sábado, 18 de dezembro de 2010

"Achava que por ser seminário todo mundo era "santinho" (inclusive eu)"


Hoje a publicação será em formato diferente. O entrevistado optou por escrever  de tal maneira que a pergunta seja deduzida a partir de resposta. Para simplificar ele numerou cada uma.

Mas, independente do formato podemos acompanhar a profícua trajetória e as reflexões de mais um dos nossos colegas de comunidade.

Embora única, como todas, há algumas semelhanças com a do entrevistado anterior (Chico Fumaça). Ambos nasceram na mesma cidade, foram contemporâneos no ex-SIC e escolheram o mesmo estado para morar na atualidade.

Assim ficou bem mais fácil vocês saberem, desde já, sobre quem estamos escrevendo. Não? Então, mais uma pista: seria ele de alguma tribo específica?

Confiram abaixo.

1) Entrei para o ex-SIC no dia 23 de março de 1960.

2) Na época pertencia a paróquia de Santo Antonio de Americana-SP.

3) Entrei para o seminário pois desde criança tinha o desejo de ser padre e também fui incentivado por mons. Nazareno Maggi pároco em Americana naquela época.

4) Eu tinha 12 (doze) anos quando ingressei no seminário.

5) Sai do seminário no final do primeiro semestre de 1963.

6) Estava com 15 (quinze) anos quando sai do seminário.

7) Eu pretendia continuar no seminário mas fui dispensado sob alegação que deveria primeiro cuidar da saúde. Tentei retornar mas sem sucesso.

8) Fora o aprendizado religioso e ensino básico o período que passei no ex-SIC foi muito proveitoso para o meu amadurecimento.
Quando entrei no ex-SIC, devido minha origem humilde, eu era um tanto ingênuo. Achava que por ser seminário todo mundo era "santinho" (inclusive eu).
Eu tinha apelido de Cacique. Não sei no que se baseou o inventor do mesmo que foi o José Arruda Lodi.
Mas eram comuns os apelidos no ex-SIC como Bolinha, Boi, Bié, Chico Fumaça etc.
Quanto ao ensino básico guardo gratas recordações das aulas de latim com pe. Longhi e aulas de matemática com pe. Sena.
Muitos ex-seminaristas alegam que as aulas de matemática com pe.Sena eram "crueis".
Sinceramente eu não achava, não que eu fosse um "expert" em matemática. Já no curso ginasial o nível era bem mais "pesado".

9) Na época não tínhamos acesso a jornais, revistas, e TV (a não ser jogos de futebol).
Na minha opinião deveríamos estar mais atualizados com a realidade nacional e mundial.

10) Depois que saí do seminário conclui o antigo curso ginasial e 2º grau no Instituto de Educação Presidente Kennedy em Americana.
Posteriormente fiz ciências contábeis na PUC de São Paulo.

11) Trabalhei no campo até 1966 quando consegui um serviço de auxiliar de contabilidade em uma empresa têxtil de Americana.
Em São Paulo inicialmente fui assistente contábil em uma financeira e posteriormente contador e auditor em empresa construtora.
Sai da empresa em 1995 e fui sócio de escritório de contabilidade em Jaragua do Sul-SC até 2004 quando aposentei.

12) Embora aposentado continuo prestando serviços eventuais em convênio com escritório de contabilidade.

13) Fui celibatário seguindo o conselho de São Paulo ( 1Cor 7,8) até 9-4-1994 quando conheci minha esposa a Maria Besen em Jaragua do Sul-SC.
Casamos em 17-6-1995. Não temos filhos.

14) A recordação mais marcante do tempo de ex-SIC foi a vida em comunidade, a disciplina , o ensinamento religioso e as aulas proferidas por personagens que ficaram na história como con. Luiz de Campos, Pe Sena, Mons. Luiz Fernandes de Abreu e outros.

15) Muitos personagens me impressionaram (sempre de forma positiva é bom que se diga). Contudo quem mais me impressionou durante o período que estive no ex-SIC foi sem dúvida mons. Luiz Fernandes de Abreu com quem mantive ainda contato posteriormente quando foi transferido para Iracemápolis-SP.
Da parte dos companheiros não poderia deixar de lado os amigos da minha terra natal como o João Antonio Bertier e o Paulo Bonganhi (o famoso Chico Fumaça). Muitos outros poderia citar como por exemplo o atual professor de teologia da PUC-Campinas pe. Benedito Ferraro.

16) Não guardo mágoas e sim considero que houve alguns fatos que me surpreenderam na época mas que posteriormente me serviram de lição.

17) Se voltasse no tempo iria novamente para o ex-sic porem já amadurecido e sem depender dos pais e paróquias.

18) Como já informei o principal fator foi o meu amadurecimento sob ponto de vista psicológico e espiritual.

19) Atualmente juntamente com minha esposa prestamos serviços eventuais na Igreja Católica.

20) Participo sempre com minha esposa das missas bem como de outras cerimonias.

21) Quanto a minha religiosidade a principal mudança prende-se a reflexão da fé. A fé é um dom de Deus que exige e aperfeiçoa a inteligencia e não apenas a mente ou imaginação. Como virtude sobrenatural constitui graça divina que supõe, exige e aperfeiçoa a inteligencia e o coração ou mente . Fé sem reflexão é ingenuidade ou fanatismo. Hoje aprendi: não aceitar explicações do outro mundo quando existem deste, não aceitar métodos de indução psicológica ou de alienação, discernir e só ficar com o que é bom e verdadeiro (1Ts 5,21), ser simples como a pomba e prudente como a serpente (mt.10,16)
Hoje leio muito mais que naquela época. Apenas para citar alguns autores: João Batista Libanio, Renold Blank, pe. Leo Pessini, Maria Clara Bingemer, pe. Benedito Ferraro, Frei Antonio Moser, Alselm Grun, Frei Ovídio Zanini (professor de teologia e filosofia por 25 anos em seminários maiores).

22) A Igreja Católica naquela época se preocupava muito com a parte legalista e litúrgica. Hoje a Igreja Católica reconhece os erros do passado e humildemente perde perdão. Hoje a Igreja Católica prega Jesus Cristo como fonte de vida, solidariedade, libertação e salvação convidando a sociedade a buscar caminhos de libertação dos pobres e excluídos. Também um grande passo que a Igreja Católica deu foi a abertura ao ecumenismo promovendo o diálogo intercristãos.

23) Acho os reencontros com os ex-colegas uma excelente oportunidade de rever os amigos daquela época .

24) Que tal marcarmos um dia de confraternização aqui em Florianópolis? Contudo se o encontro for em outro local terei o prazer de participar.

25) Creio que as perguntas foram suficientes para responder vários assuntos.

26) Somente endereço na internet (miza@aradio.com.br).

27) Um abraço fraterno a todos os amigos do ex-SIC e que possamos um dia nos reencontrar. A amizade é como o sol que ilumina a vida da pessoa. Já dizia o filósofo romano Marco Túlio Cícero: "Tiram o sol do mundo aqueles que tiram a amizade da vida".
Um Feliz Natal, Um Prospero Ano Novo, e que Deus os abençoe.

Obrigado mais uma vez!

Mizael de Toledo

E então? Que tal um encontro em Floripa?

Tal como ele eu também lhes desejo um Feliz Natal, com muita alegria, muita paz, reflexão e que todos os objetivos para 2011 possam ser concretizados.

Esta entrevista é a última a ser publicada este ano. Os 2 próximos finais de semana não terão entrevistas publicadas. Mas nada impede que vocês comentem. Aproveitem a reflexão sobre a fé que o Mizael expressou e compartilhem suas opiniões com os colegas.

Os comentários serão sempre muito bem vindos. Só peço que identfiquem-se caso comentem como anônimo.

Lembrem-se também que podem comentar utilizando nosso grupo no Facebook, Inte(g)ração. A diferença é que lá seus comentários terão alguma privacidade, pois serão lidos apenas por quem inscreveu-se no grupo. Ou seja, apenas os da comunidade ex-SIC.

Até o final da 1a. semana da 2a. década do 3o. milênio. Resumindo: 8/Jan/2011

José Reinaldo Rocha(62-67)

3 comentários:

  1. Mizael, se vc tivesse continuado até o fim no SIC seu destino não seria muito diferente pois quando chegou a vez da turma de 60 pensar realmente em ser padre foram desvirtuados pelo mundo afóra e foi o fim do SIC. Por consequência estão por aí como grandes cidadãos. - Em 1960 ir para o Seminário ainda era algo honroso para as famílias. Acreditavam ainda, doar um filho para Deus e assim fazendo a Igreja passaria a cuidar dele. Eu e meus pais também nos sentíamos assim.
    É interessante ver como colegas como você, que ficaram apenas alguns anos tem ainda grande consideração pelo Seminário.
    grego

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  2. Boa noite, Misael, tudo azul? É a tal coisa, ser cristão e não estudar, não refletir sobre, realmente fica muito volúvel. Gostei muito de ter lido sua entrevista. Vc disse sobre a nova maneira de a Igrejas encarar hoje, sua caminhada, voltada para a Teologia da Libertação(vc não usou esse termo, mas deu a entendser)com menos ênfase para a Liturgia. Depende de que prisma vc está considerando, mas eu vejo como ela está bem ciosa da Liturgia e uma Liturgia vivenciada. É através da Liturgia que a gente ganha forças, reabastece-se para a ação neste mundo tão conturbado, campo de nossa missão. Ela leva à reflexão e a reflexão alimenta a fé que fortalece nossa caminhada.Seu raciocínio foi muito bom e eu curti bastante.
    É isso aí, amigo, eu quero retribuir a vc e sua família, meus votos de um Santo e feliz Natal, bem diferente do natal consumista de um mundo ainda carente de Deus. Um Ano novo, bem catarinense para você.
    Meu abraço.
    Lúcio

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  3. Misael: Voce estava saindo do Seminário e nessa mesma época eu estava entrando.
    Ressalvo e concordo contigo quanto ao item 8.
    Parabéns por todo o conteúdo.

    abraços,

    DURVAL 63- 65.

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