Interessante observar como éramos praticamente iguais na vida de Seminário, mas principalmente
na parte sentimental, fraterna e como ficou marcado.
O RETORNO AO SEMINÁRIO
Que cruciante expectativa a nossa, na véspera de voltar ao Seminário, que para nós era desconhecido.
Em casa, só se ouvia gritos de cá, correrias de lá em prol de aprontar as roupas e demais objetos que o seminarista deverá levar para a sua nova casa que seria o Seminário. No que tocava ao vestuário estava pronto, mas o pensamento de que íamos ficar longe da mamãe entristece o coração. Todavia fomos deitar em paz. Mil sonhos povoaram a nossa mente durante a noite. Sonhamos com homens gigantescos que queriam matar-nos; ora estávamos entre amigos conversando e por fim imaginamos, ou melhor, sonhamos com um Padre que nos chama e quando lá vamos receosos acordamos com o tilintar enjoativo do nosso despertador. Contudo a oração da manhã logo nos devolveu o estado normal
Aprontamo-nos fazendo perguntas à mãe sobre o que é Seminário. Será bom? ruim? grande ou pequeno edifício? Com estas e outras perguntas deixávamos a mãe meio atrapalhada.
Enfim pronto já para sair, o primeiro adeus de despedida é para a avó, aquela boa velhinha que nem para todos existe ainda: a primeira espada corta o nosso coração. Depois nos despedimos dos tios e até mesmo vamos dar o nosso adeus ao nosso cãozito, como compreender pudesse.
Dos nossos amigos já nos despedimos. Tristes ficávamos ao despedir de uns amigos, de outros não. Demos um último olhar à casa pequenina e viramos as costas, enquanto uma lágrima deslizava nos nossos olhos inocentes de criança!
Esta melancolia, porém, pouco durou! Ao chegar na estação e sentir o contacto daqueles que seriam uns nossos pais e irmãos outros, a nossa tristeza desapareceu. Misturamo-nos entre eles e quase nos esquecemos de nossa pobre mãe que se alegrava com o filho e já chorava sua partida.
Passaram-se uns minutos e todos já dentro do trem esperávamos a partida. A segunda espada iria agora pungir o nosso coração. Um beijo, um abraço, um adeus, uma lágrima. Separava-nos da nossa querida mãe!
O trem põe-se em movimento. Conversas agradáveis, lindas paisagens, montanhas alterosas, lagos cristalinos, tudo enfim que a natureza nos apresentava, servia para libertar a nossa alma de pensamentos tristes, recordações de brinquedos ...
Rápida transcorreu a viagem. Ao desembarcar do trem já os ônibus especiais que nos deviam levar ao Seminário já tinham encostado.
O Revmo. Côn. Reitor e alguns professores inclusive um Frei Carmelita aguardavam-nos na estação. Dado o sinal, de presto em fila subimos para o ônibus e já a caminho estávamos do Seminário. A cada segundo que passava nossa alma ia levando choques: como será o seminário, quando aparecerá? Então púnhamos a cabeça fora da janelinha do ônibus para ver se já aparecia o Seminário. De repente um grita: olha o Seminário! E todos sentimos uma alegria inexprimível ao ver da janelinha o belo edifício do Seminário.
Passaram-se alguns instantes e já o ônibus entrava pelo portão lateral do Seminário e foi dar no recreio onde todos alegres descemos. Cumprimentaram-se amigos, os novos corriam a conhecer as dependências da casa e tudo é só alegria.
À hora do almoço, todos contentes dirigimo-nos ao refeitório.
À tarde fomos arrumar as malas e por tudo em ordem.
Pela primeira vez então, em São Roque, vimos o pôr do sol. Lá longe o sol tristonho ia desaparecendo, derramando seus últimos raios sobre a terra, que já ia sendo envolvida pela densa noite abrandada em sua escuridão pela lua que surgia risonha e pelas estrelas que como crianças brincavam na imensidade do céu de cor azul pardo.
E todos nos sentíamos felizes e felizes fomos agradecer a Deus a graça tão insigne que nos concedeu: a vocação Sacerdotal!
São Roque, 13 de Março de 1949.
Walmir da Silva Gomes
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