sábado, 31 de março de 2012

Confesso que vivi uma paixão, esse delírio da alma

Ele foi meu primeiro professor de Francês. Ficou pouco tempo no ex-SIC. Sempre tive curiosidade em saber por onde andou depois disso.
Viu o ex-SIC “nascer” enquanto seminarista menor.
Vocês lerão abaixo uma entrevista onde a emoção é contida. Em compensação está repleta de lúcidas e instigantes reflexões. É uma entrevista para ser lida com calma e sem atropelos. Provavelmente farão uma segunda leitura para captar toda a riqueza do que foi escrito.
Quem é o entrevistado?  Dica1: é ex-padre. Dica 2: Está nesta foto

  • Quando entrou para o seminário?
Entrei no Seminário Menor de Campinas em 1947, onde permaneci até completar os seis anos de estudo, em 1952; seguindo para o Seminário Maior, no Central do Ipiranga, em S.Paulo. Fiquei três anos (47-49) no prédio da Avenida Saudades (Dom Barreto) e três anos em parte do Diocesano (‘ruínas pre-históricas’ como dizíamos, pelas constantes reformas), ao lado do Bosque. Visitávamos as obras do seminário novo, como passeio. Fiz filosofia e um ano de teologia no Central do Ipiranga, completando esta na Universidade de Comillas, Espanha, de 1957 a 1960, junto com o hoje Dom Antonio Celso Queiroz.
  • Saiu de que cidade/paróquia?
Nasci em fazenda do meu avô em Capivari-SP e meus pais mudaram para Indaiatuba em fim de 1944. Em julho de 45 já era coroinha, da Igreja Matriz N. S. da Candelária. Pe. Antonio Janoni, vigário, muito amigo dos coroinhas, levava-nos aos domingos após a Benção do Santíssimo (Não havia missa vespertina então) ao sorvete e ao cinema. Tive entre os primeiros amigos o Renato França (Padre falecido), coroinha, que em 46 entrou para o seminário. Minha vida se dava entre as atividades da paróquia, aulas, o pingue-pongue no salão paroquial e as peladas de sábado no campinho atrás da igreja.
  • Por que entrou para o seminário?
Tinha 13 anos quando entrei no seminário. Tinha traços pessoais fortes para o mundo religioso. Por conta, lia ‘’A História Sagrada’, partes da missa num “Segundo Catecismo”. Por ele acompanhava a celebração sem rezar o terço, como o povo todo fazia então. Minha família, parentes, eram todos católicos praticantes, de origem suíça, língua alemã. Via pais, tios e tias, certas noites, reunidos na sala maior da fazenda, rezando o terço, com ladainha em latim. Aquele ‘Ora pro nobis’ sonolento soou por muito tempo. A moral era rígida, palavrão jamais. Maior respeito a coisas da religião. Não senti pressão de ninguém. Meu amigo Renato já estava lá. Foi o caso talvez em que a profissão nos escolhe, não nós a ela. Acho hoje que eu poderia ter dito um não, a mim mesmo. Não era uma vontade resoluta. Deixei-me levar. O seminário foi uma continuidade do que eu já vivia. Por isso entrei, gostei, fiquei.
  • Quando se ordenou? Quantos anos tinha quando se ordenou?
Ordenei-me com 27 anos, na Páscoa de 1960, 17 de abril, em Comilhas na Espanha, um grupo de 41 candidatos.
  • Quando começou a trabalhar no ex-SIC?
Ao voltar da Espanha, fizeram-me dar latim e francês. Foi época de renovação pedagógica. Fazíamos encontros regionais, trocando experiências com outros seminários, tentando uma formação mais moderna, aberta. Eu particularmente sempre considerei a educação uma atividade maravilhosa. Mas tenho que nunca fui muito bom nisso. Foi um tempo muito alegre, excitante. O Brasil vivia um clima de pre-revolução em tudo: política (eleições, Cuba, movimentos sindicais, estudantis, as famosas “reformas de base”), educação (reformas do ensino, do básico ao universitário) música ( Rock&Roll, Beatles, iê iê iê), costumes ( família, sexo), a Igreja (Reforma litúrgica, questão social, “Movimento do mundo melhor”). No refeitório dos padres as discussões eram exaltadas.
  • E depois?
O final anterior é para indicar porque deixei aquelas amenidades das aulas e vivência no belo e aconchegante seminário para me dedicar ao trabalho realmente pastoral junto à juventude. Aulas que eu dava um leigo daria, ser sacerdote era chegar à vida das pessoas. Mudei para o Pio XII, onde já estavam o Pe Busch (recém falecido), o Pe. Celso e o Pe. Lauro Sigrist, meu primo. Foram tempos de muito estudo, papos, reuniões, inovações, encontros, viagens, numa convivência excelente. Trabalhei na JOC (Juventude Operária Católica, movimento de Ação Católica) como assistente até 68, na diocese e quatro anos na Regional (Estado de S. Paulo). Era uma educação para a vida, dentro da vida. A melhor forma de educação cristã que setores atuantes da Igreja empreenderam. A Ação Católica estava no auge: JAC,JEC,JOC e JUC. Todos se envolvendo na mobilização política. Participei de encontros regionais, nacionais de padres, refletindo e buscando renovar a Igreja de forma mais profunda. Fizemos uma “Carta aos Bispos”, de grande repercussão. O Concílio Vaticano II e os teólogos mais abertos, com a teologia da libertação, inspiravam os rumos. A reforma litúrgica era mais aceita, mas a reforma das práticas e estruturas internas da Igreja não avançou, incomodava demais o conformismo atávico do clero e da hierarquia. O golpe de 64 seguido pelo AI-5, nos abateu muito, como à Igreja renovada, social, aberta. Com autorização do Vaticano, deixei o ministério em fevereiro de1969, tendo celebrado minha última missa na igreja do Carmo, sem alarde num dia como qualquer. No sábado seguinte peguei minhas coisas do Pio XII, coloquei na caminhoneta do cunhado e parti.
  • Por que "deixou a batina"?
Vou tentar uma resposta tanto quanto consigo me entender. Parto de um estado de espírito, ou seja, conjugando o ser pensante, que somos (o explicável) e o ser sentinte, que também somos (o inexplicável). Assinalo dois fatores. Anos de convivência com os jovens e o mundo externo, profano, me revelaram a grandeza do humano: trabalhar para viver, ter família, um viver pleno. Anos de trabalho pastoral me revelaram a insuficiência do religioso, do cristianismodevocionismo desenfreado, o pieguismo, da religiosidade popular, absorvido pelos ‘serviços religiosos’, de sentido teológico duvidoso. Era um sentir fundo no confronto das exigências disciplinares e de crença com as aspirações humanas despertadas. O amor, enfim, à mulher e amar veio acelerar a decisão. Não determinante, a meu ver.
  • Houve alguma represália da parte da Igreja por isso?
Direta, não. Mas, se o Cardeal Dom Evaristo Arms permitia ex-padres lecionar na PUC-SP, inclusive matérias filosóficas e teológicas, e todos colaborando na reforma universitária; de outro lado, em Campinas, era proibido na Universidade Católica. Aí, amigos, para mim é impressionante o descaso que os bispos ostentam em relação a recursos humanos. Investem muito, mandam estudar fora, em Roma, dinheiro das paróquias e os marginalizam. Saíram cabeças muito boas, ótimos alunos, professores.
  • Qual sua trajetória profissional após "deixar a batina"? Trabalha ainda?
Tive uma trajetória errante ou errática. Saí para o mundo com 36 anos, com um diploma de técnico de eletrônica, que adquiri em 68, na espera da resposta do Vaticano. Não havia saldo em FGTS. Morando em S. Paulo, iniciei trabalhando, conforme anúncio, numa pequena loja de Áudio na Avenida Paulista. Dia 7 de maio tinha minha Carteira de Trabalho inaugurada, na Varig, Departamento de Telecomunicações. Em 71 troquei a Varig pelo Metrô em construção. Nesses anos fiz Complementação Filosófica em Mogi das Cruzes, como muitos outros ex, para obter o diploma de filosofia. Com ele entrei na PUC-SP em 75 e na Universidade Católica de Santos. Em disciplina de conteúdo humanista e teológico, antiga “Cultura religiosa”.
Mas deixei em 79 a PUC, ruim de finanças, ambos, e fui trabalhar com Mario Faria e Augusto Chiavegato no Inocoop Bandeirantes, ligado ao velho BNH, a projetos de conjuntos habitacionais. Mas deu-se a crise de 82, poucas verbas, tive que cair fora, demitido; mantinha as aulas de Santos. Fiz o concurso de professores de filosofia na rede estadual de S. Paulo, fruto da redemocratização, estudei prá caramba, passei, entrei em 86. Mas eis que o trabalho era demais e o salário congelado. Visando na minha idade manter padrão de vida, com três filhos, velhice decente, parti para concurso público, já que a Constituição de 88 aboliu preconceito de idade. Entrei no Tribunal Eleitoral em 92, na Receita Federal em 95. Aposentei-me em 99. Hoje, além dos afazeres domésticos, quebrar galho de filhos, cuidar da saúde, dedico-me a viver o mundo, na realidade e na Fê. E repito A. Caieiro: “Sinto-me nascido a cada momento para a eterna novidade do mundo”.
  • Casou? Tem filhos? Netos?
Sim, casei-me, três filhos, sendo duas mulheres. Sem neto ainda. Casei-me com quem me encontrava por vezes no trabalho da JOC. Por anos nada houve entre nós. Ela morava em S. Paulo, foi dirigente na cidade, nacional e teve certas atividades em países da América Latina. Esteve presa em 70, incomunicável, por quatro meses, com toda a direção nacional da JOC, e alguns padres assistentes. Movimento subversivo. Por muito pouco não fui junto. Estava na lista. Para meu vexame, não como ameaça à segurança nacional, mas como namorado de quem o era. Confesso que vivi uma paixão, esse delírio da alma.
  • Quais as recordações mais marcantes do tempo de ex-SIC? Cite um personagem com que conviveu na época que o impressionou positiva ou negativamente. Sobrou alguma mágoa? Qual?
No inicio gostei das missas pontificais na catedral, majestosas, com altar e trono imponentes, nos paramentos, nos movimentos, nas músicas. Herança das monarquias europeias, decaídas há quase150 anos. Nos divertíamos muito, nos relacionamentos, nos estudos, nos jogos. O Celso, o Longhi (ordenado e já falecido) eram cômicos. O Celso imitava professores, membros do cabido e até o bispo, D. Paulo. A grande marca para mim foi a seriedade em tudo que fazíamos, o respeito. Nunca presenciei desvios, maldades, de colegas e superiores, nem em conversas. Ou fui ingênuo. Aprendemos a prezar o conhecimento, a arte, a ética, a convivência amiga, e sobretudo nossa vocação futura. Colegas que tive como o Celso, o Busch, Herminio, Chiavegato, Mario Faria, professores como Pe. Adriano (dizia: “non scholae sed vitae discimus”), Pe. Sena, José van den Becelar (cultura humanista extraordinária), Cong. Mellilo, o Reitor, foram admiráveis em garantir esse ambiente em que passamos nossa adolescência e parte da juventude.
Mágoas, não. Era a época. Fechados ao mundo, sim. Pegando o Carlos H. Cony: sabia latim, grego, francês e temia atender um telefone. Sexo um tabu. Admira-me como conseguimos calar nossa libido. Pena não ter namorado aos 18 anos, na flor da idade. Essa experiência não pude contar aos filhos.
  • Se voltasse no tempo trilharia novamente os mesmos caminhos? Por que?
O que seria eu, se não fosse ao seminário e não me tornasse padre? Teria comigo o muito que adquiri e vivi, as convivências, a fé cristã, consciente e crítica, a visão de mundo, as questões que me coloco hoje, valores supremos para mim? Certamente não. É coisa única. Acrescentando filosofia e teologia, convivemos com as bases, os problemas maiores da cultura ocidental. Cristandade e o choque da modernidade, a secularização. Não foi pouco. Precisaria no passado alguém que me pegasse nos ombros e me sacudisse: “Cara, deixa disso. Há coisa melhor”. E me acordasse, como a Kant, do “sonho dogmático”. Se encontrasse tal alguém, talvez tomaria outro rumo. Como não há volta para o futuro, aceito o passado e trilharia os mesmos caminhos.
  • Quais as principais mudanças que a entrada (e/ou saída) do seminário (e/ou sacerdócio) provocou em você?
A entrada não gerou mudanças. Não tive uma namorada para dizer adeus e ter saudades. Adaptei-me. Deixar o ministério foi sim uma real mudança, como descrevi acima, cujo sentido e alcance se aprofundaram. Mergulhei no mundo, entreguei-me. Em nenhum momento duvidei da opção. Não queria apenas ganhar dinheiro, mas ficar no mundo das ideias, no debate do mundo, objetivando aulas. Me vi livre para crer ou descrer. Combinei com Deus seguir meus sentimentos, neles confiar, já que somos parte de seu projeto para o mundo. Passei a olhar o mundo, a criação, como algo positivo, belo, fascinante, que o conceito habitual de salvação relega, contradição que atormenta muitas consciências cristãs. Como o prazer e o pecado. Procurava desfazer as ilusões que toda fé promove, confiar no saber e experiência humanas.
  • Dedica-se à Igreja Católica atualmente? Qual sua relação com a religião atualmente?
Não me dedico. De forma explícita. Tomamos parte, eu e a esposa, de um grupo de ex-jocistas, 15 a 20 pessoas, que se reúnem um dia inteiro a cada 3 ou 4 meses e conversam sobre o país, a Igreja, nossas vidas. Ocasionalmente frequento missas em encontros mais significativos. O grande significado da celebração, a partir da última ceia, tão rica e simples, é sufocado pelo excesso de elementos através dos séculos. Não assumo a religião no sentido habitual, que também Cristo a meu ver criticava e não assumia. Foi condenado por altas autoridades religiosas. Faço o que tem sentido. Imagino um Deus republicano, democrata, e não um monarca absoluto, cioso de submissão e louvores, como a tradição feudal ainda nos impõe. Afinal, não somos da família?
  • Como você compara a sua religiosidade daquela época com a atual? Como você compara a Igreja Católica daquela época com a atual?
Do mundo religioso fechado, acrítico, salvador de almas, para o mundo aberto, real, do novo. O tom era pecado, culpa, temor de Deus, virtudes ascéticas, o céu, o inferno. Procuro o sentido humano das realidades que vivemos, família, sexo, profissão, conforto, ciências, artes, enfim o projeto de Deus sobre o mundo. Acho que Ele prefere isso, que é a realidade imediata de nossas vidas, e propicia a comunhão humana, a ficarmos ajoelhados, em orações sem fim. O espírito do homem moderno é construir sua vida e felicidade nesta terra. É um caminho real, sem ilusões, para a descoberta de Deus e amá-lo, apesar do mal que deixou ao mundo. Olho a criação como uma fabricação, em que cada coisa, cada detalhe, foi pensado, como nas construções humanas, das habilidades dos animais, da beleza das flores, à espantosa dimensão das galáxias. Sem esquecer as infinitas subtilezas da sexualidade humana.
O mundo, as sociedades, mudaram muito, a Igreja pouco. Caiu o latim, o celebrante olha para o povo, o povo participa. Outra visão. Mas, é pouco. As pessoas buscam caminho próprio. Não pedem mais conselhos à Igreja, que perdeu autoridade. Ouvem antes seus amigos, profissionais, celebridades. Exemplo na vida sexual. Fala-se tudo, abertamente. Pecado? Ninguém liga. Mas a moral segue na restrição ao prazer, tão essencial à vida, à felicidade. Todo poder cabe ao Papa, à hierarquia, no governo, na ortodoxia, na liturgia. Celibato. Papel passivo do cristão comum. Liturgia uniformizada. Privilegiam-se os atos litúrgicos, os sacramentos, confiando em sua eficácia automática. Onde fica a formação das consciências, de uma Fé por tradição para uma Fé por convicção? Falta mais igualdade, comunidade, capaz de exprimir com liberdade sua visão de fé e dirigir-se com maior autonomia.
Sem revisão bem mais profunda da teologia e da pastoral, na linha do respeito às condições humanas, a Fé cristã encontrará enormes barreiras para chegar a povos e culturas milenares tão diversas. Ou isso não preocupa mais? Para administrar o mundo, seus dirigentes possuem suas Harvard, Yale, Cambridge, seus institutos e núcleos de excelência. No embate cultural contemporâneo (secularização, educação, ciência e fé, evolucionismo, células tronco, aborto, divórcio, AIDS, hedonismo, doutrina social), a Igreja não consegue se livrar da pecha de obscurantismo medieval, perde terreno. E vêm questões mais pesadas ainda: se de fato não houve pecado original, se não existiu Adão, nem ele pecou, porque continuar a falar nisso? E então qual foi a verdadeira missão de Cristo? Como então ficam nossas faculdades de teologia, as pesquisas, as publicações?
  • O que você acha dos reencontros com os ex-colegas do ex-SIC?
Acho ótimos, mas tem a dificuldade da época, de motivar colegas, e talvez com a frequência querer-se algo mais. O que? Papo sobre tema? Talvez.
  • Alguma sugestão? Qual (ou quais) pergunta(s) você gostaria de ter respondido e que não foi(foram) feita(s)?
Nada a dizer
  • Há algum outro endereço na internet que tenha material que gostaria de ver divulgado?
Não

Vivaldo Ifanger

Com tão instigantes afirmações haveria um interessante debate caso houvesse vários comentários em contraposição. Ou todos concordam com o nosso entrevistado?
Concordando ou não, que tal todos os leitores postarem um comentário? Só não deixe de identificar-se, caso comente como anônimo!

sábado, 24 de março de 2012

...a dura militância comunista que mantive por muitos anos quase foi uma continuação de compromisso religioso pois também proliferavam dogmas e hierarquias

O nosso entrevistado de hoje atuou em várias frentes, aqui e alhures, para cumprir um ideal. Um ideal que germinou ainda no tempo de ex-SIC.

Quem seria este autodefinido hispano-brasileiro-baiano? Curtam as suas respostas em estilo portunhol! 

Uma dica? Ele é um dos que aparecem na foto ao lado 
 
  • Quando entrou para o ex-SIC?
Sou da turma do ano 1965.
  • De que cidade/paróquia?∙
Fui indicado para o exame admissional pela Paróquia São Benedito de Limeira se bem fazia anos que havia mudado para São Paulo mas os vínculos da família com a Paróquia e com o Padre Gustavo eram fortes e continuava frequentando nas continuas viagens para a casa de meus avos na praça Ação Duarte em Limeira.
  • Por que entrou para o seminário?∙
Estava com 12 anos, nessa idade pretender que foi por vocação é absurdo, fui por que tinha meu primo Celestino há quase dois anos por lá e me contava que viviam livres com campos de futebol e brincadeiras o tempo todo, essa foi a principal razão ou seja a vocação para brincar e jogar muita bola.
  • Quantos anos tinha quando entrou?∙
12 anos
  • Quando saiu do ex-SIC?∙
Até hoje tenho duvidas se permaneci um ano ou dois mas pelas lembranças tenho quase certeza fiquei quase dois anos portanto devo ter saído no ano 1966.
  • Quantos anos tinha quando saiu?∙
14 anos.
  • Por que saiu do seminário?
Na verdade eu já pensava em sair pois não tinha resistência a sessão diária de missa e novas medidas disciplinares introduzidas mas de vez em quando ao ler e ver certas coisas que afetavam minha nascente percepção social provocando sentimento de revolta ante as injustiças, interpretava essa inclinação em sentido religioso e pensava que começava a ter a tal da vocação que tanto se falava e ficava na dúvida de sair ou continuar mas uma tarde o Pe. Vanin me ajudou pondo fim às minhas dúvidas, fui dispensado por que a direção não tinha dúvidas que eu não tinha vocação pois era muito inquieto.
Na verdade hoje olhando no tempo nossas maiores aprontações eram coisas simples provocadas pelo ativismo infantil mas naquela época e naquele meio causavam alvoroço.
Lembro de pular o muro para ir ao bairro do Paieiro, talvez alguma vez para procurar algum cigarrinho, mas outras vezes foram para comprar o jornal e recortar para o mural da classe com o resultado das eleições municipais ou fotos da rodada de futebol, tinha verdadeira obsessão em manter o mais atualizado possível esse mural até criei alguma história em capítulos que lá publicava.
No quesito aprontações também lembro de haver formado parte daquele incrível grupo de seminaristas que deu de adaptar à realidade o personagem de Ari Toledo que comia giletes na praia de Copacabana, aliás depois comprovei a letra dessa música de forte conteúdo social é de Vinicius de Moraes e Carlos Lyra, acho que tudo foi provocado por uma aposta e um grupo mais desafiante fomos ate as últimas consequências ainda bem que o limite desse grupo ficou nesse lance absurdo e não se tratava de uma roleta russa ou o desafio automobilístico de “rebelde sem causa”.
  • O que aprendeu no ex-SIC?
Sem duvida o que mais aprendi foram dois ensinamentos que até parecem contraditórios mas que de fato se complementam e são fundamentais na educação adolescente, ali aprendi a viver autonomamente já que devíamos nos virar sozinhos e ao mesmo tempo vivíamos integrados em um solidária vida em grupo portanto o SIC era, além de reconhecida qualidade como escola convencional também uma ótima escola de vida.
  • O que faltou aprender?
Talvez, escrevo imaginando as carências daquela idade, um pouco mais de integração na vida normal daqueles anos evitando os golpes emocionais e choques de realidade que nos esperavam ao sair e comprovar como era dura a vida fora daqueles isolantes mas também protetores muros.
  • O que fez depois que saiu?
Muitas coisas alguma das quais ainda ando fazendo, vivo e vivi experiência de vida diversas e muito diferentes entre si. A modo de resumo dizer que ao sair fui morar em São Paulo, depois aos 17 anos fui para Taquaritinga dirigir com meu avó a filial da empresa familiar de industrialização de laranja que tínhamos em Limeira.
Aos 18 a percepção social voltou a se manifestar com força e fiquei quase um ano no movimento hippie viajando de carona pelas estradas e paradas estratégicas em alguns dos templos do movimento como as dunas de Ipanema, aldeia de Arembepe e Festival de Inverno de Ouro Preto.
No ano 1973 fui para a Espanha, por certo sou espanhol de nascimento, vida marcada pois já fui emigrante aos 4 anos de idade. Voltei e por lá permaneci por longos 27 anos quase todos em Barcelona, primeiro integrado na luta contra a ditadura franquista depois como militante e como dirigente político e sindical no Partit Socialista Unificat de Catalunya e na central Comisiones Obreras, havendo recepcionado e acompanhado Lula e outros dirigentes das emergentes organizações da CUT e PT.
Nos últimos anos em Barcelona fui responsável por projetos de cooperação no sindicato e voluntario em algumas ONG´s o que me permitiu viajar e conhecer diversos países e projetos transformadores especialmente na Américo Latina e norte da África.
No ano 2.000 voltei a morar no Brasil concretamente na Bahia vindo para ajudar em uma nova fabrica da empresa Sol Embalagens na cidade de Camaçari da qual meu irmão é acionista majoritário, além da direção fabril participei ativamente na ONG Instituto Sol vinculada a empresa e que desenvolveu inúmeros projetos sociais. No ano 2008 finalizei essa etapa fabril familiar e administro até hoje o Boteco de Vilas que significou outra experiência vital.
  • Estudou o que?
Ao sair do seminário inicialmente me mantive no âmbito da educação religiosa matriculado no Colégio dos Agostinianos em São Paulo depois, ao terminar o ginásio devo ter ficado apressado na vida optando pelo sistema madureza (atual supletivo) no Colégio Santa Inês e a base de exames itinerantes terminei o colegial depois, ao voltar de um tempo de trabalho no interior, iniciei o cursinho para vestibular de comunicação no Objetivo porém acabei abandonando e cai literalmente na estrada com o movimento hippie depois fui para a Espanha onde fiz dezenas de cursos mas não voltei a frequentar o ensino regrado.
  • Qual sua trajetória profissional após a saída do ex-SIC?
Durante a juventude ainda aos 16 anos trabalhei por um tempo de office boy nos Diários Associados da rua 7 de abril em São Paulo o que me obrigou a viver a experiência de estudar pela noite, no ano seguinte trabalhei em uma empresa familiar e resumindo dizer que na Espanha trabalhei no setor da construção, hotelaria e como guarda municipal porém durante muitos anos a dedicação era quase em tempo integral a função de sindicalista.
  • Trabalha ainda?
Como disse estou finalizando essa intensa fase de trabalho em um bar noturno com musica ao vivo e provavelmente a partir de agora me dedicarei a uma vocação que percebi em mim em meus anos de seminário mas andava meio adormecida, penso me dedicar a escrever, com certo estilo portunhol, ou seja o mais próximo possível de chegar a ser chamado de escritor e já estou com uma obra próxima de ser lançada.
  • Casou?
Casei três vezes inicialmente com uma chilena chamada Halime com a qual tenho meu filho Pablo hoje com 33 anos que mora em Almería no sul da Espanha, depois me casei com uma catalana chamada Inma com a qual tenho meu filho David hoje com 23 anos que mora em Barcelona e por fim com a baiana Janaina com a qual vivo na Bahia com nossa filha Maria Mariana hoje com quatro anos.
  • Netos?
Eu até já estou preparado para ser avô mas acabei sendo novamente pai.
  • Quais as recordações mais marcantes do tempo de ex-SIC?
As recordações são sempre relacionadas com os bons momentos de lazer lá vividos, lembro ter ajudado, como um dos responsáveis entre os menores, de duas iniciativas que serviram para muita animação, uma foi a realização por primeira vez de um curso de árbitros de futebol entre os próprios menores o que derrubaria o tabu de que não tínhamos autoridade para arbitrar, contamos com o apoio do Felício que era o responsável entre os maiores.
Participei na fase preparatória e na organização da viagem da seleção de futebol dos menores para um jogo em Sumaré para mim foi gratificante pelo fato em si e por ser muito amigo do pessoal de Sumaré Adebrail, Deboni. Mondini. Ongaro e Paulo Moraza alias no Mural da classe era habitual fazer irônicos artigos incentivando a rivalidade entre Limeira e Sumaré.
Por certo sem querer o Concílio Vaticano II foi nosso aliado já que para confirmar a viagem foi graças a suas novas normas permitirem que os viajantes fôssemos a missa de sábado pela noite na paróquia do bairro assim pudemos iniciar bem cedo o itinerário até a estação de trem liberando-nos do pecado de faltar a obrigatória missa dominical.
Minha memória ainda conserva nitidamente o incontrolado momento de nervosismo quando aquele jogo começou ao misturar a emoção e ao mesmo tempo o susto pelas dimensões do enorme estádio municipal que nos recebia como equipe visitante. Não lembro quem era o rival e nem o resultado mas acho que empatamos.
Também teve um toque emotivo quando organizamos um pequeno grupo e fomos visitar a Irmã Ivani que deixara de ser nossa estimada professora de português ao mudar sua residência do Seminário para um outro colégio religioso.
  • Cite um personagem com quem conviveu na época e que o impressionou positiva ou negativamente.
Sem dúvida Monsenhor Bruno Nardini foi a figura mais marcante, admirável ao estar sempre presente sem necessariamente se fazer notar. Também recordo com carinho Padres Canoas e Daolio, Irmãs Leonor e Ivani e dos seminaristas nem cito minha turma por que são todos e cada um de gratas lembranças, das outras turmas me marcou meu primo Celestino por sua inteligência e sua continua capacidade de aprender, lembro também dos bons artistas plásticos, da bola e da música, isso me levou muito a admirar o saudoso Paulo Cesar Provinciato que era ao mesmo tempo excelente desenhador e dono de uma mortífera canhota no campo inclusive seu primo Luís Alberto era de minha turma também inigualável no desenho mas quase nem jogava bola.
Minha admiração na bola entre os menores lembro de Israel, a turma de Amparo Pitarelo, Humbertinho e Mozar, nos médios Gersinho autêntico craque que nada deixa a dever a um Neymar por exemplo e nos maiores Bie, Boizão, Santana, Bartolo, Chico e o já citado Paulo Cesar.
Também tive a sorte de ter sido guiado em meus primeiros dias do SIC por um personagem único como o saudoso Nelson Bom na sua função de anjo.
  • Sobrou alguma mágoa?
Muito pelo contrario só sobrou o reconhecimento e as boas lembranças dos anos ali vividos, ao sair, morando novamente em São Paulo, em duas ocasiões fui de visita ao Seminário sinal do bem que me senti por lá.
  • Se voltasse no tempo iria novamente para o ex-SIC?
Provavelmente sim
  • Por que?
Para me sentir livre mas ao mesmo tempo em vida comunitária e para brincar e jogar muita bola.
  • Quais as principais mudanças que a entrada (e/ou saída) do seminário provocou em você?
Entrei quase ainda criança recebi ótima formação letiva que me fez contemplar a vida desde um
ponto de vista mais humano e social portanto mais justo.
  • Dedica-se à Igreja Católica atualmente?
Na verdade desde que sai praticamente não tive mais nenhuma dedicação a igreja se bem que a dura militância comunista que mantive por muitos anos quase foi uma continuação de compromisso religioso pois também proliferavam dogmas e hierarquias, e mesmo fora formalmente fiz de algumas figuras relevantes parte de minha galeria de heróis como Helder Câmara, o bispo catalão brasileiro Pere Casaldaliga, Dom Paulo Evaristo, Dona Zilda Arns, Padre Camilo Torres, Dom Oscar Romero, Frei Beto, Ernesto e Fernando Cardenal e diversos "curas obreros" ou seja padres operários que conheci pela Espanha.
  • Qual sua relação com a religião atualmente?
Hoje com muito respeito me defino como agnóstico em relação a religião.
  • Como você compara a sua religiosidade daquela época com a atual?
Acho que naquela época o fator religioso se expressava pessoalmente como uma continua espera de que algo viria nos iluminar e encontraríamos respostas a todas nossas dúvidas teológicas. Agora, falo por mim claro, já não se esperam essas aparições e nem respostas milagrosas.
  • Como você compara a Igreja Católica daquela época com a atual?
Na verdade nem naquela nem na etapa atual eu desenvolvi apego a igreja como instituição milenar e nem me identificava nos aspectos religiosos mais dogmáticos ou na vertente da fé desde uma contemplação mística sempre pensei que o paraíso devíamos fazer tudo o que fosse possível para que existisse aqui mesmo na terra.
  • O que você acha dos reencontro com os ex-colegas do ex-SIC?
A melhor ideia dos últimos tempos e não canso de reconhecer esse grande mérito ao Grego com seu incessante trabalho e aos muitos que lhe acompanham em todo o trabalho prévio, pena que minha dedicação dos últimos anos impediu minha presença mas agora com certeza não faltarei a nenhum. Por certo tenho como vizinho de cidade meu amigo Paulo Venturoli era de algum curso anterior ao meu mas hoje de quando em quando nos vemos para um bom papo.
  • Qual pergunta você gostaria de ter respondido e que não foi feita?
Se me perguntam de onde sou às vezes fica difícil me fazer entender, mas há muito tempo me defino como um paulista catalão ou vice-versa, se bem não nasci nem em São Paulo e nem na Catalunya, sou um andaluz de Almería mas o que conta é onde se recebe a formação e a cultura para ir navegando e caminhando na vida por isso agora também já começo a ser baiano ao completar doze anos de residência.
Por certo até hoje tenho pendente conseguir formalmente a nacionalidade brasileira quando parecia que o longo processo administrativo chegava ao fim emergiu uma detenção que tive no ano de chumbo de 1973 na Praça da República em Belém junto com outros hippies na mão de um violento delegado que me fez passar vários dias na penitenciária e mesmo sendo liberado por uma Juíza sem nenhum tipo de cargo ficou uma ficha na delegacia, por certo registrado como brasileiro, que me acusava de suposto traficante de maconha, por essa razão se paralisou o processo de naturalização mas na verdade isso hoje nem me altera pois mesmo sem nunca ter sido de direito nunca deixei de me sentir tão brasileiro quanto espanhol.
  • Há algum outro endereço na internet que tenha mais informações sobre você?
www.botecodevilas.com.br ou também no www.institutosol.com.br mas esse último acho que já esta meio fora do ar.
  • Alguma mensagem especial aos colegas da comunidade ex-SIC?
A recomendação da leitura do livro do Grego tanto como método de recuperar memória como pela valentia em abordar temas tabus.
 
Tadeo Sanchez Oller

E então? Curtiram sua trajetória de vida?

Curtindo ou não, vocês sabem como é estimulante ler os comentários dos colegas, principalmente os que conviveram com ele. Só não deixem de identificar-se caso comentem como anônimos.

domingo, 18 de março de 2012

...em momentos de profundo sofrimento me esgueirava para a capela ou para a gruta para orar e chorar


Se você conheceu o “Lambari' logo saberá quem é o nosso entrevistado de hoje. 

Independente disto, poderá conhecê-lo melhor lendo até o final os desabafos e os desejos de re-encontros expressados por ele. E, quem sabe, você tenha a resposta para uma dúvida que ele carrega até hoje.
  • Quando entrou para o Seminário?
No final de 1.965, prestei o exame de admissão, tendo iniciado os estudos em 1.966
  • De que cidade/paróquia?
Campinas – Paróquia da Catedral
  • Por que entrou para o seminário?
Minha família sempre teve uma convivência muito grande com Sacerdotes, principalmente os padres Stigmatinos, e eu ainda tinha parentes, meu padrinho, um meio primo que eram sacerdotes, achava bonito, gostava da religiosidade ali transpirada e brotou o desejo de ser padre
  • Quantos anos tinha quando entrou?
Prestes a completar 11 anos
  • Quando saiu do Seminário?
No meio do ano de 1.970
  • Quantos anos tinha quando saiu?
15 anos completos
  • Por que saiu do seminário?
Até hoje não sei. Ainda outro dia questionei minha mãe a esse respeito e ela disse absolutamente não se lembrar de nada.
O que me lembro foi que ao final das férias de meio do ano Mons. Bruno, Pe. Faur e Pe. Canoas foram à minha casa. Fiquei feliz com aquela visita. Mas meus pais em um dado momento solicitaram que eu me retirasse da sala, assim o fazendo. Um tempo depois eles me chamaram as visitas já haviam se retirado e por meus pais fui informado que não voltaria ao Seminário. Nada mais me foi dito. Como eu gostava e muito do Seminário tinha sim o desejo de saber e para a minha idade, para a qualidade de verdadeiro “ TONTO – BOBO “ que eu era naquela época, busquei o Sr. José da secretaria para alguma informação. Sai como cheguei, ele disse nada saber. E pelo jeito ficarei assim.
  • O que aprendeu no Seminário?
Muitos foram os ensinamentos adquiridos e muitos somente bem mais tarde são entendidos. Mas uma forma minha, particular de orar, foi lá que adquiri em momentos de profundo sofrimento me esgueirava para a capela ou para a gruta para orar e chorar. Aprendi também como pode realmente algumas pessoas nos usarem de acordo com as necessidades. Ex. Eu não era dos “colegas” mais queridos, no entanto quando passei a ser semi-interno em virtude da possibilidade de estar todos os dias na rua, passei a ser um comprador de cigarros, então eu era aceito entre alguns, mesmo que a contra gosto. Aprendi ainda que o respeito às hierarquias devem ser seguidas e analisadas de forma observada e não discutida, aprendi a ter saudades de pessoas que para mim eram realmente caras e significativas, mas a recíproca não havia
  • O que faltou aprender?
Poxa que saudade, faltou aprender a fazer vasos, faltou aprender encadernação, eram locais que eu amava, mas que era admitido como visitante, tolerada a permanência de um espectador
  • O que fez depois que saiu? Estudou o que?
Fui para o Colégio Pio XII e depois fazer Contabilidade. Fui trabalhar e casar, meio a ordem “natural” das coisas
  • Qual sua trajetória profissional após a saída do Seminário?
Trabalhei em diversas empresas ate passar desde mais ou menos 1.990 a prestar Assessoria Tributaria e Financeira a clientes.
  • Trabalha ainda?
Sim. Continuo com minhas atividades de Assessoria e sou responsável por um setor da editora da ordem a qual pertenço
  • Casou? Tem filhos? Netos?
Casei-me em Maio de 1.977 me divorciando no mesmo mês de 1988. Tenho Um casal de filhos Luiz Gusthavo e Thais Roberta e um neto Lucas
  • Quais as recordações mais marcantes do tempo de Seminário? 
A disciplina ali aprendida a disciplina oferecida por alguns de nossos mestres, pelo menos à época o Pe. Faur era um exemplo, para mim era o homem correto, sempre com uma palavra acertada, o homem forte, Prof. Rui de ciências, não sei se por seu tamanho, mas era uma figura de respeito, o Pe. Daólio com seu modo singular de nos corrigir, falar, embora cite ex-padres, mas eram nossos mestres, eram sacerdotes e meio que ídolos. Mesmo rabugento Mons. Bruno era uma figura de ordem, era a figura do respeito e temor. Com imensa saudade lembro-me do Cônego Luiz, rabugento, bravo realmente, mas havia para comigo um grande carinho, me permitindo ajudá-lo a cuidar dos peixes e daí ganhei meu primeiro apelido no Seminário “ Lambari “. Marcam ainda as nossas refeições, de qualquer forma eram momentos de reunião de alguma liberdade extra de um papo, etc
  • Cite um personagem com quem conviveu na época e que o impressionou positiva ou negativamente. .
Absolutamente positivo o Faur, negativas são tantas as situações pessoas que deixaram marcas, mas que somente bem depois foram entendidas. Creio não valer citar nomes, mas como disse antes, a forma como sai do Seminário, ainda hoje é um mistério, então lá ficaram pessoas que me eram queridas, a recíproca... Busquei essas pessoas mais tarde, em Campinas, em outras cidades a maioria não encontrei, mas foi possível deixar um recado, um contato e nunca obtive uma resposta isto de colegas ou superiores, são coisas da vida e ela segue.
  • Sobrou alguma mágoa? Qual? .
Não creio ser uma questão de magoa, mas um triste sentimento pelas vivencias citadas.
  • Se voltasse no tempo iria novamente para o Seminário? Por que?
Voltar no tempo..............que delicia e sonho de muitos, valeria a pena voltar se me permitido fosse ter ao menos uma ínfima parcela de conhecimento dos acontecimentos. Então dentro desta condição digo:- jamais entraria para o Seminário, mas se voltar no tempo significar voltar a ser exatamente aquele BOBO daquela época, com certeza faria de novo.
  • Quais as principais mudanças que a entrada (e/ou saída) do seminário provocou em você?
A entrada foi uma satisfação imensa, pois foi uma conquista minha, ninguém me mandou ir para aquela escola, etc, desejei ir para o Seminário, prestei um exame, passei e “ CONQUISTEI”. A saída, bem ai as coisas mudam. De forma imperceptível fui passando a desconfiar das pessoas, passando a desconfiar das “autoridades”, que de forma absurda dispõe de nós como peões desnecessários em um tabuleiro de xadrez, aprendi e durante muito tempo ficou intimamente assumida a condição que podemos passar a ser um dejeto qualquer que basta acionar o botão de uma descarga e nos vemos livres dele, a saída muito dura. Somente bem mais tarde pude readquirir o meu equilíbrio de crer que posso conquistar, posso ser, posso ir.
  • Se dedica à Igreja  Católica atualmente?
Não
  • Qual sua relação com a religião atualmente?
Creio que sou um grande Cristão, perdoe a falta de modéstia, mas não necessito da “Igreja” para ser um bom homem, um bom Cristão. Mantenho praticamente todos os hábitos daquela época, pelo menos os que julgo saudáveis, mantenho minhas devoções, orações, meu terço, mas dentro de uma igreja que de uma forma egoísta talvez possa dizer, uma igreja que é minha.
  • Como você compara a sua religiosidade daquela época com a atual?
Uma religiosidade madura, posso ser um Cristão maravilhoso sem a necessidade de estar afundado dentro de uma Igreja ou das comunidades paroquiais, e assemelhados, creio sim ser muito mais religioso hoje, com um profundo e intimo desejo se servir, de ser, de estar só que à minha maneira.
  • Como você compara a Igreja Católica daquela época com a atual?
Depois do Seminário participei de comunidades paroquiais de jovens, TLC e outras afins, não passavam de ponto de encontro para outros compromissos, ostentação de trajes, poderes etc e os dirigentes não se preocupavam com estes fatos, era tudo “legal”, me afastei gradativamente desse meio, vi, testemunhei os absurdos desvios financeiros que ocorriam dentro da igreja, as necessidades que então eu julgava prementes de atendimentos, ficavam a ver navios. Hoje como disse estou fora do meio, mas convivo com pessoas que estão ali pelo meio, e sinto que nada mudou, a Igreja Católica não busca os crentes de alma de coração.muitos Sacerdotes se tornaram Pop Stars, são somente imensos templos sendo construídos mas o recheio..................
  • O que você acha dos rencontros com os ex-colegas dos Seminários de Campinas?
Somente fui convidado para um encontro que ocorreu em 1.977. Mas acredito ser bastante importante, significativo, ali muitos formaram laços e por conseguinte o prazer desses eventos deve ser muito grande. Observei pelas fotos no site a bela organização, a alegria, os momentos dedicados à preservação da religiosidade a importante presença e prestigio que D. Bruno ofereceu, enfim, creio que são muito bons
  • Alguma sugestão?
Não tenho como ter sugestões, somente quem sabe com o tempo.
  • Qual pergunta você gostaria de ter respondido e que não foi feita?
Creio que foi muito bem formulada esta entrevista, não sinto falta de nada, creio até que me excedi nas respostas.
  • Há algum outro endereço na internet que tenha mais informações sobre você? Algum "link" que você queira divulgar?
Meus endereços de contato eletrônico:- ziulmaram@hotmail.com e luizandrade@cinzeleditora.com.br
  • Alguma mensagem especial aos colegas da comunidade ex-SIC?
Tenho saudades de muitos, gostaria sim de rever, papear, mesmo com aqueles que um dia eu não consegui encontrar, ou atravessaram uma rua, ou “não estavam” a um telefonema meu.


Luiz Martins Andrade Filho


Assim conhecemos mais um de nossos colegas compartilhando suas dúvidas, suas emoções, seus sentimentos.

Valeu Andrade!

Agora só me resta conclamar os colegas a escreverem seus comentários, não esquecendo de identificar-se caso comentem como anônimos.