domingo, 19 de setembro de 2010

"Acho que nunca tive essa vocação tão espinhosa"

Durante um bom tempo os seminaristas foram alimentados pelos pães produzidos na padaria do pai dele. O seminário fornecia a farinha e o seu pai fazia os pães.

Isso ele não conta na entrevista. Sei porque ele foi de mesma turma que eu.

Em compensação ele conta coisa da qual participei e eu nem lembrava mais.

Então, sem mais delongas e suspense, vamos ler sua entrevista marcada pela sinceridade.

  • Quando entrou para o ex-SIC?
Entrei para o seminário no ano de 1962
  • De que cidade/paróquia?
Eu era estudante do primário do colégio Salesiano "Externato São João", no centro de Campinas e frequentava a igreja do colégio.
  • Por que entrou para o seminário?
Minha mãe era muito religiosa e sonhava ter um dos filhos homens (4) ordenado como sacerdote, assim incentivou-nos na vida religiosa. Conseguiu que meu irmão mais velho, Custódio, entrasse para o seminário e fizesse o percurso até o 3. ano de filosofia em Aparecida do Norte, quando ele desistiu da vocação.
Eu, um dos irmãos mais novos, incentivado pela minha mãe, pelos padres salesianos que queriam me encaminhar para a congregação deles e pelo exemplo de meu irmão resolvi entrar para o seminário, felizmente para o SIC e não salesiano.
  • Quantos anos tinha quando entrou?
Entrei para o seminário com 11 anos de idade, ainda com calça curta.
  • Quando saiu do ex-SIC?
Deixei o seminário em 1966, praticamente com quase toda a minha turma, restaram poucos por mais alguns anos.
  • Quantos anos tinha quando saiu? Por que saiu do seminário?
Aos 15 anos de idade, hormônios em ebulição, a vocação, se é que algum dia tive, nada mais representava para mim. Assim sai sem traumas e com muita bagagem escolar.
  • O que aprendeu no ex-SIC?
O Seminário foi muito importante no meu aprendizado, toda a bagagem adquirida lá foi de grande valia durante toda a minha vida pessoal e profissional. As amizades cultivadas durante o período são até hoje lembradas com saudade. Os esportes que praticamos todos os dias nos fizeram homens leais e competitivos.
  • O que faltou aprender?
Penso que nós sempre temos algo a aprender durante toda a vida, mas no espaço de tempo que lá estive, pude aprender tudo que necessitava.
  • O que fez depois que saiu? Estudou o que?
Após deixar o seminário continuei meus estudos, optando pelo "Clássico" já que nunca fui chegado em Matemática, em seguida cursei a faculdade de Direito da USP, largo de S.Francisco, durante os anos de chumbo da ditadura militar, onde me formei em 1973.
  • Qual sua trajetória profissional após a saída do ex-SIC?
Após me formar em Direito, montamos um escritório de Advocacia em um prédio (Mendes Caldeira) entre a praça da Sé e Clóvis, mas quis o destino que fosse o primeiro prédio em São Paulo a ser implodido, assim resolvi continuar a trabalhar na empresa onde já era Supervisor na área de Recursos Humanos, onde também advogava.
  • Trabalha ainda?
Estou aposentado pelo INSS, mas continuo trabalhando como Diretor Administrativo numa empresa de Barcos, estou na empresa há 34 anos.
  • Casou? Tem filhos? Netos?
Casei-me no ano de 1973 como minha esposa Mary, tão logo terminei a faculdade e tenho 3 filhos, Luciana, Alexandre e Fernanda, todos solteiros, em outubro deve sair o primeiro casório. Netos ainda demora um pouco mais.
  • Quais as recordações mais marcantes do tempo de ex-SIC?
São muitas as recordações que tenho do seminário, bons tempos aqueles. Dos padres a grande recordação foi Monsenhor Abreu, grande figura humana. Padre Teixeira, diretor de disciplina, até hoje tenho contato com ele na paróquia Nossa de Senhora da Imaculada no bairro do S.Bernardo em Campinas. Pe Senna de enorme saber, apesar de eu ser um péssimo aluno de matemática.
Recordações de amigos são muitas e agradáveis, do Benini que era e continua sendo o grande humorista, do Con. Veríssimo, grande conselheiro, do colega Gessé, grande musicista, do Caio e Arthur grandes parceiros e adversários no jogo de Espiribol, do Rocha grande líder do CEM (Centro Esportivo dos Médios) que tive a honra de suceder, do amigo Pessati e de tantos outros. Outras grandes recordações eram os trabalhos "forçados" a que éramos submetidos, limpar pátios, salas e banheiros etc, para fugir dessas situações me escalei na equipe de manutenção, criação de coelhos e encadernação, onde aprendi muito.
  • Cite um personagem com que conviveu na época que o impressionou positiva ou negativamente.
Os personagens que mais me impressionaram positivamente foram o Mons. Abreu, Mons. Bruno e Con. Senna, negativamente sem dúvida foi o Prof. Aparecido.
  • Sobrou alguma mágoa? Qual?
Não sobrou nenhuma mágoa, muito pelo contrário, apenas ótimas recordações.
  • Se voltasse no tempo iria novamente para o ex-SIC? Por que?
Com certeza NÃO, acho que nunca tive essa vocação tão espinhosa.
  • Quais as principais mudanças que a entrada (e/ou saída) do seminário provocou em você?
Penso que a principal mudança tanto na entrada como saída do seminário foi a aquisição de uma qualidade que até hoje cultivo muito, a minha independência de pensar e agir.
  • Se dedica à Igreja Católica atualmente?
Somente como frequentador, não com tanta frequência, mas procurei educar meus filhos na mesma fé.
  • Qual sua relação com a religião atualmente?
Apenas participante de algumas cerimônias, eventualmente de missas, especialmente no Natal e Pascoa.
  • Como você compara a sua religiosidade daquela época com a atual?
Quando menino e adolescente no seminário, apenas como mero repetidor de rezas padronizadas, hoje minha religiosidade é mais madura, não tanto pelas rezas e mais pelo amor ao próximo.
  • Como você compara a Igreja Católica daquela época com a atual?
A Igreja Católica evoluiu de lá para cá, mas na minha opinião deveria ter se aberto mais para o Mundo Atual. Entendo que com a eleição do Papa João Paulo II, todos esperavam uma maior abertura da Igreja, o que não aconteceu infelizmente. Entendo que há entre os leigos muitos capacitados de não apenas serem ministros, mas sacerdotes, casados ou não, suprindo a atual demanda de padres na Igreja Católica.
  • O que você acha dos reencontros com os ex-colegas do ex-SIC?
Esses nossos encontros são momentos de alegria que além de lembrarmos o passado, acrescentamos mais conteúdo com as experiências de vida de todos nós.
  • Alguma sugestão?
A melhor sugestão que poderia fazer é, como outros já disseram, não descontinuar esses encontros e intensificá-los ainda mais, através de encontros regionais como o de S.Paulo, comandado pelo nosso amigo Sebastião.
  • Qual pergunta você gostaria de ter respondido e que não foi feita?
Acho que todas as perguntas foram feitas nada há a ser acrescentado.
  • Há algum outro endereço na internet que tenha mais informações sobre você? Algum "link" que você queira divulgar?
Não
  • Alguma mensagem especial aos outros ex-SIC?
A Vida é uma dádiva divina, saber vivê-la em plenitude é uma meta que precisamos perseguir para sermos felizes e somente com o próximo conseguiremos esse objetivo.
Um abraço a todos.



 Alcides Martins Lima e Silva


Aí está mais uma experiência de vida parecida com tantas outras, mas única como cada um de nós.

Agora, basta comentar. Garanto que os comentários serão sempre bem recebidos, seja pelo entrevistado, seja pelos demais leitores.

Basta não esquecer de identificar-se caso comente como anônimo.

Agora é com vocês e, até a próxima!

J.Reinaldo Rocha(62-67)

6 comentários:

  1. Esse é o Galé, juntamente com o Gessé, ao contrário do Taré, foi um dos mais difíceis de encontrar mas quando chegou nos trouxe vários números do jornalzinho O Circular, que voces podem ver em Documentos nos Albuns. Então pudemos saber corretamente os nomes de outros e também recordar muitos fatos publicados na mídia interna. Nessa turma já fazem parte dos ex-sic o JJCorreia,Escodro,Marachini,Jeca,Rocha,Marcio,Sibinelli,Véio(falecido),Taré e está aguardando próxima oportunidade o Mariano, que teve que socorrer o irmão bem no dia do ultimo encontro.
    Grego

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  2. ALCIDES:Legal suas respostas.
    Como entrei em 63(admissão),com certeza convivemos no mesmo espaço; e que espaço...
    Duas coisas em suas respostas, me fez voltar lá.
    1ª- ESPIROBOL(no início ficava "tonto" de tanto ficar girando).
    2ª- LEBRES(foi no seminário que comi carne de lebre, e até hoje aprecio muito).


    abraços,

    DURVAL 63/65.

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  3. Grande Alcides,
    eu o admiro até hoje, sua calma, bom senso e cara de muito juizo. Foi muito bom ser seu amigo no passado quanto até hoje quando dividimos nossas já tradicionais pizzas.
    grande abraço!
    Gessé

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  4. Alcides,gostei muito de sua entrevista.
    E é sempre um prazer encontrar com voce e outros amigos nas rodadas da PIZZA DO PAIERÃO.
    Um forte abraço.

    Sebastião Costa

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  5. Alcides, boa noite!
    No ano de 1962, por certo, muitas vezes tivemos dividindo os vários espaços do seminário. Mons. Bruno e Mons. Luiz de Abreu são apontados pela unanimidade dos entrevistados dentre os sacerdotes que impressionaram positivamente. Nós dois apontamos dentre os colegas o Benini e o Côn.Veríssimo.
    Parabéns pelo conteúdo, bem como pela franqueza das suas respostas.
    Forte abraço
    José Fernando Crivellari
    1961/1962

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  6. Alcides, boa noite, meu amigo, tudo bem? você chegou no Seminário e eu já estava lá. No dizer do Crivellari, nós convivemos intensamente todos os momentos inesquecíveis do Seminário. Achei mui interessante, quando vc menciona as nossas orações daquela época como "rezas padronizadas", rsrsrs e pensar que eu fazia terços "adronizados" para a garotada rezar padronizadamente. Eh, hoje eu também sinto o mesmo que vc, não gosto muito de repetir os repetitórios, mas uma leitura orante da Bíblia vai bem, né?
    Um abraço e... gostei de suas objetivas resposts.
    Lúcio

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