O assunto aqui ainda gira em torno da visita que fizemos aos EX-SIC.
Coloquei essa foto ao lado para ilustrar o título porque cai muito bem. Os amigos que bem conheceram o Seminário podem reconhecer que essa quadra de futebol de salão, na verdade, era aquela que era a quadra de vôley, perto da entrada para as freiras. Observem no fundo o pátio dos menores fechado bem como na lateral o pátio dos médios. Enfim, esse foi o ano de 1969 quando o Seminário foi cortado ao meio, mas o Buraco negro já havia começado. Na foto, eu e o Tio, já em época de solidão.
Mas gostaria de chamar a atenção dos amigos para a tese do Pe. José Eduardo Meschiatti, pela Unicamp ( o link está na página inicial do nosso site). Contando a interessante história da origem dos Seminários Tridentinos ele entra na história dos seminários em Campinas. O nosso foi o último e por ironia do destino, o mais bem planejado e construído mas já era final de uma era e ele não chegou aos vinte anos. Como sempre dizemos e ele também na tese, se D. Paulo de Tarso Campos visse hoje, com certeza haveria de chorar, não só pelo Seminário mas pelos rumos que tomaram a Educação Religiosa.
O que me chamou a atenção e chamei de "buraco negro" é algo que a gente sempre nota. Quase todos omitem a sua história curricular passada no Seminário. Logo se começa pela faculdade. Outro dia vi na tv o Pe. Magalhães que ao descrever sua vida logo foi direto para a Filosofia. Oras bolas, a adolescência e princípio da juventude, são 10 anos mais incríveis da vida de um ser humano e ele omite.... Na tese também o Pe. Eduardo descreve a vida interna do Seminário nos tempos dos outros seminários e ressaltando os ítens que realmente eram muito curiosos e até extravagante, na vida interna. Mas no nosso SIC isso tudo já estava amenizado e por um breve tempo chegou a um ponto "ideal", entre a dureza e a moleza. Mas ele não aborda isso. Pulou logo para a história daquela "casa de formação", a primeira experiência fóra do Seminário. E dali, invitavelmente, minucia os fatos que lançaram os "seminaristas" pelas ruas afora.... É bom dizer que está na tese nomes da turma, inclusive dopoimentos deles. São: o Sérgio Cardoso (nosso querido Bolinha), Antoniazzi (Boi), Gabriel (Bié), Venturoli (Patinhas). Entraram no SI em 1959 no admissão ou em 1960 na 1a.série.
Mas o que aconteceu com o SIC entre 1967, início das mudanças e 1973, quando foi totalmente desativado?
Esse foi um buraco negro que ninguém conta. Mas eu escrevi um "livro" a esse respeito, tipo romance histórico. Primeiramente, o que as pessoas que passavam diante daqueles quatro enormes muros imaginavam sobre a vida que havia lá dentro. Depois, a vida da comunidade e como ela era o sustentáculo de cada um. Como era passar dias e noites, meses e anos cuidando de si próprio. Das micoses (rsrsr...) até as epidemias... Da saudade e da renúncia e do apoio que cada um encontrava nos amigos. Mas foi então que entramos nessa era pós-concílio que desmontava os Seminários. Em 1967 começou o sistema de semi-internato, e perdíamos os amigos nas atividades da noite e nos fins de semana. Acabou-se o Colegial e com ele toda aquela vida rica na convivência com os ilustres mestres. Em seguida metade do prédio foi cedido para o Cursilho. Aos domingos abriam-se os portões dos fundos e o bairro inteiro invadia os campos. O Sebastião Piacente, liderava a Paróquia e organizava campeonatos, a comunidade do bairro passou a usar o auditório, etc... E nós ? Apostolado! A maioria desaparecia ou ia para casa sob o pretexto de apostolado. E o pior então, o colégio Pio XII. De repente, dar de cara com tantas formosuras, na flor da idade, em tempos de efervescências juvenis, foi demais... justamente para quem aquilo tinha que renunciar. Era no mínimo contraditório. Mas quem ligava? O pretexto vinha sob o tema "Integrar-se ao mundo". E se em regime de internato era difícil chegar ao fim, imaginem quando a porta se abriu. Passou boi, passou boiada. Foi uma farra. Todos gostaram e até foi um tempo legal, mas na hora de tomar um rumo, o rumo já estava traçado: adeus. Foram 7 anos de desmonte do SIC, que representaram o período negro. A comunidade era fictícia, não se organizava nada, apenas as classes que restaram promoviam algumas coisas em comum. Até a missa não era mais obrigatória. O nosso maior ponto de encontro passou a ser a sala de recreios que se instalou no estudão de baixo. Com tv, uma vitrolona, alguns jogos, uma pequena biblioteca de seleções, acho que a mesa de bilhar e mais nada. Os esportes eram apenas brincadeiras e resumindo, o SIC passou a ser mais uma pensão.
Esperava-se que o tempo passasse e cada um tomasse seu rumo. Alguns que insistiram em continuar mesclaram-se com a Nata que vinha chegando. Eram jovens que já vinham com 1o. grau, cheios de experiências e eram tratados como o futuro da Igreja. De repente nós, antigos, parecemos descartáveis, como se algo faltasse em nós ou se carregássemos algum estigma do passado. Não estou dizendo isso como crítica aos amigos dos novos tempos, porque se tornaram nossos grandes amigos, mas trata-se de uma análise histórica. Também isso já é passado e não cabe mais nenhuma crítica ou qualquer forma de julgamento. São apenas lembranças que espero que ninguém se magoe com isso. Os tempo passa e a vida e a civilização são mutáveis e a gente precisa saber ir absorvendo os que vem atrás da gente. O choque de gerações sempre traz revisão de valores e para quem já tem experiências é possível notar se erros estão sendo repetidos ou se realmente são novos valores colaboram para a evolução ou a degradação do sistema que nos sustenta.
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