- Quando entrou para o ex-SIC?
1959, no 5º ano; em 1960 fiz o 6º ano; foram os em que lá estive, advindo da diocese de Petrópolis, onde entrei em 1954, junto com Júlio Guimarães de Almeida (falecido ) e Marcondes Rosa de Sousa (morando hoje em Fortaleza, entrevista de 12/06/2010).
Duque de Caxias, Baixada Fluminense, da paróquia de S. Antônio, centro.
- Por que entrou para o seminário?
Desde cedo, levado por minha mãe, encantavam-me luzes, ritos, vestes, na igreja; com 11 e 12 anos era coroinha. Apareceu lá, à procura de vocações, o então reitor do seminário de Petrópolis (era dezembro); em janeiro estava dentro.
- Quantos anos tinha quando entrou?
18, no ex-SIC. 13, em Petrópolis.
No final de 1960 (saímos os três); sozinho, recebi a batina no 08 de Dezembro. Saí do seminário maior em Março de 1962
- Quantos anos tinha quando saiu?
17, 19, 21, respectivamente.
- Por que saiu do seminário?
Um acúmulo de fatores; entre eles: fé arrefecida; desânimo em tarefas evangelizadoras; discordância no "modus faciendi" em algumas questões; uma paixãozinha por uma ex-colega de infância...
- O que aprendeu no ex-SIC?
Mais do que o fator intelectual, os fatores morais: retidão de caráter; responsabilidade; honestidade; valorização do outro; senso do dever; coerência entre pensar e agir...
A vida ensinou: respeito aos diversos pensamentos e convicções; não ser o dono da verdade (aliás, eu poderia ser definido como um conjunto de interrogações); consciência da necessidade do trabalho...Nossa educação era um tanto afastada da realidade (não tínhamos maldade alguma; até hoje resta algum resquício disto...).
- O que fez depois que saiu? Estudou o quê?
Fui para o magistério em cursos e escolas das cidades da baixada fluminense.
- Qual sua trajetória profissional após a saída do ex-SIC?
Fiz o serviço militar com 22 anos (63/64). Saí e tive autorização pª lecionar; de 66 a 69 fiz português-literatura, na Gama Filho; formado, trabalhei no ensino público e particular até me aposentar no ano passado, tendo feito pós-graduação em linguística em 89.
Agora sou dono do meu tempo, andando à procura de quem disse que aposentadoria leva à depressão (para rir na/da cara dela)...
- Casou? Tem filhos? Netos?
Comecei a namorar Vilma em 66 (fora minha aluna em 62); casamos em 67; Valéria nasceu em 68 e é solteira até agora; ela foi criada com um casal de primos; a menina nos deu um sobrinho-neto (13 anos), o garoto...desgarrou-se no mundo...sei da existência de três filhos; faleceu em abril último com 39 anos. Há ainda o André, um ex-colega da Val (nossa filha). Ele estava sozinho velando o corpo de sua mãe na capela; só Vilma compareceu e com ele ficou; tinha 30 anos então. Nos adotou como pais a partir daí. É muito chegado a nós e carinhoso. Seu filho Gabriel (10 anos) nos trata de VÔ e VÓ. São 43 anos de casamento...
- Quais as recordações mais marcantes do tempo de ex-SIC?
As melhores são esportivas. Entrei logo na seleção de futebol. No 1º semestre jogávamos com roto uniforme são paulino; estreamos o azul e branco no 2º (presenteado p/Sr Luís (ver fotos). Até o final de 60 ganhamos 19 jogos, perdemos três (2 p/ o seminário maior de Aparecida-4x2 e 4x3), nenhum empate. Há pouco o Fuzaro me classificou de "motorzinho"...O time: Osmar; Moraes, Butti, Fuzaro e Nereu; Pe. Vanin, Cardin (o Mataruna p/alguns), Paulista (Ruiz Valverde); Paulistinha (Zé Dias Valverde), Naves e Paco (Espanhol)... Entravam: Nadai, Vicentim, Maróstica...Ming era um alto e bom 2º goleiro. De certa feita o Pe. Vanin nos leu, no refeitório, matéria de um jornal sobre um jogo contra nós, elogiando os jogadores locais, mas sem evitar a derrota para o brilhante time do seminário (5x2 )... Dormindo, continuo dando os meus chutes...
Outros fatos: Espetáculo de marionetes (Adorno lembrou-se também) -Concerto de acordeon por Paolo Gandolfi -Teatro e apresentação musical em Americana (onde estará o pianista Ricardo?) -A orquestra feminina de cordas com 80 violões de escola (NORMAL?) campineira...Todas as meninas de branco, com seus instrumentos a tiracolo...LINDO! - As atividades acadêmicas.
- Cite um personagem com quem conviveu na época e que o impressionou positiva ou negativamente.
Pe. Vanin: contacto direto e diário. O apreço e estima levou-me a encontrá-lo em Matão, por onde passei para abraçá-lo, quando em viagem pelo interior paulista, há uns 10 anos.
- Sobrou alguma mágoa? Qual?
Não; porém não encontrar os amigos com os quais convivi lá, foi frustrante, durante muito tempo.
- Se voltasse no tempo iria novamente para o ex-SIC? Por que?
A única forma de voltar no tempo são as recordações... Foi um belo período de vida, cuja valorização é posterior, como soe acontecer.
- Quais as principais mudanças que a entrada (e/ou saída) do seminário provocou em você?
Fui privilegiado. O que me tornei ou consegui está tudo construído em cima daquela formação que, como filho de pessoas pobres, não teria. A amizade de vocês é outra riqueza notável!
- Se dedica à Igreja Católica atualmente?
Quando me perguntam isto, digo que tenho formação católica. Afastei-me da prática, não da essência. Passei por grande drama de consciência na criação dos filhos, neste aspecto (Se não dava o exemplo, como fazer?). Deixei-os na mão de Deus.
- Qual sua relação com a religião atualmente?
Julgo que nossas ações nos (re)ligam ou (des)ligam de Deus. Méritos e deméritos serão levados ao "post-mortem". Sabemos o maior dos mandamentos, é só colocá-lo em prática. DELE espero a misericórdia de um pai...
- Como você compara a sua religiosidade daquela época com a atual?
Se se pudesse ver as conturbações internas, não teria sido escolhido presidente da Congregação Mariana. A frase "Senhor, eu não sou digno" marcou-me profundamente (deixei de participar da comunhão eucarística). Claro que vocação...Combalida a fé, seguiram-se anos de dúvidas, procuras, estudos...Nada novo; tudo incertezas. Evitando fundamentalismos, foi de bom alvitre, pelo menos, (con)viver com os ensinamentos morais adquiridos. No passado era pura aceitação, agora...(A fé não é um dom?...) Como disse ao Aloísio: fico feliz pelo amigo que encontra a paz de espírito em sua religião...Feliz pelo Fuzaro e Conceição...
- Como você compara a Igreja Católica daquela época com a atual?
Vivi a época de João XXIII, voltado para o social. Seus sucessores retroagiram em relação à tal abertura, e as mudanças: a passo de tartaruga, em contraponto às da sociedade moderna, com novos conhecimentos e mudanças vertiginosas. Existe o jogo: prudência x atualização, e seus respectivos torcedores.
- O que você acha dos reencontros com os ex-colegas do ex-SIC?
Que pergunta, heim? Isto já está nas entrelinhas acima! A iniciativa do Grego foi maravilhosa! Joguemo-lo para o alto! Ele entrou para a história!
Sim, talvez advinda dos 43 encontros dos antigos alunos do seminário de Petrópolis, feitos lá, no último final de semana de julho. Sou o coordenador do Rio-Baixada, uma das diversas regiões, que têm suas datas próprias de encontro. CONSEGUIR O COMPROMETIMENTO DA DIOCESE, DO ATUAL REITOR, DO SEMINÁRIO, com os nossos encontros. Perceba-se que eles são hoje o que nós fomos ontem, e eles serão amanhã o que nós somos hoje...Em S. Paulo há uma "célula" ex-SIC; outras cidades poderiam fazer o mesmo.
- Qual pergunta você gostaria de ter respondido e que não foi feita?
Há empenho nosso em tentar contactar ex-SIC?
Do longínquo Rio de Janeiro encontrei e fui encontrado! Vanin, Fuzaro, Severino, Marcondes...
- Há algum outro endereço na internet que tenha mais informações sobre você? Algum "link" que você queira divulgar?
O Aloísio me encontrou no ORKUT (mesmo e-mail). Coloco-me à disposição através dos número de telefone que estão na lista de contatos do ex-SIC. Meus préstimos à disposição de todos.
- Alguma mensagem especial aos outros ex-SIC?
Agradeço por voltarem a fazer parte da minha vida, contemporâneos ou não. Valorizem os dias dos encontros, porque sua presença é valorizada por muitos!
Sebastião Mataruna Cardin
A valorização dos encontros com os colegas ele traduz em coordenação de um grupo deles. Espero que mais colegas aceitem sua sugestão de formar mais "células" de ex-SIC, além da "Pizza do Paierão", em São Paulo.
Aproveitem comentar este e outros temas abordados pelo Cardin. Só lembrando que, caso comentem como "anônimo", identifiquem-se, por favor.
Semana que vem tem mais...
J. Reinaldo Rocha (62-67)
Querido Sebastião
ResponderExcluirPara sintetizar meu conceito:
Você representa: amizade sincera, personalidadde marcante, presença necessária,
Agradeço a Deus pela sua existência e a você pela consideração, pela amizade e pela saudade constante. Tenho no meu coração indeletáveis lembranças da nossa convivência, de nossos encontros e da sua visita ao meu reino encantado. Sua entrevista é nota 1000.
Aloisio
Aí, seu Matarunaaaaa! Eu gosto sempre de ler as entrevistas, cuidadosamente, sem dar uma espiadinha no final para ver quem é e, assim o fiz, achando que não seria você! Claro, no começo estava até certo de que era você, mas com muita artimanha, falando dos integrantes da seleção( Como o Seminário jogava bonito!)você citou tanta gente querida e que aflora na minha mente à medida que vou lendo, mas você citou também o Sebastião Mataruna Cardim. Então...Parece um sonho, não é? Um sonho bom, mas que deixou rastros de luz que ainda continua iluminando as nossas mentes.
ResponderExcluirVocê é um filósofo e o filósofo questiona sempre e desse questionamento a mente vai se purificando de tantos conceitos relativos, não é mesmo?
Foi um prazer, Mataruna, ler sua entrevista. Dou-lhe a nota máxima, a mesma do Aluízio, MIL.
Um abraço caloroso com os votos de um santo e feliz Natal, e aquela paz tão querida para o Rio de Janeiro.
Lúcio
Caro Sebastião,
ResponderExcluirComo o Lúcio, procuro ler cuidadosamente as entrevistas dos ex seminaristas, contemporâneos ou não, sem cair na tentação de olhar ao final de quem se trata.
Você merece toda a admiração da minha parte por todas as suas colocações, abrindo seu coração quanto aos anseios, dúvidas e crises.
Não o vi jogar (entrei no ano seguinte à sua saída) mas torci muito pelo Moraes, Butti, Pe. Vanin e Nereu, remanescentes dos timaços de que fêz parte.
A avaliação feita pelos nossos colegas Aluízio e Lúcio, caro Sebastião, dando-lhe nota MIL, tenho certeza que transcende ao teor de suas respostas, até encontrar o que você representa na vida deles.
Parabéns pelas respostas e pelas páginas belas que ajudou a escrever da história do nosso querido seminário.
José Fernando Crivellari
fernando.crivellari@ig.com.br
Mataruna é o CARA. Sempre presente mesmo vindo de longe. É o tipo que valoriza as coisas que anda vivendo e pelo mundo afora. Foi visitar o Marcondes no Ceará, o Vanin em Matão... Ficou pouco no SIC mas deixou muitas marcas... Abç Grego
ResponderExcluirPrezados,
ResponderExcluirMeu nome é Sérgio Cordeiro e tive minha formação de 2° grau em um colégio chamado Republicano da Pavuna, onde tive um professor de português chamado Sebastião Mataruna Cardin.
Criamos um grupo de whatsapp deste colégio e já contamos com quase 40 membros, entre eles dois professores.
Gostaria de saber se este Sebastião que é citado neste blog é o mesmo que nos deu aulas entre os anos de 1978 à 1980? Caso sim gostaria de um contato se possível.
Meu email é sergiocordeiro@gmail.com