domingo, 28 de novembro de 2010

"Não encontrar os amigos com os quais convivi lá, foi frustrante, durante muito tempo"


Mais um agregado (vindo de outra diocese) nos brinda com sua história de vida.

Ele se auto define como um conjunto de interrogações, mas forneceu respostas precisas, detalhadas e emocionantes.

É mais um que valoriza a convivência com os colegas e as amizades construídas  durante sua passagem pelos seminários que frequentou.


E sabem qual é sua recordação mais marcante do ex-SIC? Uma pista: esporte. Os detalhes vocês precisarão ler sua entrevista para saber.
  • Quando entrou para o ex-SIC?
1959, no 5º ano; em 1960 fiz o 6º ano; foram os em que lá estive, advindo da diocese de Petrópolis, onde entrei em 1954, junto com Júlio Guimarães de Almeida (falecido ) e Marcondes Rosa de Sousa (morando hoje em Fortaleza, entrevista de 12/06/2010).
  • De que cidade/paróquia?
Duque de Caxias, Baixada Fluminense, da paróquia de S. Antônio, centro.
  • Por que entrou para o seminário?
Desde cedo, levado por minha mãe, encantavam-me luzes, ritos, vestes, na igreja; com 11 e 12 anos era coroinha. Apareceu lá, à procura de vocações, o então reitor do seminário de Petrópolis (era dezembro); em janeiro estava dentro.
  • Quantos anos tinha quando entrou?
18, no ex-SIC. 13, em Petrópolis.
  • Quando saiu do ex-SIC?
No final de 1960 (saímos os três); sozinho, recebi a batina no 08 de Dezembro. Saí do seminário maior em Março de 1962
  • Quantos anos tinha quando saiu?
17, 19, 21, respectivamente.
  • Por que saiu do seminário?
Um acúmulo de fatores; entre eles: fé arrefecida; desânimo em tarefas evangelizadoras; discordância no "modus faciendi" em algumas questões; uma paixãozinha por uma ex-colega de infância...
  • O que aprendeu no ex-SIC?
Mais do que o fator intelectual, os fatores morais: retidão de caráter; responsabilidade; honestidade; valorização do outro; senso do dever; coerência entre pensar e agir...
  • O que faltou aprender?
A vida ensinou: respeito aos diversos pensamentos e convicções; não ser o dono da verdade (aliás, eu poderia ser definido como um conjunto de interrogações); consciência da necessidade do trabalho...Nossa educação era um tanto afastada da realidade (não tínhamos maldade alguma; até hoje resta algum resquício disto...).
  • O que fez depois que saiu? Estudou o quê?
Fui para o magistério em cursos e escolas das cidades da baixada fluminense.
  • Qual sua trajetória profissional após a saída do ex-SIC?
Fiz o serviço militar com 22 anos (63/64). Saí e tive autorização pª lecionar; de 66 a 69 fiz português-literatura, na Gama Filho; formado, trabalhei no ensino público e particular até me aposentar no ano passado, tendo feito pós-graduação em linguística em 89.
  • Trabalha ainda?
Agora sou dono do meu tempo, andando à procura de quem disse que aposentadoria leva à depressão (para rir na/da cara dela)...
  • Casou? Tem filhos? Netos?
Comecei a namorar Vilma em 66 (fora minha aluna em 62); casamos em 67; Valéria nasceu em 68 e é solteira até agora; ela foi criada com um casal de primos; a menina nos deu um sobrinho-neto (13 anos), o garoto...desgarrou-se no mundo...sei da existência de três filhos; faleceu em abril último com 39 anos. Há ainda o André, um ex-colega da Val (nossa filha). Ele estava sozinho velando o corpo de sua mãe na capela; só Vilma compareceu e com ele ficou; tinha 30 anos então. Nos adotou como pais a partir daí. É muito chegado a nós e carinhoso. Seu filho Gabriel (10 anos) nos trata de VÔ e VÓ. São 43 anos de casamento...
  • Quais as recordações mais marcantes do tempo de ex-SIC?
As melhores são esportivas. Entrei logo na seleção de futebol. No 1º semestre jogávamos com roto uniforme são paulino; estreamos o azul e branco no 2º (presenteado p/Sr Luís (ver fotos). Até o final de 60 ganhamos 19 jogos, perdemos três (2 p/ o seminário maior de Aparecida-4x2 e 4x3), nenhum empate. Há pouco o Fuzaro me classificou de "motorzinho"...O time: Osmar; Moraes, Butti, Fuzaro e Nereu; Pe. Vanin, Cardin (o Mataruna p/alguns), Paulista (Ruiz Valverde); Paulistinha (Zé Dias Valverde), Naves e Paco (Espanhol)... Entravam: Nadai, Vicentim, Maróstica...Ming era um alto e bom 2º goleiro. De certa feita o Pe. Vanin nos leu, no refeitório, matéria de um jornal sobre um jogo contra nós, elogiando os jogadores locais, mas sem evitar a derrota para o brilhante time do seminário (5x2 )... Dormindo, continuo dando os meus chutes...
Outros fatos: Espetáculo de marionetes (Adorno lembrou-se também) -Concerto de acordeon por Paolo Gandolfi -Teatro e apresentação musical em Americana (onde estará o pianista Ricardo?) -A orquestra feminina de cordas com 80 violões de escola (NORMAL?) campineira...Todas as meninas de branco, com seus instrumentos a tiracolo...LINDO! - As atividades acadêmicas.
  • Cite um personagem com quem conviveu na época e que o impressionou positiva ou negativamente.
Pe. Vanin: contacto direto e diário. O apreço e estima levou-me a encontrá-lo em Matão, por onde passei para abraçá-lo, quando em viagem pelo interior paulista, há uns 10 anos.
  • Sobrou alguma mágoa? Qual?
Não; porém não encontrar os amigos com os quais convivi lá, foi frustrante, durante muito tempo.
  • Se voltasse no tempo iria novamente para o ex-SIC? Por que?
A única forma de voltar no tempo são as recordações... Foi um belo período de vida, cuja valorização é posterior, como soe acontecer.
  • Quais as principais mudanças que a entrada (e/ou saída) do seminário provocou em você?
Fui privilegiado. O que me tornei ou consegui está tudo construído em cima daquela formação que, como filho de pessoas pobres, não teria. A amizade de vocês é outra riqueza notável!
  • Se dedica à Igreja Católica atualmente?
Quando me perguntam isto, digo que tenho formação católica. Afastei-me da prática, não da essência. Passei por grande drama de consciência na criação dos filhos, neste aspecto (Se não dava o exemplo, como fazer?). Deixei-os na mão de Deus.
  • Qual sua relação com a religião atualmente?
Julgo que nossas ações nos (re)ligam ou (des)ligam de Deus. Méritos e deméritos serão levados ao "post-mortem". Sabemos o maior dos mandamentos, é só colocá-lo em prática. DELE espero a misericórdia de um pai...
  • Como você compara a sua religiosidade daquela época com a atual?
Se se pudesse ver as conturbações internas, não teria sido escolhido presidente da Congregação Mariana. A frase "Senhor, eu não sou digno" marcou-me profundamente (deixei de participar da comunhão eucarística). Claro que vocação...Combalida a fé, seguiram-se anos de dúvidas, procuras, estudos...Nada novo; tudo incertezas. Evitando fundamentalismos, foi de bom alvitre, pelo menos, (con)viver com os ensinamentos morais adquiridos. No passado era pura aceitação, agora...(A fé não é um dom?...) Como disse ao Aloísio: fico feliz pelo amigo que encontra a paz de espírito em sua religião...Feliz pelo Fuzaro e Conceição...
  • Como você compara a Igreja Católica daquela época com a atual?
Vivi a época de João XXIII, voltado para o social. Seus sucessores retroagiram em relação à tal abertura, e as mudanças: a passo de tartaruga, em contraponto às da sociedade moderna, com novos conhecimentos e mudanças vertiginosas. Existe o jogo: prudência x atualização, e seus respectivos torcedores.
  • O que você acha dos reencontros com os ex-colegas do ex-SIC?
Que pergunta, heim? Isto já está nas entrelinhas acima! A iniciativa do Grego foi maravilhosa! Joguemo-lo para o alto! Ele entrou para a história!
  • Alguma sugestão?
Sim, talvez advinda dos 43 encontros dos antigos alunos do seminário de Petrópolis, feitos lá, no último final de semana de julho. Sou o coordenador do Rio-Baixada, uma das diversas regiões, que têm suas datas próprias de encontro. CONSEGUIR O COMPROMETIMENTO DA DIOCESE, DO ATUAL REITOR, DO SEMINÁRIO, com os nossos encontros. Perceba-se que eles são hoje o que nós fomos ontem, e eles serão amanhã o que nós somos hoje...Em S. Paulo há uma "célula" ex-SIC; outras cidades poderiam fazer o mesmo.
  • Qual pergunta você gostaria de ter respondido e que não foi feita?
Há empenho nosso em tentar contactar ex-SIC?
Do longínquo Rio de Janeiro encontrei e fui encontrado! Vanin, Fuzaro, Severino, Marcondes...
  • Há algum outro endereço na internet que tenha mais informações sobre você? Algum "link" que você queira divulgar?
O Aloísio me encontrou no ORKUT (mesmo e-mail). Coloco-me à disposição através dos número de telefone que estão na lista de contatos do ex-SIC. Meus préstimos à disposição de todos.
  • Alguma mensagem especial aos outros ex-SIC?
Agradeço por voltarem a fazer parte da minha vida, contemporâneos ou não. Valorizem os dias dos encontros, porque sua presença é valorizada por muitos!

Sebastião Mataruna Cardin

A valorização dos encontros com os colegas ele traduz em coordenação de um grupo deles. Espero que mais colegas aceitem sua sugestão de formar mais "células" de ex-SIC, além da "Pizza do Paierão", em São Paulo.

Aproveitem comentar este e outros temas abordados pelo Cardin. Só lembrando que, caso comentem como "anônimo", identifiquem-se, por favor. 

Semana que vem tem mais...


J. Reinaldo Rocha (62-67)

sábado, 20 de novembro de 2010

"Não aceito totalmente as religiões. A meu ver, instrumentalizam, em seu todo ou em partes, a crença em Deus, visando benefícios próprios."

Mais uma vibrante entrevista de um dos nossos colegas.

É muito interessante conhecer como éramos, como pensávamos e o que a vida fez de nós, como lembrou o Venturoli; ou a vida que fizemos (para contentar a turma da "auto ajuda"..rsrsrs)

E o entrevistado de hoje não se furta a expor como pensava e como pensa hoje após muitos anos e muitas experiências vividas.

Mas, para que vocês o conheçam por inteiro e sintam a importância que ele atribui à convivência com os colegas da comunidade, só lendo as suas respostas.

Ei-las:


  • Quando entrou para o ex-SIC?
Em 1959. Ao chegarmos ao Seminário fizemos exame de admissão. Quem passou, entrou na primeira série do ginásio. Foi o meu caso. Os que não foram aprovados, foram para o Curso de Admissão.
  • De que cidade/paróquia?
Morava em Pirassununga. Paróquia de São Bom Jesus dos Aflitos. O Pároco era o Pe. Janoni. Atualmente o pároco é um ex-professor do Seminário : Mons. Otávio Dorigon (excelente ponta esquerda, na época).
  • Por que entrou para o seminário?
Por vontade própria, embora fosse desejo de minha família, que era muito religiosa. Já era "coroinha", na época do curso primário. Lembro-me que meu avô fazia parte dos "IRMÃOS DO SANTÍSSIMO". Usavam uma vestimenta vermelha - chamada OPA - nas cerimônias. Dois tios já haviam estudado no seminário (Carlos Beltrame de Oliveira, que esteve presente em uma de nossas reuniões, e Antonio Carlos Beltrame de Oliveira, que ficou pouco tempo - na época do Pe. Mateus). Dois primos também tinham entrado para o Seminário: José Roberto de Oliveira, que chegou a estudar no Colégio Pio Brasileiro, em Roma, e seu irmão Domingos Sávio de Oliveira. Assim, a ida para o Seminário foi o caminho natural, tanto para mim como para a família.
  • Quantos anos tinha quando entrou?
Tinha 10 anos e meio.
  • Quando saiu do ex-SIC ?
Saí no final de 1965, ao concluir o 3o. Clássico.
  • Quantos anos tinha quando saiu?
Tinha 17 anos e meio.
  • Por que saiu do seminário?
Comecei a ter dúvidas se realmente eu queria ser padre. Por várias vezes conversei com o Mons. Luiz de Abreu sobre minhas dúvidas, que incluíam inclusive questionamentos sobre fé. Ele já havia me aconselhado a sair há um ano. Foi uma difícil decisão, pois tinha muito medo de causar decepção à família. Lembro-me que, durante as férias, a gente tinha que ajudar o pároco nas diversas cerimônias litúrgicas. Trazíamos um envelope lacrado, que deveria ser entregue ao pároco, para preencher uma ficha de informações sobre nosso comportamento. Ao regressar das férias de final de ano, senti vontade de ler o que o Pe. Germano (Paróquia de Santo Antonio - Pirassununga) havia escrito a meu respeito. Cuidadosamente abri o envelope. Lembro-me perfeitamente de suas (sábias) palavras : "Tenho dúvidas sobre sua vocação. Vamos dar tempo ao tempo." Quem me ajudou muito na tomada da decisão foi o Pe. Nadai. Encorajou-me a ir em frente. Incentivou-me a estudar, por 6 meses, para um concurso do Banco do Brasil. (Prestei o concurso, passei, e acabei trabalhando no Banco por alguns meses). Sou bastante grato a ele por essa inestimável ajuda.
  • O que aprendeu no ex-SIC?
Acho que a maior contribuição dos anos de Seminário foi ensinar-me a resolver os problemas sozinho. Como estudar. Como enfrentar as saudades de casa. Como enquadrar-me nas rígidas normas de disciplina. Como superar os pequenos problemas de relacionamento do dia a dia. É lógico que contava com dezenas de amigos para esse aprendizado. Esse foi o grande segredo do tempo de Seminário: os amigos, verdadeiros irmãos que tínhamos a nosso lado o tempo todo. Quando saí, pude ver como tudo isso foi importante para minha vida.
  • O que faltou aprender?
Acho que faltou uma melhor preparação para a "Saída do Seminário". Nossa formação era toda direcionada para a continuidade. Acho que, diante da perspectiva da saída, deveríamos ter sido preparados para as novas situações que iríamos enfrentar, tanto na vida afetiva, como profissional. Nas turmas posteriores, isso foi bastante amenizado, com o semi-internato. Minha turma talvez tenha sido um divisor de águas nesse aspecto.
  • O que fez depois que saiu? Estudou o que?
Saí em 1965, com 17 anos. Foi difícil arrumar o primeiro emprego, sem ter feito o Serviço Militar. O Banco do Brasil demorou a chamar os concursados aprovados. Trabalhei em Escritório de Contabilidade enquanto fazia um Cursinho para Engenharia em Pirassununga. Prestei o vestibular e entrei na USP (EESC), em Engenharia Civil. Quando estava no primeiro ano, o BB me chamou. Trabalhei alguns meses em São Paulo, mas preferi retornar a São Carlos para continuar a estudar. Fiz Pós Graduação em Solos. Fui trabalhar no DER SP, onde fiquei até 1986. Em 1976, com mais três colegas engenheiros, abrimos uma firma de Geotecnia (SONDOSOLO), com sede em Campinas. Trabalho até hoje nessa firma.
  • Casou? Tem filhos? Netos?
Casei-me em 1979, há 31 anos, com Elsa Marili. Temos dois filhos, Gustavo (25) e André (23), ambos solteiros. Gustavo formou-se em Engenharia de Produção Mecânica na USP. Trabalha atualmente na CTEEP. André está concluindo Engenharia Agrícola na UNICAMP.
  • Quais as recordações mais marcantes do tempo de ex-SIC?
Aqueles sete anos ficaram marcados indelevelmente na memória e no coração. As recordações são várias e ressurgem continuamente a cada dia. Os campeonatos de futebol, os passeios nos finais de semana até a Fonte Sônia, a participação no Coral, as músicas sacras em canto gregoriano, as missas infindáveis, os terços em duplas, no claustro, os retiros espirituais em silêncio, o Martirológio Romano lido diariamente durante as refeições, as disputas de pingue-pongue com o Cônego Luiz, as aulas de Latim e Grego - como não lembrarmos a cada momento de tudo isso?
  • Cite um personagem com quem conviveu na época e que o impressionou positiva ou negativamente.
A convivência com o inesquecível Padre Senna foi de grande importância . Ao lado da formação humanística proporcionada pelo ambiente do Seminário, coube ao Pe. Senna ensinar-nos as Ciências Exatas. E soube fazê-lo com muita sabedoria. Já formado, pude conviver com ele, anos depois, em Campinas. Um exemplo de competência e seriedade.
  • Sobrou alguma mágoa? Qual?
Se houve mágoas, o tempo as apagou. Só restaram boas recordações.
  • Se voltasse no tempo iria novamente para o ex-SIC? Por que?
Se as condições da época fossem as mesmas, acredito que faria tudo do mesmo jeito.
  • Quais as principais mudanças que a entrada (e/ou saída) do seminário provocou em você?
Valorizo muito a base cultural que adquiri naqueles anos.
  • Se dedica à Igreja Católica atualmente?
Tenho algumas restrições à Igreja, como instituição.
  • Qual sua relação com a religião atualmente?
É uma relação pessoal com Deus. Não aceito totalmente as religiões . A meu ver, instrumentalizam, em seu todo ou em partes, a crença em Deus, visando benefícios próprios.
  • Como você compara a sua religiosidade daquela época com a atual?
Na época do Seminário, não se questionava quase nada. A religiosidade entrava pelos poros e era vivenciada intensamente por todos nós. Atualmente, com todas as informações do mundo atual, fica muito difícil acreditar em tudo que nos foi ensinado. Mas Deus continua presente, de uma forma bem pessoal.
  • Como você compara a Igreja Católica daquela época com a atual?
Acho que houve grandes mudanças com João XXIII e com Paulo VI. Parece que atualmente estamos de volta ao passado.
  • O que você acha dos reencontros com os ex-colegas do ex-SIC?
O reencontro é emocionante. Há uma carga muito grande de sentimentos que não conseguimos externar nos primeiros reencontros. São momentos gratificantes.
  • Alguma sugestão?
Sugiro que nos esforcemos para trazer colegas que ainda não participaram dos encontros.
Que todos participem desses depoimentos, para que possamos nos conhecer melhor, hoje.

 

Milton Luis De O. Martins

 

Aí está a trajetória do Milton, honorificamente apelidado de Palmeirinha.

Endosso plenamente o seu apelo para que nos esforcemos em trazer para os encontros (e/ou participar das atividades da comunidade) os que ainda não participaram.

Ajudem-nos a arrebanhar os "sumidos"..rsrsrs

Para os que já participam apelo a que façam seus comentários. Quaisquer que sejam serão sempre bem-vindos. Apenas não esquecer de identificar-se caso comente na qualidade de "anônimo".

Semana que vem tem mais. Até lá.

 J. Reinaldo Rocha(62-67) 

sábado, 13 de novembro de 2010

"O que mais me marcou foi a disciplina necessária para o convívio fora da família"


Como escreveu o Grego em um de seus comentários,  "falar pouco também é inteligente". O entrevistado de hoje seguiu este preceito a risca.

Em suas próprias palavras, "sou muito retraído mesmo". Mas, nem por isso furtou-se a participar desta entrevista, além de, declaradamente, ler todos os e-mails que recebe. Mesmo com poucas palavras é possível perceber o grande ser humano que é.

Dificilmente vocês saberão de quem se trata antes de chegar ao final das respostas. Portanto, vamos a elas:

  • Quando entrou para o ex-SIC?
Entrei em 1966.
  • De que cidade/paróquia?
Paroquia N. S. das Dores (Cambui – Campinas).
  • Por que entrou para o seminário?
Tinha 11 anos, difícil dizer hoje porque entrei, mas fui incentivado pelo pessoal da Paróquia, eu frequentava a Paróquia e achava o sacerdócio muito bonito.
  • Quantos anos tinha quando entrou?
11 anos.
  • Quando saiu do ex-SIC?
Fiquei apenas 1 ano, assim sai em 1966.
  • Quantos anos tinha quando saiu?
12
  • Por que saiu do seminário?
Sentia muita falta de minha casa, e nas férias de final de ano decidi não mais voltar.
  • O que aprendeu no ex-SIC?
Ah, muita coisa, mas o que mais me marcou foi a disciplina necessária para o convívio fora da família.
  • O que faltou aprender?
Não sei, acho que pela minha idade, à época, não dá para ter esta avaliação.
  • O que fez depois que saiu? Estudou o que?
Estudei Ciências Contábeis.
  • Qual sua trajetória profissional após a saída do ex-SIC?
Trabalhei em empresas privadas.
  • Trabalha ainda?
Sim, mas constitui minha própria empresa (consultoria em tributos e contabilidade).
  • Casou? Tem filhos? Netos?
Sim, tenho 3 filhos, 2 homens e 1 mulher. Não tenho netos ainda.
  • Quais as recordações mais marcantes do tempo de ex-SIC?
O refeitório, os jogos de pingue-pongue, a sala de estudos, o Sr.Alexandre nos acordando de manhã.
  • Cite um personagem com quem conviveu na época e que o impressionou positiva ou negativamente.
Ninguém em especial, como eu era um pirralho, eu admirava os maiores, e queria ser como eles quando crescesse.
  • Sobrou alguma mágoa? Qual?
Não, de forma alguma.
  • Se voltasse no tempo iria novamente para o ex-SIC? Por que?
Eu iria sim, acho que foi uma experiência muito boa, única, e sinceramente eu acho que deveria ter permanecido mais tempo.
  • Quais as principais mudanças que a entrada (e/ou saída) do seminário provocou em você?
Não consigo avaliar objetivamente, mas a passagem pelo ex-SIC me ajudou muito no quesito disciplina.
  • Se dedica à Igreja Católica atualmente?
Não, apenas vou a missa semanalmente.
  • Qual sua relação com a religião atualmente?
Vide acima.
  • Como você compara a sua religiosidade daquela época com a atual?
Era mais religioso naquela época.
  • O que você acha dos reencontros com os ex-colegas do ex-SIC?
Acho muito bacana, este movimento que vocês conseguem fazer, apesar de tantos anos terem se passado, é realmente de impressionar.
  • Alguma sugestão?
Não, acho que o que vocês fazem está ótimo.

Pedro Carlos Vidotti

Aí está a trajetória de um colega que faz da discrição, objetividade e concisão sua marca registrada.

Quem quiser visitar o "site" de sua empresa o "link" é este: http://vidotticonsultoria.com.br

Não é porque suas respostas são concisas e objetivas que os comentários precisam ter as mesmas características. Portanto, comentem a vontade. Apenas não se esqueçam de identificar-se caso comentem como anônimos.

ATENÇÃO: Ontem enviei os últimos convites para participar desta série de entrevistas. Todos os que estão com e-mails válidos em nossa lista de contatos foram convidados. Se alguém não recebeu o convite, por favor, avise-me que terei o maior prazer em reenviar.

E, até a próxima,

J.Reinaldo Rocha(62-67)

 

sábado, 6 de novembro de 2010

"A ausência do reatamento de laços amarrados na juventude foi uma das surpresas negativas que mais me marcaram"

Hoje temos a entrevista de mais um dos agregados (vindos de outras Dioceses) que passaram pelo ex-SIC. Ele ficou pouco tempo, mas mantém acesa a vontade de conviver com os colegas de juventude.

Por que ficou tão pouco tempo? Isso ele explica detalhadamente.


Leiam as respostas deste mineiro que pautou sua vida pela solidariedade humana e respeito à diversidade de crenças e pensamentos.

  • Quando entrou para o ex-SIC?
Entrei para o ex-SIC no início de 1959, tendo permanecido nele até junho de 1960. Portanto, só fiquei lá por um ano e meio. Era da categoria dos "agregados", já que pertencia à diocese de Ribeirão Preto, onde fiz a fase ginasial.
  • De que cidade/paróquia?
Eu sou oriundo de uma paróquia do sul de Minas, Carmo do Rio Claro, diocese de Guaxupé. Nessa cidade, eu havia começado a cursar o Ginásio, dirigido por uma congregação de Irmãos Italianos. Quando decidi entrar para o seminário, tratei do assunto com o capelão do Ginásio e não com o Pároco. E o capelão propôs que eu fosse para o Seminário de Ribeirão Preto, que ele apreciava muito. Como o bispo de Guaxupé, daquela época, era Dom Inácio João Dal Monte, ele mesmo procedente de Ribeirão Preto, ele não criou caso e autorizou esse encaminhamento.
  • Por que entrou para o seminário?
Bem, essa foi uma decisão que tomei sozinho. Curiosamente, minha família não ficou muito entusiasmada não. Embora não se opusessem, meu pai foi logo dizendo que não poderia arcar financeiramente com o enxoval e minha mãe literalmente me desaconselhou. Nem mesmo o capelão do Ginásio, que acabou cedendo e me encaminhando, argumentou bastante comigo, ponderando que não era uma decisão fácil. Mas, contando com o apoio, moral e financeiro de uma tia, insisti e fui para o Seminário em Ribeirão Preto. Quanto à motivação, no plano consciente, era a forma que achei que me habilitaria para "ajudar os outros", uma vontade de solidariedade, dada uma certa sensibilidade que tinha da situação humana naquele contexto. Obviamente, nascera e vivera num ambiente católico, típico do interior rural do sul de Minas, mas isso não pesava muito, pois minha prática era apenas aquela da família: missa aos domingos, catecismo, primeira comunhão, quermesses. Sequer tinha convivência com o paróquia, nunca fui coroinha. Ademais, morava na roça, a uma légua da sede da cidade.
  • Quantos anos tinha quando entrou?
Entrei no Seminário, em Ribeirão em 1955, com 14 anos, recomeçando o curso ginasial, apesar de já ter cursado o primeiro ano no Ginásio de minha cidade. Ja para o ex-SIC fui enviado com minha turma no início de 1959, para fazer o colegial.
  • Quando saiu do ex-SIC?
Saí do ex-SIC em junho de 1960, em decorrência de ter ganho uma bolsa de estudos para fazer o curso de Filosofia, em Louvain, na Bélgica. Era preciso viajar no início do segundo semestre porque o aluno letivo na Bélgica começaria em outubro. Por isso, viajei em agosto, ficando 2 meses aprendendo a língua.
A minha indicação para essa bolsa foi de total iniciativa de Mons. Bruno Nardini, nosso reitor. Essa categoria de bolsa se destinava a seminarista da diocese de Campinas, mas, ao que me consta, não houve entendimento entre o bispo de Campinas e a entidade missionária belga que concedia as bolsas. Então Mons. Bruno sugeriu que aceitassem seminaristas de outras dioceses e me indicou. Meu bispo, na época, era Dom Luiz do Amaral Mousinho, que topou a parada pois cabia à Diocese pagar a passagem que, embora fosse de navio, era cara. Infelizmente, Dom Luis Mousinho faleceu muito jovem. Certamente era destinado a ser uma grande figura na Igreja do Brasil. Ao conversar com ele, tive a clareza de afirmar que não tinha certeza de minha vocação e nem por isso ele deixou de me apoiar.
Essa indicação foi uma grande surpresa para mim, até porque nem noção direito tinha do seu alcance. O detalhe pitoresco é que foi um tremendo susto o dia em que Mons. Bruno passando quase que volatilmente pelo corredor das janelas que davam para o nosso salão de estudos, fui flagrado mergulhado na leitura de um romance. Chamou-me com sinal de dedo pela janela e saí com as pernas tremendo. Aí foi aquela delonga, com aquelas perguntinhas matreiras, querendo saber de minha saúde, de minha família e eu esperando para ver onde queria chegar... esperando uma bronca daquelas. Mas, felizmente, não foi o que aconteceu.
  • Quantos anos tinha quando saiu?
Do ex-SIC sai às vésperas dos 19 anos. Da carreira eclesiástica, saí aos 23, após ter cursado o 1o. ano de Teologia, na Gregoriana, para onde fui enviado pelo então meu novo bispo, Dom Agnello Rossi. Fiquei 1 ano em Roma, no Colégio Pio Brasileiro.
Por que saiu do seminário?
É que finalmente me dei conta de que não tinha vocação. Com mais amadurecimento emocional e intelectual, pude ver que não tinha o perfil para o ministério sacerdotal, levava as coisas muito no voluntarismo. Certamente, nem teria entrado para o Seminário se tivesse tido a oportunidade de uma avaliação psicológica na pré-adolescência. Não foi revolta, nem frustrações maiores. Foi-me até proposto que eu fizesse uma experiência, mas eu descartei a hipótese por ter bem claro que não era meu caminho. Continuei tendo ótimas relações com a Igreja, inclusive fui professor no Seminário Central do Ipiranga onde reencontrei alguns dos colegas do ex-SIC que faziam filosofia lá.
  • O que aprendeu no ex-SIC?
Devo dizer que apesar de vindo de outra diocese, me senti perfeitamente integrado ao ex-SIC no breve período que lá fiquei. Fui muito bem acolhido tanto pelos superiores como pelos colegas. Não tenho nada de que reclamar, foi um excelente período de minha formação. Contribuiu muito para consolidar meu senso de solidariedade, de coleguismo, de liberdade espiritual, de amizade.
  • O que faltou aprender?
Acho que o que me faltou aprender nem sei se era tarefa do Seminário. Uma certa maneira mais construtiva de enfrentar a vida, de ser menos complexado, de tomar iniciativas. Mas o bloqueio psico-social que leva a isso já era uma herança da vida familiar e não sai fácil de nossa personalidade.
  • O que fez depois que saiu? Estudou o que? Qual sua trajetória profissional após a saída do ex-SIC?
Bem, uma vez saído da carreira eclesiástica, vim para São Paulo. Meu primeiro emprego foi de revisor numa Editora. Mas logo no início de 1965, fui convidado a dar aulas de filosofia no Seminário Central e logo em seguida na PUC-SP. Essa universidade foi então o meu centro de atuação por 22 anos. Fiz também nela o meu doutorado em Filosofia. Além da docência, exerci também funções administrativas, tendo sido chefe de departamento, coordenador de Programas de Pós-Graduação, Diretor de Centro e até Vice-Reitor Acadêmico, de 80 a 84, na gestão Nadir Kfouri. Em 1988, prestei concurso e entrei na Faculdade de Educação, da USP, onde ainda estou vinculado, embora tenha me aposentado em outubro do ano passado. Passei por todas etapas previstas na carreira acadêmica das universidades públicas paulistas.
  • Trabalha ainda?
Além de atividades que mantenho na USP como colaborador, acabo de aceitar um convite da Uninove para atuar junto ao Programa de Pós-Graduação em Educação. Minha área de especialização é Filosofia da Educação.
  • Casou? Tem filhos? Netos?
Sim, me casei em 1968, com Francisca Eleodora Santos, também mineira, da minha cidade, Carmo do Rio Claro, sul de Minas. Nos encontramos em São Paulo, embora nossos pais já se conhecessem anteriormente. Tivemos 3 filhos e agora já computamos 5 netos, o mais velho com 10 anos de idade. Francisca é socióloga e seu trabalho é também no ensino universitário.
  • Quais as recordações mais marcantes do tempo de ex-SIC?
O clima de amizade, de alegria, de solidariedade. Foi um curto convívio, mas para mim muito gratificante. Sinto muitas saudades de vários colegas da época. Com alguns até já tive outros encontros, mas de outros nunca mais tive notícias. Tambem guardei as melhores lembranças dos padres superiores da época. Cheguei a ser professor na pós-graduação do Pe. Lúcio e o Pe. Haroldo Niero. Deve ter sido um castigo para eles, pois justo deles não me aproximara muito quando estive no ex-SIC. Guardo memória carinhosa de Mons. Bruno, Mons Luis de Abreu, Con. Luis de Campos, Padre Gaspar, Padre Vanin, Pe. Comblin. Se esqueci algum, é porque o maior problema do momento é o enfraquecimento da memória e eu ainda não tive tempo de escarafunchar os apontamentos da época que devem ainda estar por aqui.
  • Cite um personagem com quem conviveu na época e que o impressionou positiva ou negativamente. 
Como disse acima, todos me impressionaram positivamente. Nenhuma impressão negativa. Só me assustava com o Pe. Laga, mas depois de viver na Bélgica, entendi perfeitamente o jeito de ser dele...
  • Sobrou alguma mágoa? Qual?
Não sobrou mágoa nenhuma...
  • Se voltasse no tempo iria novamente para o ex-SIC? Por que?
Claro que se pensasse como penso hoje, não voltaria, simplesmente porque não era o meu caminho. Não tenho vocação para a missão sacerdotal.
  • Quais as principais mudanças que a entrada (e/ou saída) do seminário provocou em você?
Bem, com a ampliação do conhecimento, viabilizada pelo legado dos estudos que essa estadia me proporcionou, passei a ter uma visão mais antropológica e menos religiosa de nossa existência. Consequentemente, a tentativa na busca de outros caminhos, de outras ferramentas para atuar em prol da emancipação humana.
  • Se dedica à Igreja Católica atualmente?
Não.
  • Qual sua relação com a religião atualmente?
Minha relação com a religião não é mais institucionalizada. Tenho uma boa convivência com os católicos, como sempre tive, do mesmo modo como com os adeptos de outras religiões. Respeito todos, reconheço a importância da religiosidade, de uma perspectiva antropológica. Mas não vivencio aquele sentimento meio místico, espiritual, que entendo ser necessário para ser uma pessoa religiosa. É uma sensibilidade que, reconheço, nunca tive, nunca senti, apesar do esforço e da dedicação, pois sempre levei muito a sério o compromisso de estar na Igreja. Não tenho nenhuma animosidade anticlerical, apesar de discordar de muitos pontos de vista defendidos pela Igreja Católica e também pelas outras. Sempre reitero que sou muito grato à Igreja pelos recursos que ela me forneceu, me equipando inclusive para poder criticá-la. Sei o valor social da educação que recebi dela. Isso não vou esquecer jamais nem renegar.
  • Como você compara a sua religiosidade daquela época com a atual?
Como explicitei na questão anterior.
  • Como você compara a Igreja Católica daquela época com a atual?
Acho que a principal mudança foi ela ter postergado sua participação mais encarnada na luta pela emancipação social. Ela deixou de ter uma liderança mais incisiva nas coisas do mundo real. Adequou-se mais às demandas do mundo neo-liberal. Alem disso, a vejo aferrada ainda a muitas posições que me parecem inadequadas para o enfrentamento dos problemas humanos.
  • O que você acha dos reencontros com os ex-colegas do ex-SIC?
Acho ótimos e lamento não ter podido participar daqueles para os quais fui convidado. Foi uma iniciativa muito feliz de vocês que lideram o movimento. Assim que voltei da Europa, fiquei na expectativa de que ocorresse algo nessa linha, pois isso se deu com a turma do Pio Brasileiro e tem ocorrido com a turma do Ipiranga. Mas, antes tarde do que nunca... nunca é tarde para reencontros. A ausência do reatamento de laços amarrados na juventude foi uma das surpresas negativas que mais me marcaram...
  • Alguma sugestão?
Que consolidemos esta iniciativa, inclusive indo atrás de todos... Acho muito importante essa retomada de nosso convívio, sob esta forma. Até porque acredito que nossas memórias se fragilizam. Gostaria muito de resgatar mais elementos dessa trajetória.
  • Qual pergunta você gostaria de ter respondido e que não foi feita?
Não tenho outra pergunta. Tenho lido e gostado muito de todas as entrevistas. Acho que elas dão boa conta do que podemos conversar assim interneticamente, no aguardo de ocasiões mais intensas e diretas.
  • Há algum outro endereço na internet que tenha mais informações sobre você? Algum "link" que você queira divulgar?
Bem tenho um curriculum vitae na Plataforma Lattes do CNPq, por dever de ofício, e um outro na pagina da Uninove.
  • Alguma mensagem especial aos outros ex-SIC?
Um abraço muito especial a todos aqueles com quem tive a felicidade de conviver e um "muito prazer" para aqueles que estou conhecendo agora, através deste veículo.
Em tempo: meu nome de guerra no ex-SIC era Severino. Não me recordo de ter algum apelido... Cheguei a ser prefeito de disciplina dos menores, se não me falha a memoria, com o Arnaldo.

Antônio Joaquim Severino



Leram como ele valoriza o convívio entre os colegas de todas as épocas?

É uma motivação especial para que eu insista no apelo a que vocês comentem esta entrevista (e as outras também).

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J.Reinaldo Rocha(62-67)