Em DIÁLOGO, em que você conta a visita ao ex-SIC, você fala da casa chamada EREMON, desconhecendo o seu sentido. Simples, vem do grego, sua lingua materna, erhmos que significa deserto. Desde o Antigo Testamento, era o deserto tido como lugar privilegiado de oração e de encontro com Deus. O despojamento exterior do deserto leva a pessoa a se esvaziar de si, encontrar-se consigo e com Deus. Eremitas vem daí e em português temos ermo. Despojamento, solidão, silêncio, tudo o que caracteriza uma casa de retiros.
Um abraço,
Chiavegato
Um abraço,
Chiavegato
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Grego,
respondendo ao seu e-mail, quem organiza nossos encontros, sem agenda estabelecida, é o Mário Faria. Não há encontro em perspectiva, por agora. O último foi no meu sítio, mulheres incluídas. Fique tranqüilo, qualquer coisa, você será convidado. Nossa turma é bem mais velha que a de vocês, embora uns dos nossos estejam comparecendo, como Vanin e Arlindo. Nossa turma vai de 46-47-48- até 54, tempo em que o Seminário era de Nossa Senhora Aparecida. Seminário Novo, nós o vimos ser construído, tijolo a tijolo, sob nossos protestos, uma vez que, conduzidos por Padre Matheus, éramos obrigados a sacrificar futebol e piscina por um passeiozinho até o seminário em construção. Como Moisés, conduzimos o povo e vimos ao longe a Terra Prometida, sem nela nunca entrar. Você teve outra sorte, mas a nossa, por nada deste mundo a troco, porque foi a minha e muito legal
Um grande abraço,Chiavegato
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Grego,
para a história.
Estudei nos anos de 48 e 49 no Seminário Menor Nossa Senhora Aparecida. Avenida Saudade. Prédio construído por Dom Barreto, antes de 1941, ano em que o mesmo morreu. Foi o primeiro seminário construído em Campinas. Antes, Dom Nery mantinha o seminário onde era seu Palácio, no Largo do Pará. Não sei se o prédio ainda está lá.
de 50 a 54 estudei no Bosque, junto ao Colégio Diocesano, hoje Pio XII. O seminário continuou a se chamar NOSSA SENHORA APARECIDA.
Nessa época, até 54, construiu-se o Seminário da Imaculada. Segui tijolo a tijolo de sua construção. O terreno foi doado pela família de minha professora no 4o. ano primário, Zoé de Campos Valente.
Minha turma de 1948, 54 alunos. Alguns: Magalhães, Ambiel, Arley Zaratini, Laerte Macedo, Mário Faria, Antonio Carlos Nogueira de Souza etc...
Só, por ora.
Grande abraço,
Chiavegato
para a história.
Estudei nos anos de 48 e 49 no Seminário Menor Nossa Senhora Aparecida. Avenida Saudade. Prédio construído por Dom Barreto, antes de 1941, ano em que o mesmo morreu. Foi o primeiro seminário construído em Campinas. Antes, Dom Nery mantinha o seminário onde era seu Palácio, no Largo do Pará. Não sei se o prédio ainda está lá.
de 50 a 54 estudei no Bosque, junto ao Colégio Diocesano, hoje Pio XII. O seminário continuou a se chamar NOSSA SENHORA APARECIDA.
Nessa época, até 54, construiu-se o Seminário da Imaculada. Segui tijolo a tijolo de sua construção. O terreno foi doado pela família de minha professora no 4o. ano primário, Zoé de Campos Valente.
Minha turma de 1948, 54 alunos. Alguns: Magalhães, Ambiel, Arley Zaratini, Laerte Macedo, Mário Faria, Antonio Carlos Nogueira de Souza etc...
Só, por ora.
Grande abraço,
Chiavegato
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O PAPA E EU
a. j. chiavegato
Eram tempos de entusiasmos de uma teologia adolescente em portas de Concílio, ele, meu amigo, Ratzinger, o perito. Eu acompanhava Dom Paulo, arcebispo de Campinas, em idas e vindas conciliares, eu perito? Não, carregador de pasta, nomeado por sumiço do secretário em gozos turísticos. Praça de São Pedro, as gentes-formigas, a missa de abertura, padres e bispos a dar com pau, Vem, Espírito Santo, dá um jeito! – rezava-se e os encontros na Domus Mariae onde se reciclavam os bispos, uns ainda em poeiras tridentinas. Por lá estivemos, meu amigo Ratzinger, bom teólogo, mas ainda sem as oportunas famas.
Pelos anos 1959-61, de novo juntos. Ele, professor de teologia em Bonn e eu em passeios. Bonn não era grande, o que tornava possível tê-lo encontrado em livraria, Grüss Gott, Vater!, em igreja, onde concertos se davam, não perdia um, em sendo de graça, ou em fundos de igrejas onde rezava, sendo de boas piedades naquele tempo. Ou, quem sabe, em missa que celebrasse, eu assistindo? Ou, na feira, no centro, ao lado da igreja? Um dia, ao portal da Universidade, um atropelamento. Cruzes, subiu dois metros acima e estatelou-se, ao chão dando as costas e virando alma. Vi o ajuntamento do povo. Não era padre ainda, não cuidando de extremas-unções, ali jazente o morto e as muitas piedades, coitado! em caras alemãs, que coisa! – dizendo uns, era jovem, fosse casado, pai?, não se sabia, em estáveis silêncios o que ali estava e já se tendo ido pro lado de horizontes cinzas e frios. Não sei se à vítima acudiu meu amigo Ratzinger em serviços sacerdotais, animando-o nas últimas viagens. Se com ele me encontrar, vou disso lhe falar. Se por la estava, vai se lembrar, ah vai! que coração de homem não esquece morte que pelos caminhos da vida encontrou. De todas me lembro. A primeira, de meu avô. Tinha sete anos. Dela guardo dia, hora e outras circunstâncias, meu avô ali, o imóvel, mãos uma sobre outra, de que cuidara minha mãe detestando defunto de mãos postas, fosse rezar. Nada de terço – dizia. O inútil enfeite! – essa, minha mãe, as sábias inflexibilidades. Outra morte, pouco após logo se deu, acompanhando o vigário em bênção de defunto, eu carregando livro e água benta. À sala, o morto, solene e enorme em caixão preto de franjas douradas, em cima de mesa, em alturas a dele não se ver mais que mãos, as enormes mãos, amarelas feito cera, entrelaçadas em orações vespertinas, fosse ainda manhã. E assim, de morte em morte, acostumei-me às tristes horas. Cumpre-me aqui registrar uma, acontecida nessa época de que estou falando, eu já padre, coadjutor em paróquia de Colônia. Toda tarde ia entreter velhos com presença e canções, eles lá em papos, chá e bolachas, lembrando os passados tempos e os a vir, os de curtos futuros. Lá conheci um velho que dias depois teve um ataque cardíaco. Em não existindo ainda UTI, era ficar em casa e em cama, encolhidinho, rezando para distrair a pressa de Deus. Nessa hora das difíceis esperanças, foram-me chamar. Que levasse violão – o dele pedido, os santos óleos e a comunhão. Fui, caia neve em grandes silêncios, eu mais violão em ombro pendurado, a hóstia contra o peito e os óleos. Confessou os nenhuns pecados, comungou, ungi-lhe mãos e pés para a caminhada. Peguei o violão e cantei. Ele sorria translúcido. Na manhã do dia seguinte, fui ao enterro do meu amigo, ex-funcionário da companhia de transportes de Colônia. O coral dos funcionários dele se despedia, “Ich hatte einen Kamerade” – a canção que cantavam, a história de dois companheiros na guerra. Veio uma bala e levou um, e chorava o que ficou, como se a mim também me tivesse levado. O papa conhece essa canção e já a cantou. Em cemitério, em enterro de amigo, todo mundo vestindo preto, o dia escuro e a neve caindo, deve ter chorado que a cara de vovó dele só autoriza ternuras. Juro, que se encontrá-lo, pego o violão e vamos cantar, não a morte, mas a vida que levamos em Bonn, o papa e eu, os caminhos cruzados sem encontro. Longes tempos! Ele ainda não era conhecido. Eu já era desconhecido. Grüss Gott, Vater!
a. j. chiavegato
Eram tempos de entusiasmos de uma teologia adolescente em portas de Concílio, ele, meu amigo, Ratzinger, o perito. Eu acompanhava Dom Paulo, arcebispo de Campinas, em idas e vindas conciliares, eu perito? Não, carregador de pasta, nomeado por sumiço do secretário em gozos turísticos. Praça de São Pedro, as gentes-formigas, a missa de abertura, padres e bispos a dar com pau, Vem, Espírito Santo, dá um jeito! – rezava-se e os encontros na Domus Mariae onde se reciclavam os bispos, uns ainda em poeiras tridentinas. Por lá estivemos, meu amigo Ratzinger, bom teólogo, mas ainda sem as oportunas famas.
Pelos anos 1959-61, de novo juntos. Ele, professor de teologia em Bonn e eu em passeios. Bonn não era grande, o que tornava possível tê-lo encontrado em livraria, Grüss Gott, Vater!, em igreja, onde concertos se davam, não perdia um, em sendo de graça, ou em fundos de igrejas onde rezava, sendo de boas piedades naquele tempo. Ou, quem sabe, em missa que celebrasse, eu assistindo? Ou, na feira, no centro, ao lado da igreja? Um dia, ao portal da Universidade, um atropelamento. Cruzes, subiu dois metros acima e estatelou-se, ao chão dando as costas e virando alma. Vi o ajuntamento do povo. Não era padre ainda, não cuidando de extremas-unções, ali jazente o morto e as muitas piedades, coitado! em caras alemãs, que coisa! – dizendo uns, era jovem, fosse casado, pai?, não se sabia, em estáveis silêncios o que ali estava e já se tendo ido pro lado de horizontes cinzas e frios. Não sei se à vítima acudiu meu amigo Ratzinger em serviços sacerdotais, animando-o nas últimas viagens. Se com ele me encontrar, vou disso lhe falar. Se por la estava, vai se lembrar, ah vai! que coração de homem não esquece morte que pelos caminhos da vida encontrou. De todas me lembro. A primeira, de meu avô. Tinha sete anos. Dela guardo dia, hora e outras circunstâncias, meu avô ali, o imóvel, mãos uma sobre outra, de que cuidara minha mãe detestando defunto de mãos postas, fosse rezar. Nada de terço – dizia. O inútil enfeite! – essa, minha mãe, as sábias inflexibilidades. Outra morte, pouco após logo se deu, acompanhando o vigário em bênção de defunto, eu carregando livro e água benta. À sala, o morto, solene e enorme em caixão preto de franjas douradas, em cima de mesa, em alturas a dele não se ver mais que mãos, as enormes mãos, amarelas feito cera, entrelaçadas em orações vespertinas, fosse ainda manhã. E assim, de morte em morte, acostumei-me às tristes horas. Cumpre-me aqui registrar uma, acontecida nessa época de que estou falando, eu já padre, coadjutor em paróquia de Colônia. Toda tarde ia entreter velhos com presença e canções, eles lá em papos, chá e bolachas, lembrando os passados tempos e os a vir, os de curtos futuros. Lá conheci um velho que dias depois teve um ataque cardíaco. Em não existindo ainda UTI, era ficar em casa e em cama, encolhidinho, rezando para distrair a pressa de Deus. Nessa hora das difíceis esperanças, foram-me chamar. Que levasse violão – o dele pedido, os santos óleos e a comunhão. Fui, caia neve em grandes silêncios, eu mais violão em ombro pendurado, a hóstia contra o peito e os óleos. Confessou os nenhuns pecados, comungou, ungi-lhe mãos e pés para a caminhada. Peguei o violão e cantei. Ele sorria translúcido. Na manhã do dia seguinte, fui ao enterro do meu amigo, ex-funcionário da companhia de transportes de Colônia. O coral dos funcionários dele se despedia, “Ich hatte einen Kamerade” – a canção que cantavam, a história de dois companheiros na guerra. Veio uma bala e levou um, e chorava o que ficou, como se a mim também me tivesse levado. O papa conhece essa canção e já a cantou. Em cemitério, em enterro de amigo, todo mundo vestindo preto, o dia escuro e a neve caindo, deve ter chorado que a cara de vovó dele só autoriza ternuras. Juro, que se encontrá-lo, pego o violão e vamos cantar, não a morte, mas a vida que levamos em Bonn, o papa e eu, os caminhos cruzados sem encontro. Longes tempos! Ele ainda não era conhecido. Eu já era desconhecido. Grüss Gott, Vater!
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