sábado, 31 de julho de 2010

"Sou apaixonado pela vida e procuro vivê-la intensamente"

Nosso entrevistado de hoje faz uma veemente profissão de fé pela vida. Veemência e paixão são suas principais características.
Isso é o que vocês podem conferir a seguir. Só com estas informações já é possívlel saber de quem se trata? Acho que ainda não. Então, leiam até o final.
  • Quando entrou para o ex-SIC?
Entrei no seminário em 1965.
  • De que cidade/Paróquia?
Sou natural de Limeira, paróquia N.Sra. das Dores (atualmente é a catedral da Diocese).
  • Por que entrou para o seminário?
Creio que foi mais por impulso, ainda era muito novo para discernir sobre minha vocação.
  • Quantos anos tinha quando entrou?
Apenas 12 anos.
  • Quando saiu do ex-SIC?
Em 1968 , após a conclusão do ginasial
  • Quantos anos tinha quando saiu?
Sai com 15 anos.
  • Por que saiu do seminário?
Sou o filho mais velho (tenho mais cinco irmãos) e a necessidade de trabalhar e ajudar no orçamento doméstico pesou mais.
  • O que aprendeu no ex-SIC?
Muita coisa...responsabilidade, disciplina, organização, respeito, gosto pelo estudo... e até arrumar a cama e fazer pão.
  • O que faltou aprender?
Talvez jogar futebol um pouco melhor (era da seleção B dos menores) e chutar com os dois pés (até hoje sou canhoto).
  • O que fez depois que saiu? Estudou o que?
Minha formação acadêmica foi em Ciências Contábeis, mas nunca exerci a profissão.
  • Qual sua trajetória profissional após a saída do ex-SIC?
Logo que sai do SI trabalhei no armazém de meu avô, depois em pequenas empresas de Limeira como auxiliar de escritório. Em 1977 fui contratado pela Bosch para trabalhar como analista de planejamento de vendas na divisão de ferramentas elétricas.
  • Trabalha ainda?
Não. Em 2006 aposentei-me na Bosch na coordenação de planejamento/logística para comércio interno e exportação.
  • Casou? Tem filhos? Netos?
Casei-me em 1977 com Regina (que linda mulher..) em temos duas filhas: Fabiana com 31 anos e atriz profissional e Vanessa com 29 anos e assistente social. Netos ??? estamos aguardando, quem sabe...
  • Quais as recordações mais marcantes do tempo de ex-SIC?
As viagens de trem para casa/seminário, a convivência de um ambiente muito saudável, a iniciação na catequese infantil, as "peladas" de futebol...
  • Cite um personagem com que conviveu na época que o impressionou positiva ou negativamente.
Pode ser dois ? Mons. Bruno Nardini e Pe. Daólio.
  • Sobrou alguma mágoa? Qual?
Não, nunca guardo mágoa alguma.
  • Se voltasse no tempo iria novamente para o ex-SIC? Por que?
Olha, creio que sim, este período foi muito importante na minha formação como ser humano.
  • Quais as principais mudanças que a entrada (e/ou saída) do seminário provocou em você?
Senso de responsabilidade e discernimento nas diversas atividades.
  • Se dedica à Igreja Católica atualmente?
Atualmente participo das celebrações, mas já fui catequista de crianças e adultos. Já participei do conselho paroquial e econômico.
  • Qual sua relação com a religião atualmente?
Acredito que somos a imagem e semelhança do Criador e podemos conquistar a felicidade.
  • Como você compara a sua religiosidade daquela época com a atual?
Quando se descobre Este Deus que se faz homem e vem habitar entre nós, creio que a religiosidade sempre vai sendo alimentada e cresce.
  • Como você compara a Igreja Católica daquela época com a atual?
Entendo que a Igreja somos todos nós e ela estará sempre em construção. Não é estática, mas dinâmica. É necessário o engajamento de todos os leigos.
  • O que você acha dos reencontros com os ex-colegas do ex-SIC?
Ótimos, é muito bom rever os amigos e confraternizar com todos.
  • Alguma sugestão?
Creio que temos que dar mais espaços para nossas mulheres nos encontros.
  • Qual pergunta você gostaria de ter respondido e que não foi feita?
Qual meu time do coração? É a INTER de Limeira (para surpresa do Grego).
  • Há algum outro endereço na internet que tenha mais informações sobre você? Algum "link" que você queira divulgar?
No momento não.
  • Alguma mensagem especial aos outros ex-SIC?
Sou apaixonado pela vida e procuro vivê-la intensamente. Amo muito quem me ama e não tenho ódio de quem porventura não me ame. Todos nós somos agentes transformadores, sejamos para o bem. VIVA, VIVA, VIVA...

Wilson Fonseca Santos Filho




Aguardamos seus comentários. Principalmente sobre a sugestão de maior participação das mulheres nos encontros.Comentem e nos deem sua opinião de como fazer isso da melhor maneira possível.

Para os que não estão familiarizados com este espaço e querem ler (ou reler) as publicações anteriores, procurem na lateral direita o "Arquivo do blog". Elas estão agrupadas por ano e mês em que foram publicadas. Clicando-se no ano, aparecem os meses do ano e a quantidade de publicações por mês. Clicando-se no mês é possível o acesso às publicações por título. Basta clicar no título para lê-la. As entrevistas começaram em abril/2010.

Ao escolher uma delas, no final da publicação estão os comentários.que a mesma recebeu. Há em média 4 a 5 comentários por publicação.

Portanto, quem ainda não leu os comentários, aproveite a dica. Principalmente os entrevistados que ainda não leram os comentários feitos às respectivas entrevistas. E, se quiserem, podem comentar os comentários!

Em qualquer circunstância em que for comentar como anônimo, não esquecer de identificar-se.

[]'s a todos e até a próxima entrevista

J.Reinaldo Rocha(62-67)





domingo, 25 de julho de 2010

"Participei da criação da primeira “Bolsa Família” implantada no Brasil"

Vocês sabiam que o tão badalado projeto "Bolsa Família" teve um de nossos colegas como co-criador em sua pioneira versão?

Não?

Então leiam a interessante, e influente, trajetória de "um dos nossos".

Quem é ele? Ah! Isso só lá no final da entrevista.


  • Quando entrou para o ex-SIC?
No segundo semestre de 1955. Acho que no mês de agosto. No curso de Admissão. Foram 5 meses de estudo para poder entrar para valer, em 1956, no curso ginasial. Já vou dizendo que tive um grande “anjo” nos meus primeiros dias de seminário. Foi o Álvaro Augusto Ambiel, hoje pároco da Catedral de Campinas.
  • De que cidade/paróquia?
Em primeiro lugar da paróquia de Santa Cristina da Pousa, no concelho de Barcelos, em Portugal de onde havia chegado há exatamente um ano. Vim morar em Campinas, na Vila Nova, paróquia de Nossa Senhora das Graças, cujo vigário era o Padre Antônio Roccatto.
  • Por que entrou para o seminário?
Desde muito menino era ligado às coisas da prática religiosa. Fruto de uma educação e tradição de família e de um cuidado especial de minha mãe. Aos quatro anos já freqüentava a catequese e fazia a primeira comunhão. Cantava no coral da Igreja, coisa que continuei fazendo no seminário. Nunca fui coroinha, mas era uma criança participativa. Na Vila Nova, continuei a participar das atividades de catequese, orientado por uma religiosa, irmã Nilza, das Missionárias de Jesus Crucificado. Um belo dia ela perguntou ao grupo: “quem quer entrar para o seminário?” Me apresentei. Fui o único, pois esse sonho já vinha desde que meu tio, dois anos mais velho que eu, entrara para a vida religiosa em Portugal.
Foi assim: participação, convite, história, aceitação e... entrada no seminário.
  • Quantos anos tinha quando entrou?
Onze anos e poucos meses.
  • Quando saiu do ex-SIC?
Em junho de 1964, já no Seminário de Filosofia de Aparecida do Norte.
  • Quantos anos tinha quando saiu?
Vinte anos a poucos meses.
  • Por que saiu do seminário?
O medo me fez sair. Medo, principalmente, da solidão. E tem uma explicação para isto: Em 1963, durante as férias, fui visitar a paróquia de Cravinhos, próxima a Ribeirão Preto. Fiquei por lá uma semana, em contacto com o pároco (não me lembro mais de seu nome) e com as lideranças cristãs da comunidade. Fiquei muito impressionado com a vida do pároco desta pequena cidade e do que eu achei uma solidão muito grande. E saí.
  • O que aprendeu no ex-SIC?
De tudo um pouco. E do pouco que eu sei, e que é importante para a vida, tudo. O que veio depois veio sobre a base construída. Se quisermos falar de humanidades e de visão de mundo, vide Comblin; se de matemática, Euclides Sena; se de línguas, Luis de Campos; se de português, aliado a civismo, política e experiência de mundo, Luis Fernandes de Abreu; se de gestão e economia, Bruno Nardini; se de espiritualidade José Gaspar e Lauro Sigrist. De cada um ficou uma marca e um “aprendimento”. E de todos, padres, freiras, colegas e professores leigos, a convivência, o espírito do coletivo, a responsabilidade e a disciplina. É pouco? E a capacidade de pensar, a dialética, a oratória? E os ensinamentos da filosofia? Muitas vezes me surpreendo, voltando àqueles tempos e sentindo o quanto de útil ficou para minha vida.
  • O que faltou aprender?
Aquilo que eu não sei.
  • O que fez depois que saiu? Estudou o que?
Fiz faculdade, estudei economia, ainda fiz parte de movimentos no pós 64 (Ação Popular, Ação Católica). Não fiz guerrilha. Mas muitos dos nossos amigos fizeram e pagaram com a vida por terem feito. São os heróis que eu não fui.
  • Qual sua trajetória profissional após a saída do ex-SIC?
Trabalhei em várias empresas, mas minha carreira enveredou pela área da computação e informática. Dos últimos trinta anos, pelo menos 70% foram em atividades técnicas, na área de informática, em órgãos públicos, como Prefeitura de Campinas, Ministério da Saúde, Prodesp, Prodam e outros. Também fui, durante o governo do Prefeito Magalhães Teixeira, em Campinas, fora da área de informática, seu Secretário de Governo, e participei da criação da primeira “Bolsa Família” implantada no Brasil, em 2004, no município de Campinas. Fui um dos articuladores deste projeto.
  • Trabalha ainda?
Ainda. Se não vou viver de quê?
  • Casou? Tem filhos? Netos?
Casado com Maria Helena. Daniel, Lucas e Raquel, filhos. Fernando e Isabela, netos, filhos do Lucas, por enquanto.
  • Quais as recordações mais marcantes do tempo de ex-SIC?
Mais do que fatos, pessoas. São muitas e muito diferentes. Uma riqueza só.
  • Cite um personagem com que conviveu na época que o impressionou positiva ou negativamente.
Dos positivos, já citei acima mas posso repetir: Padre Sena, Monselhor Luis de Abreu, Monsenhor Bruno Nardini, Pe. Comblin. Osvaldo Vanim que mudou nossa vida. Muitos colegas que me ajudaram a ser eu. São tantos que não vou nominar, mas cito o Buti, que já se foi e o Benini que está conosco, come pizza conosco todo mês e que era uma grande alegria para todos.
Negativos? Esqueci todos.
  • Sobrou alguma mágoa? Qual? .
Podia ter aproveitado ainda mais este tempo. Se não aproveitei, foi responsabilidade minha. E como José Luiz Borges, poderia ter visto mais amanheceres e entardeceres; Sido um pouco menos certo, embora não fosse tão certinho assim; aprendido mais com os fatos e as pessoas.
  • Se voltasse no tempo iria novamente para o ex-SIC? Por que?
Como o tempo não volta... não sei dizer. Um só sinal poderia ter mudado tudo.
  • Se dedica à Igreja Católica atualmente?
Dedicação ativa, em trabalhos ligados à Igreja, não. Já participei de Equipe de Casais e mais atividades comunitárias. Hoje continuo a participar de missa semanal, às quintas feiras. A vida profissional acabou ocupando mais espaço que deveria.
  • Qual sua relação com a religião atualmente?
Menos dependente. Mais madura. Mais opção, menos obrigação.
  • Como você compara a Igreja Católica daquela época com a atual?
Vivi antes e após Concílio Vaticano II. Antes e após Teologia da Libertação. Antes e após “Opção Preferencial pelos Pobres”, antes e após João Paulo II e Bento XVI. São muitas comparações de uma Igreja cheia de matizes em busca da sua identidade com a sociedade e o tempo atual, em que pesem as imensas dificuldades. Saber acolher as diferenças e contrastes de uma sociedade laica é o grande desafio. Acho que a palavra da Igreja será “ACOLHIMENTO”.
  • O que você acha dos reencontros com os ex-colegas do ex-SIC?
São ótimos momentos de retorno. Rever e reviver. Rever e abraçar. “É MAIOR BOM” para usar a forma de falar de nossas crianças.
  • Alguma sugestão?
Novas formas poderão ser criadas. O importante é não deixar de fazer.
  • Qual pergunta você gostaria de ter respondido e que não foi feita?
Isto aqui foi quase um interrogatório... Tudo muito bem. Tudo muito bom.
  • Alguma mensagem especial aos outros ex-SIC?
Um abraço. Paz. Saúde. Vida longa a todos.

 Arnaldo Machado


Lógico que estamos aguardando seus comentários.

Vocês leram? Ele tem medo de solidão. Para se safar deste medo, nada melhor perceber que está cercado de amigos e pessoas que gostam de estreitar relacionamentos.

Só não esquecer de identificar caso utilizem a modalidade "anônimo".

[]'s e até a próxima.


J. Reinaldo Rocha(62-67)


 

domingo, 18 de julho de 2010

"Um dia fomos todos presos pois o exército nos imaginou ligados a Guerrilha do Araguaia"

Hoje quem responde às perguntas é um pré-ex-SIC. Mas, faz parte da nossa comunidade e não deixa de participar sempre que há oportunidade.

Vai ser difícil descobrir de quem se trata antes de chegar ao final da entrevista. Mas garanto que, pelas aventuras por que passou e respostas detalhadas, vocês terão enorme prazer em lê-la por inteiro.

1 - Quando entrou para o Seminário?
Entrei no Seminário D.Barreto em 27/02/1947.
2 - Saiu de que Cidade/Paróquia
Saí de Campinas, da paróquia do Cambuí, N.Sra. das Dores, mas neste mesmo mês minha família se mudou para S. Carlos.
3 - Porque entrou para o Seminário?
Era cruzadinho e coroinha e achava legal ser padre como meu vigário, cônego Lázaro.
4 - Quantos anos tinha?
Entrei com 12 anos, após completar o primário,
5 - Quais seminários freqüentou?
Seminário Menor: D.Barreto e o Diocesano.
Seminário Maior, o Central do Ipiranga, Filosofia e Teologia.
6 - Quando se ordenou?
Ordenei-me dia 18/12/1960, na Paróquia do Cambuí.
7- Quantos anos tinha quando se ordenou?
Tinha 25 anos, e muito entusiasmo para trabalhar com jovens, mas reconheço que ainda era cedo para assumir uma paróquia.
8 - Que atividades exerceu?
Fui 6 meses coadjutor em Amparo, com Mons. Lisboa, que com toda sua peculiaridade e esquisitice, era um grande homem e administrador.
9 - Relação com Ex SIC?
Procuro manter sempre que posso estreita ligações com ex colegas, de minha época, participo dos encontros que programamos. Com os mais recentes (ex-SIC) turma de 60/70 é mais raro pois estou muito longe, mas acompanho as notícias principalmente pelo colega Chiavegato.
10 - Porque deixou a batina?
Não é fácil responder, há uma série de situações...Após 10 anos de exercício do sacerdócio como vigário na Vila Teixeira e depois em Indaiatuba, na Candelária, assistente da JOC feminina, ainda fiz uma experiência de trabalho, durante os anos 70, junto aos índios Pacaas-Novos em Rondônia com os Freis da 3º ordem franciscanas, mas não conseguia mais me animar com a vida sacerdotal. Acho também, que o Golpe de 64 confundiu nossas cabeças e arruinou todo um trabalho junto a Ação Católica. Tudo se tornou perigoso, amigos presos, a própria Igreja em posições conflitantes, uma vida meio dupla, pensando uma coisa e fazendo outra. Resolvi dar um tempo e vim para Manaus, onde fui convidado por um grupo de jovens para iniciar o MEB- Movimento de Educação de Base, ligada a CNBB, no Amazonas. Um trabalho muito legal, alfabetização de adultos via rádio. Mas foi desbaratado pela ditadura e um dia fomos todos presos pois o exército nos imaginou ligados a Guerrilha do Araguaia, que se iniciava no sul do Pará. Foi uma merda. Fui convidado, em 1973 a trabalhar na EMBRAPA, que iniciava suas atividades no Amazonas e aí fiquei até me aposentar em 2001.
Posso dizer que tive muita sorte na minha vida profissional, pois a Embrapa é uma grande Empresa, muito séria, com profissionais competentes e voltados ao apoio ao homem do campo. Viajei muito por todo Amazonas visitando escritórios e comunidades rurais, animando nossos técnicos alocados no Interior do Amazonas, onde a situação de vida é brava, e muito precária.
11- Houve alguma represália da parte da Igreja?
Nenhuma e nunca, pelo contrário, continuo com minha fé, sempre ajudando nas paróquias e movimentos de casais com apoio dos padres e bispo. Sou hoje voluntário da Arquidiocese de Manaus, participo do Conselho de Administração da Arquidiocese e responsável pelo Patrimônio da Arquidiocese, com meu amigo e colega de turma do Central do Ipiranga, D Luiz Vieira, atual Arcebispo de Manaus e que naquela época era da Diocese de Botucatu.
Minha Trajetória, acho que já contei resumidamente...
12 - Trabalha ainda?
Após me aposentar fui convidado por D.Luiz, para ajudar na Arquidiocese para colocar em ordem o seu Patrimônio, o que faço até hoje como Voluntário.
Um trabalho legal, mas chato pra caramba, procurar documentação de imóveis, isenção de impostos, levantamento de títulos de propriedade e tudo mais e ainda a desorganização de alguns párocos e muito contato com secretarias e cartórios, uma burocracia tremenda.
13 - Casou? Filhos? Netos?
Casei direitinho na igreja, após fazer meu curso de preparação, com um grupo de noivos. Tenho uma filha e dois lindos netos.
14 - Recordações do Ex-SIC?
São inúmeras recordações, com muita saudades. No Seminário Diocesano, onde ficamos de 1950 a 1954, era um grupo pequeno, pois estava sendo construído o Grande Seminário lá na SWIFT, e isso favoreceu uma união muito grande que dura até hoje entre nós. Foi um tempo muito bom.
15 - Personagens que o impressionaram?
No tempo de seminário - menor tivemos um reitor muito paternal que foi D.Melilo, um Pe. Mateus sério e carrancudo, mas de uma dedicação exagerada, maternal, um professor espetacular Pe. Adriano, um sábio holandês, velho na idade mas de uma juventude cativante. Pe. Sena, um sábio em qualquer disciplina na área das ciências exatas e assim muitos outros. Entre os colegas me impressionava a capacidade de concentração do Vivaldo, nosso Cotia, a inteligência do Celso, a oratória do Buch e do Eduardinho, o comportamento calmo e sério do Nadai, os craques nos esportes, Mário, Loreti, Paulinho de Limeira, Laerte na ponta esquerda, Chicão de Amparo, o Gastão e tantos outros que poderiam fazer parte da seleção do Dunga. Poderia falar das qualidades de cada colega.
No Seminário Maior, são muitas personalidades, uma série de professores advindos do após guerra, sofridos pela fuga dos países do Leste europeu atrás da cortina de ferro, com suas limitações de cultura, língua e traumas sofridos. Mas havia grandes professores, como Pe Martins na filosofia, Pe. Roxo na teologia Pe. Ciwinski no grego e hebraico.
Sinceramente não há grandes decepções, com relações a pessoas, superiores ou professores, nem tudo era perfeito, mas graças a Deus nunca encontrei maus exemplos, ou grandes desajustes nem em professores nem em colegas.
15 - Sobrou mágoas?
Nenhuma, só saudades.
16 - Se voltasse no tempo, trilharia novamente?
Não sei, os tempos são totalmente diferentes, é impossível pensar como naquela época.
17 - Mudanças provocadas com a saída do grupo clero.
É claro, foi uma grande mudança. Com a saída do meio clerical, a gente se sente só, meio perdido, começa nova vida, meio estranha... mas penso que todo esforço para se achar novamente, sobreviver, contato afetivo com o mundo feminino, passar dificuldades financeiras e tanta coisa mais, ajudaram a gente se amadurecer, compreender mais a vida, as pessoas. É uma mudança radical.
18 - Se dedica a Igreja Católica atualmente?
Sim, como disse sou Voluntário na Arquidiocese de Manaus e participo de um grupo bem eclético de pessoas que ajudam uma comunidade carente na periferia da cidade nos finais de semana e participo da vida de minha paróquia.
19 - Compare sua religiosidade de antes e agora.
Hoje minha vida religiosa é mais madura. O passar do tempo nos ensina e agora na 3º idade, somos mais humanos, compreensivos. Nos arrependemos tanto de nossas exigências e rabugices do passado. Não somos nada, tudo passa tão depressa e isso nos faz compreender mais a figura misteriosa de DEUS – PAI. Quantas vezes no tempo do seminário, nos dias de retiro nos julgávamos condenados ao Inferno. Hoje, penso que Deus dá um jeito para acomodar todo mundo no céu.
18 - Como comparar a Igreja de Ontem com a de Hoje?
São situações diferentes, o mundo mudou, a igreja mudou, e penso que há aspectos bem positivos. A participação do leigo, dos fieis, hoje é bem maior que antigamente no aspecto religioso. No nosso tempo havia mais uma preocupação e entusiasmo com a mudança do mundo. Apareceram os movimentos de Ação Católica, Mundo Melhor, que procuravam cristianizar a realidade em que vivíamos. O mundo após o horror da guerra exigia uma mudança e a igreja aparecia como capaz de restaurar a humanidade.
Não quero e nem acho justo muita comparação, os tempos mudam.
20 - O que acho dos nossos encontros?
Acho um negócio muito bom, muito bacana, pena que alguns já partiram e outros não apareçam.
21- Sugestão?
Se possível programar esses encontros juntos, a turma mais antiga (anos 40/50/60) com os mais novos (anos 70/80), não sei se há turma dos anos 90.
Para terminar, gosto de receber notícias dos amigos. Assino um jornalzinho dos ex de S.Roque, onde aparece notícias de colegas que passaram pelo Central do Ipiranga, chama ECHUS e é muito legal. Agora com a Internet podemos intensificar nossos contatos. Aqui vai meu e-mail, escrevam: herminio@vivax.com.br. Em Manaus estamos a disposição de todos, venham conhecer as belezas do Amazonas, antes que as grandes hidroelétricas, acabem com elas.
Abração. Hermínio.
  


Hermínio Bernasconi

Seus comentários são muito importantes. Servem de "feedback" a nós que publicamos as entrevistas e mais ainda aos entrevistados. Lembrando: se comentar como anônimo, não esquecer de identificar-se.


Aproveito para agradecer a todos os que têm aceito participar desta série de entrevistas. Sei que algumas perguntas incomodam e nos obrigam a refletir sobre coisas que estavam "dormentes" em nossas mentes. Mas, compartilhar estas reflexões e opiniões, tenho convicção, ajuda-nos a entender melhor os que conviveram conosco no passado e nos acompanham no presente.

J.Reinaldo Rocha(62-67)



domingo, 11 de julho de 2010

"Imagino, que a sociedade mudou e a Igreja, nem tanto"

Se eu informar que ele tem emprestado sua chácara para vários de nossos encontros, a maioria já saberá quem é nosso personagem de hoje.

O que pouca gente sabe é a maneira mais que inusitada de como ele saiu do seminário.

-Qual foi?

- Ah! Só lendo as respostas diretas e econômicas de:

José Arthur Escodro
  • Quando entrou para o ex-SIC?
1961
  • De que cidade/paróquia?
N. Sra. Candelária, Indaiatuba.
  • Por que entrou para o seminário?
Sonho materno de ter um padre na família, dado que freqüentava a paróquia e era coroinha.
  • Quantos anos tinha quando entrou?
10 anos.
  • Quando saiu do ex-SIC?
Ao final do ano de 1965.
  • Quantos anos tinha quando saiu?
15 anos.
  • Por que saiu do seminário?
À época os repetentes tinham que sair. Simplesmente esqueci de comparecer para a prova de segunda-época de matemática, realizada no período das férias de fim de ano . Marcada nova data apenas para que eu a fizesse, compareci e, naquele momento, decidi sair. Simplesmente assinei a prova, sem responder às questões.
  • O que aprendeu no ex-SIC?
Creio que, principalmente disciplina. Aperfeiçoei, ainda, o gosto pelos esportes, aprendi a conviver em comunidade e, certamente, fui beneficiado no futuro pela qualidade dos estudos. O ambiente vivido era propício para semear posturas adequadas aos alunos, se estes, naturalmente, estivessem abertos aos ensinamentos que ali obtivessem. Penso que foi o meu caso, em face da minha personalidade.
  • O que faltou aprender?
Difícil responder, dado que haveria necessidade de comparar com o que teria aprendido fora dali. Voltando aqueles tempos, creio que nada.
  • O que fez depois que saiu? Estudou o que?
Fiz escola técnica de comércio e depois o curso superior de Ciências Contábeis.
  • Qual sua trajetória profissional após a saída do ex-SIC?
Comecei a trabalhar em serviços administrativos de empresas logo após minha saída e a estudar a noite, até os 24 anos, quando iniciei carreira em firma de auditoria independente, atividade que exerci, em todos os seus níveis (de assistente a sócio), durante 15 anos. Fui professor durante alguns anos em escola superior de administração (a FGV-SP) em cursos de extensão universitária, tive uma pequena passagem (2,5 anos) por órgão governamental responsável pela supervisão do mercado de capitais como diretor (a Comissão de Valores Mobiliários – CVM, que tem jurisdição sobre bolsas de valores, companhias abertas e auditores independentes) e, depois disso e até o presente momento, iniciei carreira solo de consultor nas áreas afins.
  • Trabalha ainda?
Sim e espero continuar a fazê-lo nos próximos anos.
  • Casou? Tem filhos? Netos?
Sou casado, tenho duas filhas e nenhum neto.
  • Quais as recordações mais marcantes do tempo de ex-SIC?
A vida em comunidade, os estudos e, naturalmente, a prática dos diversos esportes que aprendi.
  • Cite um personagem com que conviveu na época que o impressionou positiva ou negativamente.
Difícil individualizar. Os professores e os padres responsáveis pela administração eram referência e, creio, exemplos a seguir à época, para uma criança-adolescente.
  • Sobrou alguma mágoa? Qual?
Não.
  • Se voltasse no tempo iria novamente para o ex-SIC? Por que?
Creio que repetiria, se com 10 anos. Como adulto, não, haja vista que tenho convicção de que não concluiria os estudos para transformar-me em padre.
  • Quais as principais mudanças que a entrada (e/ou saída) do seminário provocou em você?
Difícil dizer, pois penso que essa resposta, para ser objetiva, teria que poder comparar com a vida fora dali no mesmo período.
  • Se dedica à Igreja Católica atualmente?
Não.
  • Qual sua relação com a religião atualmente?
Nenhuma.
  • Como você compara a sua religiosidade daquela época com a atual?
Não sou religioso hoje e, àquela época, seguia o que a família entendia como adequado.
  • Como você compara a Igreja Católica daquela época com a atual?
Não tenho como avaliar, dado que não a freqüento. Todavia, imagino, que a sociedade mudou e a Igreja, nem tanto.
  • O que você acha dos reencontros com os ex-colegas do ex-SIC?
Um momento muito agradável, dado que o que nos une é a lembrança de momentos agradáveis e felizes que passamos juntos como crianças-adolescentes. Não há, nessas lembranças, momentos desagradáveis.
  • Alguma sugestão?
Não.
  • Qual pergunta você gostaria de ter respondido e que não foi feita?
Nenhuma.
  • Há algum outro endereço na internet que tenha mais informações sobre você? Algum "link" que você queira divulgar?
Não.
  • Alguma mensagem especial aos outros ex-SIC?
Que é muito bom revê-los periodicamente e que, sempre que possam, que continuem a prestigiá-los com a presença. Um forte abraço a todos.



Aí estão as respostas do Arthur. Agora, aguardamos seus comentários.

Vamos aproveitar a internet para compartilhar nossas ideias!

Na década de 80 precisei ir à Praça da Sé  pelas "Diretas Já"

Já, neste ano utilizei a internet para assinar um manifesto que pressionou o Congresso a aprovar a lei "Ficha Limpa".

Definitivamente, estamos em outros tempos!

- Mas...posso comentar, mesmo não tendo conta no Google?
- Sim. Pode comentar como "anônimo". Neste caso, identifique-se, por favor.

Até a próxima.

Postado por J.Reinaldo Rocha(62-67)



sábado, 3 de julho de 2010

"Na área profissional eu não era conversado, precisava de ajuda e não encontrei quem me desse ajuda"

Para os "novatos" ele era considerado um mestre, um conselheiro, ou um "irmão mais velho". Isso devido a sua paciência, sapiência e religiosidade.
Talvez por isso ele seja um dos que mais comentam as entrevistas dos demais colegas. Também por isso, talvez, ainda exerça sua atual profissão.
Qual sua profissão? Bem...será necessário ler a entrevista que, como já está ficando tradicional por aqui, é repleta de histórias e emoções.
  • Quando entrou para o ex-SIC?
Bom, eu entrei para o Seminário no século passado , rsrsrsrsrsrsrsr(gostou?)
Eh, cara, mas antes do ex-SIC, eu estive num Seminário dos padres salvatorianos, lá na perdida cidade de Conchas. Isto foi nos idos de 1957. Eu nem conhecia Valinhos. Minha família trabalhava nas fazendas de café e, assim, quando fui para o Seminário de Conchas, meus pais mudaram para Valinhos, numa fazenda, onde hoje é a Fonte Mércia e passou a morar na Cerâmica da Capuava que, também pertencia à tal fazenda. Vindo para as férias de julho, do cafezal da fazenda descortinei este belo Seminário, lindo de se ver ao longe. Então, fiz o maior esforço para me transferir para este saudoso ex-SIC. Lá, eu estava longe de minha família. Aqui, estava perto.
  • De que cidade/paróquia?
Então, ao me transferir para o Seminário da Imaculada, eu já pertencia à paróquia de São Sebastião de Valinhos, tendo como pároco o Pe. Ângelo Marighetto.
Agora completo a primeira pergunta de maneira mais objetiva: Vim para o ex-SIC em 1958.
  • Por que entrou para o seminário?
É como diz o Pe. Jonas, amigo e companheiro , meu vizinho aqui perto do Jd. São Vicente, recém-ordenado: "Eu também fui alcançado pelo Senhor Jesus", quando ainda nem sabia falar, morou?! Meus pais eram católicos e assistiam missas aos domingos(assim que se dizia) e toda a filharada ia junto. Ninguém ia ao catecismo, porém eles nos ensinavam em casa os conhecimentos religiosos. Um dos momentos mais caros para mim na Missa era ouvir a pregação do padre celebrante. Retinha tudo na minha memória. Pois é, um dia eu saí com essa: falei para meus pais que queria estudar para padre. E lá foi ele falar com o padre. Minha cidade natal era Estiva, próximo a Pouso Alegre, lá na terra do queijo, uai! Aí veio a exigência: "Tem o quarto ano primário"? Eu não tinha nem o primeiro ano, nunca tinha entrado numa escola.(Diga-se de passagem que naquele tempo, a escola pública era elitizante, isto é, nós da camada pobre não tínhamos acesso à educação escolar). Se os pais tinham um pouco de leitura, eles ensinavam os filhos e, foi assim que aprendi a ler em casa. Assim, toca entrar para a escola.Consegui estudar até o segundo ano primário e não deu para continuar, pois nossas sucessivas mudanças atrapalharam muito, até que entrei em contato com os padres salvatorianos que iam rezar missa nas capelas dos bairros, em Jundiaí e eles me encaminharam para o Seminário preparatório de Conchas e lá entrei direto no quarto ano primário, como respondi na primeira pergunta.
Então, meu amigo, infira aí porque eu quis ser padre. Não foi levado por um zelo missionário(!), não foi também porque "o padre era mais importante que um anjo(oh, dizia-se isso!!), trabalho vocacional nem havia...! Eu quis ser padre e...fui! Árdua caminhada, meu companheiro de luta, foi uma trajetória de quinze anos! Não foram dois anos, três ou quatro...mas quinze anos fora de casa. Mas eu queria ser padre, perfiz esse caminho.
  • Quantos anos tinha quando entrou?
Tinha quinze anos quando deixei minha família e fui para o Seminário Salvatoriano de Conchas e, consequentemente, dezesseis anos quando entrei no nosso querido ex-SIC.
  • Quando saiu do ex-SIC?
Eu saí do ex-SIC? Ah, sim, claro, saí para continuar meus estudos, agora, no Seminário Maior(como se dizia). Era uma conquista, uma glória, um sonho chegar até o Seminário Maior, última etapa para o sacerdócio.
  • Quantos anos tinha quando saiu?
Bom, vamos por parte: Eu saí do Seminário da Imaculada com 23 anos para ingressar no Seminário Central do Ipiranga. LÁ eu fiz os três anos de Filosofia e os quatro anos incompletos de Teologia e enquanto fazia Teo, completava Filosofia em Mogi das Cruzes. Então saí... e saí com 30 anos.
  • Por que saiu do seminário?
Sei lá porque saí! Vou dizer que foi "a vontade de Deus"? A gente usa muito explicar o inexplicável dizendo que, ou porque Deus quis, ou porque foi a vontade de Deus... quando, na realidade, as causas são humanas, as falhas são nossas. No segundo ano de Teologia havia pedido, mediante um requerimento ao senhor reitor, as ordens menores. Passou-se um ano e não tive retorno. Reiterei o pedido e passara-se o terceiro ano sem uma resposta do senhor reitor. Questionava o Chanceler da Cúria e ele dizia que nada havia chegado lá a meu respeito. Ora, imagine como fica o psicológico do camarada, né? Ao retornar das férias de fim de ano, quando deveria começar o quarto ano de Teologia, fui abordado pelo Diretor Espiritual dizendo que eu não deveria ter voltado das férias, pois minha Diocese já não mantinha mais vínculo comigo no Seminário. Vim falar com meu Bispo, era dom Antônio. Você se lembra de Dom Antônio? Ele me dizia que não sabia de nada, só sabia que eu havia comentado que tencionava receber as ordens menores (numa visita que ele nos fez no Seminário). Propôs escrever uma carta ao Reitor e eu disse que não o fizesse, pois já não havia mais clima para mim no Seminário. Foi então que eu deixei o Seminário.
  • O que aprendeu no ex-SIC?
No Seminário da Imaculada eu aprendi tanta coisa! Primeiramente, eu aprendi a conviver em sociedade. É verdade! Eu era tão caipira, retraído e graças ao nosso relacionamento eu fui me deslanchando, me desembaraçando... essa interação bonita que, naturalmente ia acontecendo, a gente ia crescendo; os padres que conviviam conosco, os nossos professores, todos tiveram uma contribuição fabulosa para o meu desenvolvimento. Toda aquela vida de vivência litúrgica, com Missas, reflexões e orações... Os terços que rezávamos pelo claustro afora, tudo foi muito importante para o amadurecimento de minha fé, pois no começo a gente tem uma fé muito infantil, mas muitos tabus nós temos que jogar fora à medida que vamos nos libertando do infantilismo religioso, não é mesmo?
Também aproveitei o máximo dos estudos. Estudava muito, gostava de todas as matérias, apesar de ter tido muita dificuldade em Matemática. Não conseguia entender as aulas do Padre Sena, mas mesmo assim ele sempre procurou me entender e eu nunca fiquei, sequer de recuperação. Grande Padre Sena, e que Deus o tem, com certeza, junto de si.
Que mais? Francês com o Padre Lúcio, Padre Eugênio Inverardi(um salvatoriano que nos deu francês na segunda série ginasial), o Padre Michel( veio lá da Bélgica para me ensinar francês, RSRSRSRS). Latim, Inglês, Grego, com o saudoso Con. Luís...Português... ah, tá bom, né?
  • O que faltou aprender?
Tudo o que o Seminário nos ensinou, eu aprendi, acho que não faltou nada.
  • O que fez depois que saiu? Estudou o que?
Fiz complementação de História em Amparo, Pós Latu Sensu de História em Ouro Fino e Letras na PUCCAMP.
  • Qual sua trajetória profissional após a saída do ex-SIC?
Aí que o bicho pegou feio, meu caro! Eu não tinha nenhuma formação profissional, o que podia fazer era dar aula e aula de História, pois Filosofia e Psicologia ou Sociologia a ditadura militar tirou da grade curricular. Na área profissional eu não era conversado, precisava de ajuda e não encontrei quem me desse ajuda. Então, tentando daqui e dali, consegui trabalhar em algumas indústrias. Só fui me aprumar quando voltei a lecionar e aos poucos fui entrando no mundo da Educação e hoje, sou um professor aposentado do Estado (recém-aposentado)e continuo lecionando na Rede Municipal. Gosto muito de lecionar, se bem que esta profissão se tornou muito penosa, mas é uma profissão que me realiza.
  • Trabalha ainda?
Como eu disse, na Rede Municipal.
  • Casou? Tem filhos? Netos?
Sim, casei-me há 36 anos, tenho um casal. Meu filho já me deu um neto, inteligente, apaixonado por futebol, sabe mais do que eu. Ele diz que vai ser jogador, não sei se é de bola ou de pedrinhas n'água, rsrsrsrsrs. O pai fez Administração de Empresa e agora está concluindo pós em Economia. Minha filha fez Biologia e mestrado na Unicamp e agora está fazendo Farmacologia na São Francisco, na minha ex-Casa.
  • Quais as recordações mais marcantes do tempo de ex-SIC?
O período todo do Seminário é uma recordação marcante para mim. Devo tudo ao Seminário.
  • Cite um personagem com que conviveu na época que o impressionou positiva ou negativamente.
O Mons. Luís Fernandes de Abreu "um oceano sem praia" em sabedoria. É outro que, com certeza, está em comunhão com a Suprema Sabedoria. O Cônego Luís, grande poliglota; Mons. Bruno que me deu muita força para eu entrar no Seminário da Imaculada; Você vê, é difícil citar só um personagem...
  • Sobrou alguma mágoa? Qual?
Não, não sobrou espaço para mágoa.
  • Se voltasse no tempo iria novamente para o ex-SIC? Por que?
Eh, meu amigo, "só se toma banho uma só vez no mesmo rio" (não sei se é Parmênides que diz), pois na segunda vez que você pular no rio, já não é mais aquele, pois tudo está passando (Panta Rei).
Aquele Seminário era tridentino, isto é, pensado pelo concílio de Trento para dar uma melhor formação aos padres (Se eu estiver equivocado, me corrija, por favor.). Hoje temos Vaticano II, os sínodos, de Medelin, Puebla e agora, de Aparecida...creio que tudo isso influi na formação dos seminaristas.
  • Quais as principais mudanças que a entrada (e/ou saída) do seminário provocou em você?
Creio que a resposta está um pouco em cada reflexão nas questões acima; tenho um modo diferente de pensar o mundo, a política e mesmo a religião. Nós não podemos absolutizar nada, tudo é relativo. O único Absoluto é Deus. Os trancos da vida amadurecem muito a gente.
  • Se dedica à Igreja Católica atualmente?
Sim, dedico-me à Igreja. Vivi até agora acreditando que sou igreja, eu tenho que me dedicar a ela, Igreja Povo de Deus, em marcha para a Casa do Pai. Já trabalhei na catequese, grupo de jovens, participo da Liturgia de minha Comunidade(Comunidade Cristo Ressuscitado), como Ministro Extraordinário da Eucaristia, celebro o Culto da Palavra e faço a homilia(diz que agora o leigo faz reflexão e não mais homilia), então eu faço a reflexão, né?
  • Qual sua relação com a religião atualmente?
Acho que a resposta da questão anterior já contempla esta pergunta.
  • Como você compara a sua religiosidade daquela época com a atual?
Houve um amadurecimento, evidente. Hoje vejo a Religião de uma outra forma. Meu relacionamento com os outros, com o meu ambiente, até mesmo a minha consciência planetária... tudo é religião.... Se você não fizer tudo isso dentro de uma mística, nada acaba tendo sentido.
  • Como você compara a Igreja Católica daquela época com a atual?
A Igreja teve um momento em que voltou sua atenção para as CEBs. A Igreja saiu ou estava saindo da sacristia e indo na direção do povo. Houve muita polêmica e, novamente voltou a se centralizar e o movimento carismático começou a crescer e o tom das homilias também começou a mudar. Mas, há hoje um esforço de conscientização por uma maior participação das comunidades. Depende da cabeça do padre que se forma, pois pode acontecer de o padre ter a última palavra na igreja e o povo ser apenas massa de manobra. Daí a necessidade de os seminários formarem padres que pensem Comunidades e não igreja massificada, liturgia massificada. Na época das CEBs o povo estava atuando mais. Quem deveria mudar, transformar a face da igreja seria o povo, mas isto não está acontecendo.
  • O que você acha dos reencontros com os ex-colegas do ex-SIC?
Excelente, continuemos.
  • Alguma sugestão?
No momento, não, mas se surgir alguns, a gente comunica, sempre há tempo
  • Qual pergunta você gostaria de ter respondido e que não foi feita?
Se houvesse uma outra pergunta haveria também redundância, está bem assim.
  • Alguma mensagem especial aos outros ex-SIC?
Quem diria, amigos, que um dia nós voltaríamos a ter a necessidade de nos reencontrarmos. Não é por acaso, mas há laços fortes criados no ontem de nossa convivência seminarística. A Convivência cria laços. Quero deixar-lhes como mensagem o Salmo 133(132), muito comentado pelo Padre Canoas nas suas reflexões para nós, naqueles anos dourados:
"Vejam como é bom, como é agradável / os irmãos viverem unidos./ É como óleo fino sobre a cabeça, / descendo pela barba, / a barba de Aarão; /descendo sobre a gola de suas vestes./ É como o orvalho do Hermon, / descendo sobre os montes de Sião. / Porque aí Javé manda a bênção / e a vida para sempre".
Até o próximo encontro, pessoal!

Lúcio Inácio da Rosa

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