sábado, 23 de outubro de 2010

"Gostaria que todos participassem desta entrevista prá vermos o que fizemos da vida e o que ela fez conosco"


"Casa do bosque". Ele é o primeiro dos entrevistados que viveu esta interessante mudança de paradigma. Foi uma tentativa de aplicar as novas diretrizes de formação sacerdotal ditadas pelo Concílio Vaticano II.

Sabem o que aconteceu com esta arrojada forma de seminário?

Leiam ainda as respostas, que transpiram forte emoção, de um empresário com espírito cristão e que revê o passado com um olhar prá lá de condescendente.
  • Quando entrou para o ex-SIC?
Em 1958,
  • De que cidade/paróquia?
Na ocasião Rio Claro ainda pertencia à Diocese de Campinas; posteriormente passou para Diocese de Piracicaba.
  • Por que entrou para o seminário?
Foi por mim mesmo; me imaginava missionário em áreas remotas da África, etc. Padre Juca (tio) me aconselhou que se quisesse ser padre, melhor seria procurar o seminário Diocesano; aliás eu sempre o admirei.
  • Quantos anos tinha quando entrou?
Aos 10 anos de idade (incompletos)
  • Quando saiu do ex-SIC?
Saí na ¨implosão¨ de nossa turma (1968/1969?), na casa do Bosque; na ocasião já estudava Ciências Sociais na PUC de SP, mas continuava ligado ao grupo de Campinas como seminarista, participando das reuniões, etc.
  • Quantos anos tinha quando saiu?
Não é Alzheimer não, nunca fui muito bom com datas; acho que tinha 21 anos.
  • Por que saiu do seminário?
Na ocasião achei que na estrutura/hierarquia da Igreja seria um ¨corpo estranho¨, haja visto as ¨bordoadas¨ que Pe. Nadai, nosso orientador levou do clero da época por nossa causa. Desta forma achava que poderia servir melhor a Deus como leigo.
  • O que aprendeu no ex-SIC?
Sou extremamente grato pela convivência, estudos, orientação e formação dos 10 aos 21 anos de seminário; não sei se do ponto de vista da Diocese valeu o ¨investimento¨, mas agradeço a Deus e a todo corpo docente (senão teria que citar todos que nos são caros), especialmente Mons. Bruno e Pe. Nadai, a oportunidade de viver aquele período e conhecer ¨a turma¨. Em resumo, foi onde continuei desenvolvendo ¨as boas práticas da vida¨, passando aí por bases sólidas para comportamentos, conhecimentos, fé, ...enfim, tudo que considero básico como oportunidade para uma vida.
  • O que faltou aprender?
Até hoje não sei bem se foi do tempo do seminário ou anterior a isto, mas tinha alguma dificuldade em lidar com pessoas extra-grupo, uma certa timidez em novos contatos; nada que não se consertasse em alguns anos mais de vida.
  • O que fez depois que saiu? Estudou o que?
Terminei Ciências Sociais na PUC SP; depois, alguns cursos rápidos de línguas e Administração de Empresas, seminários em várias áreas, etc.
  • Qual sua trajetória profissional após a saída do ex-SIC?
Ao final do curso em SP fui para o Mato Grosso (Fátima do Sul) gerenciar serraria da família e dar aulas na Univ. Estadual do Mato Grosso em Dourados; 3 anos depois conheci Christina em Araraquara e ainda moramos 1 ano no MT; mais 4 anos em Rio Claro, já com duas filhas, trabalhava em empresa da família, quando pintou a oportunidade de abrir a empresa (cruzetas de madeira para postes de eletricidade) na Bahia. Começo meio complicado, depois de alguns anos iniciamos a fabricação de materiais de concreto (postes, galpões e estruturas especiais), e na área de madeira, passamos a plantar, beneficiar e tratar eucalipto para construção civil. www.venturoli.com.br
  • Trabalha ainda?
Ainda bem; inclusive duas vezes por semana faço viagens na região e vou ¨prá roça¨ como se diz aqui na Bahia. Umas 50 horas de batente por semana, umas feiras (aqui e no exterior) e vários leões prá matar a cada dia e, quase toda tardinha, a Gigi (labradora preta) me leva prá passear. Ah, 10 dias a cada final de ano com toda família é sagrado.
  • Casou? Tem filhos? Netos?
Nos 33 anos de casamento com Christina, vieram Maíra (30), Flávia (28) - safra de SP e Gabriel (24) safra da BA. Netos? Minhas preces ainda não foram atendidas, mas como não se pode fazer pressão... é aguardar.
  • Quais as recordações mais marcantes do tempo de ex-SIC?
Muitas; desde o ¨parabellum¨do Mons. Abreu e os clientes hipnotizados em sua sala, as cusparadas de Mons. Roldão que punham os porquinhos da Índia do claustro prá correr, a Tuca (macaquinha) que entrava na capela, os terços à noite, as meneadas de Mons. Bruno, músicas e ensaios do Pe. Canoas, os gostosos passeios do seminário, participações no coral, as direções espirituais, vixe - é tanta coisa gostosa que vem à lembrança ...
  • Cite um personagem com quem conviveu na época e que o impressionou positiva ou negativamente.
O tempo passa e tendemos a ver as coisas com mais condescendência; até um estojo quebrado por Pe. Sena na minha cabeça, por estar brincando na hora de estudo traz boas lembranças. Exemplos edificantes, como Mons. Bruno, Pe. Nadai, Cônego Luiz, Pe. Vanim, Brother Paul, Pe. Gaspar, Pe. Lauro Sigrist, Pe. Couto, Pe. Faur e as aulas de educação física, Irmãs Leonor (Boeing), Cecília aquela Negra mãezona - ô bichinha fofa - que era toda carinhos com ¨meus meninos¨; Gera e Alexandre sempre na área. E os companheiros, Benini sempre impagável, Cutuba ao piano, goleiro Osmar, Chico Fumaça, Paulo César, Bié, Bolinha, Bruninho, Boi, Felício, Guedes, Cunha (com mania de muçulmano?)
  • Sobrou alguma mágoa? Qual?
Zero!
  • Se voltasse no tempo iria novamente para o ex-SIC? Por que?
Foi o que quis e não existe ¨se¨.
  • Quais as principais mudanças que a entrada (e/ou saída) do seminário provocou em você?
Ao deslumbramento da primeira chegada seguiu-se o sentimento de abandono ao me ver sem mãe e era doída a distância da família, sobretudo nos primeiros tempos.
  • Se dedica à Igreja Católica atualmente?
Participamos normalmente da missa aos domingos, encontros de casais, etc
  • Qual sua relação com a religião atualmente?
Cada vez mais é uma visão da vida; as boas práticas de empresas, de negócios, de ¨caridade¨, se fundem na busca dos ideais evangélicos aplicados no dia a dia; não consigo entender um mal pagador religioso; a atual preocupação das empresas com sustentabilidade ambiental e social - nada mais que desdobramentos dos princípios cristãos, e por aí adiante ...
  • Como você compara a sua religiosidade daquela época com a atual?
Cada uma em cada fase; meio romântica na adolescência, mais pé no chão e sempre inquieta na dimensão atual.
  • Como você compara a Igreja Católica daquela época com a atual?
Era um referencial mais nítido e pesado naquele mundo; com a diversidade e linguagem atuais não é fácil, nem os caminhos tão claros para se posicionar.
  • O que você acha dos reencontros com os ex-colegas do ex-SIC?
É muito gratificante rever os amigos e avivar o passado.
  • Alguma sugestão?
Continua valendo a velha máxima: religião, política e cor não dá prá discutir; parece que Dilma e Serra conseguiram abalar a reedição de velhas amizades. Pelos e-mails recebidos tem gente se debicando, mas amanhã tudo será definido - ao que tudo indica Dilma. sniff, sniff, cof, cof (Nota do publicador: Isto foi escrito antes de 03 de Outubro, dia do primeiro turno).
  • Qual pergunta você gostaria de ter respondido e que não foi feita?
Nada me ocorre.
  • Há algum outro endereço na internet que tenha mais informações sobre você? Algum "link" que você queira divulgar?
Digitando o nome no google aparece alguma coisa, o sobrenome acrescenta parentes conhecidos daqui e ignorados da Itália; Electra na Bahia é sociedade ligada a produtos de concreto; acima já citei o site de nossa empresa de madeira, www.venturoli.com.br
  • Alguma mensagem especial aos outros ex-SIC?
Paz, saúde (são do meu tempo e isto é valioso agora), tudo de bom prás nossas famílias.
Gostaria que todos participassem desta entrevista prá vermos o que fizemos da vida e o que ela fez conosco, e prá torcermos uns pelos outros.



Paulo Aurelio Venturoli





Espero que o chamamento à participação feito pelo Venturoli sensibilize os que ainda não se decidiram a participar, sejam como entrevistados, sejam como comentaristas das entrevistas.

Comentar é fácil. Basta escrever no espaço de comentários (logo abaixo), identificar -se no caso de comentar como anônimo e clicar em "Postar Comentário". Se, antes de postar quiser ver como ficará, clique em "Visualizar". Mas, atenção: só será publicado se clicar em "Postar comentário"

Quem quiser saber mais sobre a "Casa do Bosque" pode ler a entrevista que o Pe. Nadai concedeu a "O Circular" na época. (páginas 12 e 19) Ou a tese escrita pelo Pe. Meschiatti

Há ainda uma entrevista dele que o Grego descobriu, cujo "link" é este:
https://docs.google.com/document/edit?id=1zBQI1JhmRtvAGFeR50MHDTRpcKms5IAa3MSE_-mPmKE&hl=pt_BR&authkey=COzAi6ME

Ainda, por sugestão do Grego o próximo final de semana será dedicado apenas às eleições e não teremos entrevista publicada.

Abraços a todos e desejo de votos conscientes visando um Brasil do futuro e não apenas do presente.


J.Reinaldo Rocha (62-67)

4 comentários:

  1. Venturoli, boa tarde!
    Parabéns pelo conteudo das respostas. Fomos contemporâneos em 61 e 62, nos quais também pudemos vivenciar emoções de ter participado do coral. Fiquei satisfeito em saber que o colega tem "rasgado" o chão do nosso país prestando seus serviços. Foi extremamente feliz ao conclamar a que ex-colegas dêem sua colaboração para que continuemos a escrever as reminiscências do nosso inesquecível "Seminário da Imaculada de Campinas"...
    Fortíssimo abraço
    José Fernando Crivellari

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  2. Aí,Venturoli! Eu também era de 58,tenho uma certa lembrança de vc na minha classe,eu já grandão e vc pequenininho! Mas não me lembro porque você não estava mais naminha turma até 66,quando fui para o Ipiranga. Mas,quero comentar alguns pontos:
    1. Estojada na cabeça!!! Isso que era educação! Hoje,nem falar com o aluno com o dedo em riste não podemos,o ECA nos condena. Lembro-me desse dia como se fora hoje! Eu sentava na fileira da janela e vc, 2 ou 3 carteiras na terceira fileira e jogava botão,comportadinho,como um bom menino! Nessa ocasião, o Pe. Senna era prefeito dos estudos e seus sapatos não faziam barulho. Chegou por detrás e...o resto é com vc e mais ninguém. Essa cabeça dura que você tem,ou teve, o livrou de uma complicação,heim?
    2. De religione, politica, mulieribus et coribus non disputantur(o latinório é de minha apropriação),vc está certo. Está havendo um verdadeiro abuso,um bombardeio de e-mails agressivos e maldosos, um verdadeiro desrespeito à tão propalada democracia. Eu não posso discutir religião, porque são tantos os credos ou seitas, acabo desrespeitando a liberdade religiosa do outro.Também na política, nem todos são do meu partido e,aí,como cristão,tenho que respeitar a escolha partidária do outro! Agora,veja bem, eu sou professor do Estado, castigado pelo Serra e agora,com salário diferenciado, um sistema de ensino caótico, com a tal promoção automática,polícia batendo em professores ... eh! é melhor não discutir mesmo e esperar o dia "primeiro de novembro",ksksksksks.
    Gostei muito de sua entrevista e de seu testemunho de vida.
    Um abraço.
    Lúcio

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  3. Apesar de apenas 2 comentários nessa entrevistas, nossos indicadores mostram que essa entrevista foi vista 96 vezes.
    O Venturoli, apesar de ser de 1958, qdo entrei no SIC em 1965 estava no 2o.colegial. A turma dele acho que era a que mais apelidos tinha: Boi(Antoniazzi), Bié(Gabriel), Bolinha(SergioCardoso), Boing(Raul),Patinhas(Venturoli), Pedrão(Leonídio),Bartolo(Bartolomeu),Pipoca(JoãoCarlos), Felício (tinha mas não me lembro)...rs.
    Em 1967 deveriam começar a Filosofia no Ipiranga, mas então já estava decidido o desmonte do SIC e destino de quem saía seriam casas de formação e estudos na PUCC. Essa turma foi um marco no fim do SIC porque até eles ainda existia a COMUNIDADE e depois deles virou uma coisa assim como: cada um prá si. Acabaram-se os belos campeonatos de todos os esportes, acabaram Gremio e Academia, acabaram as peças e shows, acabaram-se missas solenes, coral e até os retiros fóra. Sem Comunidade acabou-se a vida interna e seguiram-se ainda 6 anos de definhamento.

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  4. Acho que você está falando isso por que ainda não viu o site www.tvdigitalnopc.com.br

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