sábado, 25 de setembro de 2010

"Você reencontrar um colega que não via há 50 anos é muito emocionante."

Com certeza é essa emoção em reencontrar colegas que o faz, a cada 40 dias, organizar uma "pizza" com seus colegas do ex-SIC. A já famosa "Pizza do Paierão".

Com esta informação boa parte de vocês já sabe quem é o entrevistado de hoje.

Pedi-lhe que explicasse o porquê do apelido que tinha no ex-SIC. A explicação (ou a "não explicação") vocês saberão quase no final da entrevista.

  • Quando entrou para o ex-SIC?
Em 1957
  • De que cidade/paróquia?
Descalvado-SP. Paroquia Nossa Senhora do Belém, cujo Pároco era José Canônico, que lá permaneceu por mais de 50 anos.
  • Por que entrou para o seminário?
Naquela época a cidade tinha cerca de 6.000 habitantes, 95% deles católicos. Quase toda família tinha um COROINHA...e lá fui eu ajudar o Padre. Achava legal vestir batina e tão novinho responder frases em latim " et cum spiritu tuo"... Ainda contava com muitos privilégios: sair na foto com os noivos, ser convidado para a festa, assistir de graça os filmes exibidos no cine Paroquial, auxiliar nas missas celebradas nas fazendas para em seguida traçar maravilhosos almoços...Pensava, então: a vida de padre é uma boa. Mas o que mais me entusiasmava era a convivência e diálogos constantes com padres, entre eles José Gaspar, Gustavo Mantovani, Lauro Sigrist e alguns amigos que já estudavam no seminário. Isso tudo acabou pavimentando a estrada que resolvi percorrer.
  • Quantos anos tinha quando entrou?
11 anos.
  • Quando saiu do ex-SIC?
Em 1962.
  • Quantos anos tinha quando saiu?
17 anos.
  • Por que saiu do seminário?
Teve uma hora que a realidade chegou. Estava no 6o.ano e tinha que optar: seguir em frente rumo a Filosofia ou desistir da carreira sacerdotal. Aquele ímpeto inicial do garoto coroinha tinha se esvaído. Vi diversos colegas de anos anteriores desistindo. O mundo lá fora estava diferente...Todos os meus colegas de classe participaram do fórum do MOVIMENTO PARA UM MUNDO MELHOR, mas eu não me senti atraído e permaneci na sala de estudos. Conversei com o meu Diretor espiritual e...parti no primeiro ônibus de volta para minha casa.
  • O que aprendeu no ex-SIC?
Ser disciplinado. Saber dividir o tempo e cumprir as metas estabelecidas. Tratar com respeito os colegas. Deixar o egoísmo de lado. E também uma sólida base escolar, que me ajudou muitíssimo no vestibular, na faculdade e na vida profissional.
  • O que faltou aprender?
Havia um certo receio em nos posicionar sobre o que se passava fora dos quatro muros do seminário. Não tínhamos acesso a jornais, revistas, rádios, televisão etc. Quero dizer que ficávamos alheios ao que se passava no mundo profano. Só que o mundo estava mudando, em todos os sentidos e nós tínhamos que acompanhar essa evolução.
  • O que fez depois que saiu? Estudou o que?
Terminei o Colegial em Descalvado e em 1964 vim para São Paulo trabalhar e estudar. Sou formado em Administração de Empresas.
  • Qual sua trajetória profissional após a saída do ex-SIC?
Durante 30 anos trabalhei no escritório central das Casas Pernambucanas. No início como auxiliar de RH e depois fui escalando outros setores, culminando com o cargo de Gerente Geral da Administração Central. Aposentei-me e dei uma esticada de 13 anos na Delta Records, empresa de logística em Alphaville, onde exerci o cargo de Gerente Financeiro até o final de 2008, quando a empresa foi vendida.
  • Trabalha ainda?
Pendurei as chuteiras, de vez. Espero não precisar calçá-las de novo.
  • Casou? Tem filhos? Netos?
Sou casado com Vera Lúcia, professora também aposentada. Meus filhos se formaram em Administração de Empresas. A Veridiana trabalha na VIVO, como coordenadora de segurança da informação. O Daniel é gerente de produtos da NIKE. A exemplo do Batistuzzi, faço parte do time dos sem-netos, ao menos até agora.
  • Quais as recordações mais marcantes do tempo de ex-SIC?
Daria para escrever um livro. As lições de cidadania do Mons.Abreu. A capacidade intelectual do Padre Sena. A rudeza do Padre Matheus, que foi substituído pela classe do Padre Vanim. As piadas do Padre Haroldo. A fúria do Cônego Luís quando perdia alguma partida de pingue-pongue. A figura impar do Padre Gaspar, grande Diretor Espiritual, dono de uma humildade impressionante. A dificuldade de entender as matérias ensinadas pelos Padres Belgas. A alegria contagiante do Zezinho de Abreu. A hora do lanche da tarde quando serviam o TODDY BAIANO, preparado pela Irmã Mariana. E assim vai...
  • Cite um personagem com que conviveu na época que o impressionou positiva ou negativamente.
Monsenhor Bruno, que Reitor magnífico. Abdicou da enorme fortuna que possuía, para tomar conta da gente. Queria tudo em perfeita ordem; as broncas que dava doíam profundamente. Mas era muito humano e justo. Lembro até hoje da lição de civilidade que dava quando alguém não acionava o botão da descarga da privada: "O botão da descarga não dá choque. Aperte-o após fazer suas necessidades".
  • Sobrou alguma mágoa? Qual?
Honestamente, não.
  • Se voltasse no tempo iria novamente para o ex-SIC? Por que?
Até que iria, principalmente para conviver com tantos bons amigos e mestres.
  • Quais as principais mudanças que a entrada (e/ou saída) do seminário provocou em você?
Aprendi e utilizei à exaustão: RESPONSABILIDADE.
  • Se dedica à Igreja Católica atualmente?
Não.
  • Qual sua relação com a religião atualmente?
É mínima. Poucas vezes vou à missa. Porém, quando viajo tenho o hábito de adentrar as igrejas locais e fazer umas preces.
  • Como você compara a sua religiosidade daquela época com a atual?
Naquele tempo era tudo feito automaticamente. Hoje posso decidir o que fazer.
  • Como você compara a Igreja Católica daquela época com a atual?
Acho que a Igreja Católica perdeu muito terreno. Detesto sermões prolongados, nas raras vezes que vou a missa.E os escândalos propagados, sem uma resposta imediata e convincente da Hierarquia Superior, acabam afastando ainda mais os fiéis.
  • O que você acha dos reencontros com os ex-colegas do ex-SIC?
São momentos de extrema felicidade. Você reencontrar um colega que não via há 50 anos é muito emocionante. Faz você voltar ao túnel do tempo e perguntar porque isto não aconteceu antes? Verdadeiramente é uma alegria que não tem preço.
  • Alguma sugestão?
Os colegas do Interior deveriam se encontrar mais, a exemplo do que fazemos aqui na Capital. A nossa Confraria do Paierão tem exatamente a finalidade de reencontro dos EX-SIC: saber noticia dos colegas, jogar muita conversa fora, tomar um bom chopp e comer aquela pizza, que é chamada de PIZZA DO PAIERÃO. E tome sessão de nostalgia.
  • Qual pergunta você gostaria de ter respondido e que não foi feita?
Gostaria que o colega Butti, de Itapira, estivesse vivo para explicar porque me colocou o apelido de QUÍMICO. Não deve ser pelas notas que eu tirava. Aliás o Butti era especialista na arte de botar apelidos. E esses apelidos colavam sempre.
  • Há algum outro endereço na internet que tenha mais informações sobre você? Algum "link" que você queira divulgar?
Não. Aliás, é bom que vocês saibam que em matéria de internet sou um zero à esquerda.
  • Alguma mensagem especial aos outros ex-SIC?
Com a idade que estamos, só quero desejar saúde a todos. O resto acho que já conseguimos.

Sebastião Costa

Sebastião, muito obrigado por ser o organizador deste encontro que nos faz sentir tão bem e nos proporciona tanto acolhimento mútuo.

Já que não conseguimos saber a razão do apelido, seria alguém capaz de explicar porque o entorno do ex-SIC era chamado de "Paierão"? ou seria "Paieirão"?

Aproveitem adicionar aos esperados comentários sobre a entrevista o esclarecimento desta dúvida. Como sempre, não esquecendo de identificar-se caso comente como "anônimo".

[]'s e até a próxima

J. Reinaldo Rocha(62-67)

6 comentários:

  1. Como é muito bom ler o que nos escrevem nossos colegas.Realmente nós voltamos no passado e de lá, do fundo do baú as "coisas" surgem e começam a jorrar como um chafariz.
    Costa:Frequentei de 63 a 65, e o caso da descarga, também continuou nesses anos pelo Mons.Bruno.
    abraços,

    DURVAL.

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  2. Caro Químico

    Você faz da sua presença a alegria da nossa amizade. Como químico transforma essa alegria em presença material incentivando nossos encontros.

    No passado da Campinas pequena e muito mais interiorana a região sul era formada por fazendas como a Samambaia, Sete Quedas, Vila Joaquim Inácio. A referência era a estrada da Ponte Preta, mais tarde com nome de Rua Abolição, que ia da ponte do trem até o balão do paiero, para homenagear a lei que deu liberdade aos negros maior parte da população dali. Algumas fábricas existiam e uma produzia colchão de palha e o uso constante da material prima era intenso. Seu desperdício se perdia pela região. A primeira parte do novo bairro (Swift e cercanias)era o Paiero, final da rua Abolição. Por isso, o povo generalizou o termo Paieirão. Será que temos outras razões?

    Parabéns Sebastião pelas respostas e que você aceite meu abraço que vai do coração até o Costa.

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  3. Bom dia, Costa!
    Parabéns pela franqueza das respostas. Fomos contemporâneos em 61 e 62 embora sem contatos mais estreitos, pois éramos de faixas etárias diferentes. Sobre o Mons.Bruno... você se lembra quando ele "pegava" alguém sem terço? (rs). Parabenizo também o Aluízio pela bela aula de história da antiga Campinas. Sobre o "paierão" ou "paieirão" como se referiu o Rocha, me veio à memória um personagem morador do local: estará ainda vivo o "ZÉ MARMITA"?
    Forte abraço
    José Fernando Crivellari

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  4. Se o assunto é o Paiero, diz aí Lucio, corruptela de Palha de milho, Paia de miu.... Mas o que importa são as pessoas. Ali das redondezas do SIC lembro-me de vários ex-sic: Marião Lençoni, Bizarri, Marcio e Wagner, Jorge e que se apresentem alguns de quem me esqueci. Mas do lado de fóra também: Quem se lembra do Cubica,tabalhava no Cáritas e até jogava nos nossos campeonatos? Haviam outros dois, um era o Ritinha, que todos os dias subiam no muro na hora dos esportes e acabavam sendo convidados para jogar. O seu Fiori, que fazia todo tipo de trabalho no Seminário, mas não gostava muito de seminarista. Seu Fernando que cortava lenha para o fogão, o Marceneiro. E uma turma que não entrava no SIC mas viviam fazendo ataques, atirando pedras e certa vez presenciei o tal Zé Marmita subir as escadas da portaria e dar um chute na porta. O Buti saiu correndo atrás dele. Zé Marmita era figura folclórica, um "lemãozão" forte e meio corcunda e uma cara feia. Também não poderia deixar de lembrar do Sebastião Piacente, irmão do Lota, hoje Cônego. O Sebastião era líder dos Marianos na Paróquia Cura D´Ars, do Pe. Ambiel, e foi o responsável em ajudar a acabar com o SIC. Todo domingo a tarde invadia lá os campos e avenidas organizando campeonatos com times de toda a redondeza. O mais famoso,que não fazia parte da Comunidade, se chamava Princesinha.
    Quanto ao apelido do Costa, o Químico, talvez alguém se lembre que havia na ultima sala do corredor de baixo, o que chamávamos de laboratório. Lá haviam todo tipo de material de física, quimica e se faziam experiências. Mas menores não entravam lá.

    grego

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  5. Pois então, Sebastião Costa, quando entrei para o SIC vc já estava lá, há um ano. Agora não estou conseguindo me lembrar qual era a sua turma. Vc diz que foi até o sexto ano. Seria a turmaa do José Luis Nogueira Castro? Ou a turma do
    Buti, autor de seu apelido? Químico... naquela época, quem vinha de Descalvado não podia ser químico... a não ser se fosse de Iracemápolis ou Pirassununga, aí Químico pegaria bem! Mas, vamos para o Paierão. Eu me lembro do bairro com o apelido de bairro do Paierão, justamente, porque lá era um meio quase que rural, roça e, quem morava na cidade era granfino e quem morava na roça era caipira. E como era difícil o acesso à cidade! Uma vez tive que ir à cidade tirar radiografia dos dentes e caminhamos a pé até à Swift, eu e o Rizzo, para pegar ônibus. Bom, era uma forma de cutucar as pessoas : " Ah, vc mora no Paierão". Mas é isso aí, Grego, quem sabe aparece mais uma outra versão, né? Mas,rsrsrsrsrsgostei de sua entrevista, Sebastião. Um abraço do tamanhorsrsrsrsr do Paierão!!!
    Lúcio

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  6. Sobre paierão ... achei a explicação do Aluísio bastante convincente, se é que havia mesmo uma fábrica de colchões de palha. Eu achava, como o Lúcio, que estaria ligado a algo rural. No meio rural, "paierão" era o CIGARRO DE PALHA, feito com palha de milho e fumo de corda. Mas, como ligar isso aí com o bairro?
    Sebastião, um abraço. Daólio.

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