Era comum que se chamasse o padre para um doente até mesmo antes que o médico. E para isso os padres daqueles tempos, APESAR DE TEREM SIDO ENCLAUSURADOS EM SEMINÁRIOS, davam bem conta do recado. Vejam as biografias dos padres no site da Arquidiocese de Campinas e verão os fatos. Havia muitos desvios pessoais mas para isso deve-se levar em conta o lado "humano" do padre. Mas não vi nenhum que ficou abobalhado ou alienado e não pudesse cumprir suas missões dentro da paróquia. Isso porque havia após o Seminário mais uma etapa, aliás dentro do planejamento da ordenação, que era a de Vigário Coadjutor. Era o tempo em que o recém-ordenado vivia ao lado do Pároco e se integrava na comunidade. Estava tudo certinho.... mas....
Os anos 60 trouxeram uma mudança de espírito. Falo disso mais longamente no meu livro com exemplos do que aconteceu dentro do SIC. A mudança estava no espírito. Mosenhor Bruno diria: "espírito de porco"...rsrsr...rsrsr... Ela veio avassaladora: calça justa, cabelos cumpridos, sons estridentes, superficialidade das idéias, tecnologia nova de comunicação, etc, etc. Ou o caminho dos intelectuais, em minoria, mas que fugia totalmente ao cunho religioso, que era a bossa nova. Candura, melancolia, sol e mar e um amor imaginário. Não batia também com seminarista. Mas era a atração que estava nas ruas naquele momento e justamente no momento em que resolveram lançar o aprendizado religioso no meio de toda essa profanalidade. Parece que foi até um desespero da Igreja, pensando: ou se faz isso ou vamos perder a autoridade. De certa forma estavam certos e apesar da experiência da casa não ter vingado também não foi possível retroceder para dentro do modelo tridentino. O sistema educacional do país aboliu o curso ginasial e as crianças deviam ir até a 8a. série para completar o 1o. grau. De repente ficou inviável mandar meninos de 11/12 anos para o internato. Mas estamos fugindo da figura do padre. Eu falava de espírito e é por aí. O padre que antes levava conforto espiritual para os problemas materias, de repente passou a tentar resolver os próprios problemas materiais através da própria materialidade. É por isso que não entendo quando se fala demais em "excluídos". Excluídos de quê? Da materialidade? O ser é excluído de ter os bens mais modernos, de ter acesso às coisas do mundo? Então mudou a Teologia também (acho que aqui os Teólogos vão explicar o que mudou...). Antigamente todo ser humano era orientado para a salvação de sua alma e toda a recompensa de seus sacrifícios terrenos teria a recompensa final de "ir para o céu", para o descanso ao lado de Deus. Nossa! fui longe...rssrs... mas era isso mesmo. Mas não se ouve mais padre algum fazer referências a "ir para o céu" ou conformar-se com os sacrifícios. A ordem é brigar por aqui mesmo e já, ou seja, ser incluído na "felicidade terrena". Aliás essa é bíblia dos "novos cristãos", chamados de evangélicos.
Então, há uma incongruência entre ser padre tridentino e ser padre de "inclusão". O problema é a perda da identidade, no sentido de autoridade respeitada. Não que não se respeite o padre, mas ele não tem mais peso. Está perdido nesse novo negócio de pastorais, que veio substituir também as congregações, que tinham regras específicas na vida da paróquia.
Se você teve paciência de ler até aqui, não vou abusar mais... tanto porque "Inês é morta"....de onde será, teria surgido esse dito popular? Se escrevi alguma besteira me desculpem, foi ao meu modo de ver... a verdade?.... a verdade será nossa eterna busca....Se alguém quiser expressar a sua é só teclar o Comentários abaixo e será bem vindo.
E vamos na próxima a fatos que mais nos tocaram.









Um comentário:

  1. Tenho parcos conhecimentos em filosofia. Em minha época 1964, você já sabe, foi abolida essa matéria das escolas.
    Contudo li alguns livros básicos por conta. Ajuda quando temos que refletir sobre a realidade e verdade dos fatos.
    Gostei de seu comentário, pois minha época de seminário foi justamente época de profunda transformação.
    Eu não consigo entender como deve ser formado uma pessoa que consiga viver realmente em celibato com toda essa cultura materialista atual.
    Um abraço
    Juliano

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