Este, que hoje responde as perguntas, foi um dos maiores incentivadores para que houvesse essa série de entrevistas. Dele veio o encorajamento para "ir em frente". Portanto, não é de estranhar que suas respostas mostrem tanto sua personalidade agregadora.
Leiam sua entrevista, também, para descobrir o que as maças do título têm a ver com a Igreja Católica.
Quem já leu seu "blog", cujo "link" encontra-se permanentemente listado na barra lateral deste, adivinhará com facilidade quem é o nosso personagem de hoje.
- Quanto entrou para o ex-SIC?
No início de 1955 (não lembro a data), justamente na inauguração de novo prédio, à Praça da Imaculada, 105.
- De que cidade/Paróquia?
Da Paróquia de São José de Elias Fausto, sendo vigário o Pe. Glauco do Prado Nogueira.
- Por que entrou para o Seminário?
Minha mãe era muito católica e logo cedo me encaminhou para coroinha. Então, a convivência com a liturgia e o incentivo da mãe e do pároco me fizeram crer, naquele momento, que era a minha vocação. Só muito mais tarde, até já fora do Seminário, é que fui chegar à convicção de que, com aquela idade, eu não poderia mesmo ter a menor noção do que era vocação.
- Quantos anos tinha quando entrou?
11 anos.
- Quando saiu dos ex-Sic?
Em outubro de 1962, depois de dialogar com o Pe.José Gaspar, então Diretor Espiritual e com o Reitor Mons.Bruno Nardini.
- Quantos anos tinha quando saiu?
Ainda não tinha completado 19 anos.
- Por que saiu do Seminário?
Por perceber que aquela rotina, bonita até então, não era o futuro que eu queria seguir. A Liturgia e, principalmente, a Doutrina me incomodavam, mas eu não tinha consciência disso na época.
- O que aprendeu no ex-Sic?
“Caipira do mato” aprendi “bons modos”, disciplina, ordem, respeito e adquiri uma sólida base cultural que me veio a fazer diferença mais tarde no mercado de trabalho.
- O que faltou aprender?
Faltou aprender convivência social e noção das regras do mercado. Está claro que o escopo da formação era a vida sacerdotal, mas todos sabiam que a grande maioria não continuaria. Ainda hoje me pergunto se mesmo o Padre não teria também que ter a mínima noção do mundo lá fora?
- O que fez depois que saiu? Estudou o quê?
Fui ser “sola” boy ocupando a vaga do Aluízio (que tinha saído em 1961), que acabava de ser promovido na empresa. Tenho até hoje muita gratidão a ele por ter-me orientado nos primeiros passos e dado o primeiro impulso.
(Sola boy era o office boy daquele tempo (sem ônibus, sem tênis, sem guarda-chuva; era bater perna o dia inteiro de sapato de sola dura).
Me formei em Administração de Empresas e me aprofundei em Organização, Sistemas e Métodos, matéria que lecionei para os funcionários do Banco por um bom tempo.
- Qual a sua trajetória profissional após a saída do ex-Sic?
Passei por multinacionais ainda em Campinas e depois entrei para o Banco do Brasil, que na época já tinha começado a descaracterizar a carreira funcional. Mas, mesmo assim, ainda era um bom emprego e só dependeu de mim alavancar a carreira com cursos, concursos e muito trabalho.
- Ainda trabalha?
A minha proposta de aposentadoria em 1994 era não assumir mais nenhum compromisso formal, embora continue exercendo atividades de Consultoria, ainda que esporádica.
- Casou? Tem filhos? Netos?
Casei e tenho um filho e uma filha. Filiei-me ao Movimento dos Sem Netos, aqui de São Caetano, e por enquanto tem dado certo, embora esteja consciente de que é uma decisão na qual não devo interferir.
- Quais as recordações mais marcantes do tempo do Ex-Sic?
Aquela rotina diária: Rezas – refeições - recreios – estudo – aulas. E os deslocamentos através do claustro em fila dupla, por ordem de tamanho.
É claro que comecei puxando a fila (eu e o Borin), e depois fui crescendo e passando mais para trás.
- Cite um personagem com quem conviveu que o impressionou positiva ou negativamente.
Todos os superiores e grande parte dos colegas me causaram impressões que, positivas ou negativas, contribuíram para o meu aprendizado. Mas, eu não me esqueço do Seu Zé de Abreu, na portaria, torcedor da Portuguesa, uma pessoa marcante. Aliás, era ele que anunciava as “visitas”.
- Sobrou alguma mágoa? Qual?
Não. Todos os problemas, contrariedades e dificuldades contribuíram, em maior ou menor grau, para o que sou hoje.
- Se voltasse no tempo iria novamente para o ex-Sic?
Sem dúvida. Além da base cultural, foi muito útil receber uma educação quase que espartana. Sem isso eu não teria conseguido vir para São Paulo e morar numa kitnete com mais 5 outros moradores. Esse começo de carreira foi muito difícil e apertado financeiramente.
- Quais as principais mudanças que a entrada/saída do Ex-Sic provocou em você?
A entrada me deu a noção e o aprendizado da disciplina, e a saída, com a bagagem adquirida, uma ferramenta para me lançar no mercado.
- Se dedica à Igreja Católica atualmente?
Não. Apenas observo quais resquícios de doutrinação de que não consegui me livrar ainda. Por exemplo, o conceito de pecados (leves e graves) que podiam ser perdoados em troca de dois ou três pai-nossos não repercutia em mim como um procedimento sério.
- Qual a sua relação com a religião atualmente?
Caminho por mim mesmo voltado para a espiritualidade. Não encontro razão para acreditar na necessidade da existência de um procurador que faça a ponte entre mim e a Divindade.
- Como você compara a sua religiosidade daquela época com a atual?
Hoje muito melhor. Aquela época a relação com Deus era mecânica, pedinte e temerosa. Não acredito no que os vários formatos religiosos pregam como sendo o único caminho, por isso sou agnóstico.
- Como você compara a Religião Católica daquela época com a atual?
Ficou parada no tempo e no espaço. Muita coisa evoluiu no período de tempo entre a maçã de Eva e a maçã de Newton. Muito mais coisas, e com muito mais velocidade, ocorreram entre Newton e a Apple (que me desculpe o Bill Gates, senão o trocadilho não faria sentido). Na realidade percebo que uma Doutrina hermética que não acompanha a evolução dos tempos não faz sentido. Não é necessário voltar muito atrás para comparar comportamentos que escandalizaram Descartes, Kant, Nietzsche e até Proust, e que são absolutamente naturais ao olhos das pessoas e da moral coletiva de hoje.
- O que você acha do reencontro com os colegas do ex-Sic?
Uma iniciativa fantástica, um acontecimento que eu ansiava por muito tempo, mas não tive a obstinação e a iniciativa que teve o Grego para fazer acontecer.
Quem não se sentiria bem num grupo que exala uma sólida formação moral, um companheirismo sem igual, comparando com todos os grupos profissionais ou não de que participei. Sentir a felicidade estampada nos sorrisos dos que se vão reencontrando é um prazer ímpar.
- Alguma sugestão?
Não me ocorre no momento. Mas, com o desenvolver de algumas entrevistas poderemos sentir necessidade de alguma mudança.
- Qual pergunta você gostaria de ter respondido que não foi feita?
Esta: E Daí?
E daí que aprendi com o Minerim: “Num sei done covim, one cotô e pone covô”, então, resolvi cuidar só de mim, deixar que os outros cuidem cada um de si, sem interferir, sem doutrinar, sem contestar convicções que não me pertencem.
É claro que, se solicitado e tiver condições, posso ajudar dentro das minhas limitações.
- Alguma mensagem especial aos outros ex-Sic?
Realizem periodicamente um Passeio Socrático (para quem não conhece, o texto foi postado em meu blog dia 26.04.2009) e uma profunda contestação a si próprio. Esqueça os outros. Eles não são a causa de nossos problemas, nem os conteste, porque eles não vão mudar suas convicções. A mudança é a única coisa definitiva na vida. Agarrar-se definitivamente a um conceito ou a uma crença não fará de você uma pessoa melhor ou mais feliz.
Cláudio Natalício Battistuzzi
Aproveitem para (re)visitar seu "blog":
E comentar bastante.
Se for comentar como anônimo, por favor, identifique-se.
Postado por J. Reinaldo Rocha (62-67)
Muito bem, seu Battisstuzzi, é assim mesmo. É toda uma dialética e que nos leva ao crescimento e à maturidade pessoal. Você fez colocações importantíssimas neste sentido. Um abraço,
ResponderExcluirLúcio
Parabéns BATTISTUZZI.
ResponderExcluirGostei da lembrança sobre a ordem nas filas. Eu, na minha,era o último.
Sobre o texto postado em 26/04/09,achei muito interessante, e os demais também.
abraços,
DURVAL 63/65.
Muito bom.Foi assim que conheci você, puxando a fila dos menores e sendo sempre destacado pelo então bispo de Campinas, dom Paulo.Quanto às maçãs de Eva e Newton, uma foi fonte de condenação, outra fonte de evolução e assim é a vida.Como você, acho que a grande contribuição do seminário às nossas vidas não foi a prática religiosa mas a prática de vida. E nisto a influência foi significativa. Deus pode ser encontrado de formas múltiplas e variadas. cada um de nós tem a sua.
ResponderExcluirGrande abraço e parabéns pela lucidez, apesar da idade já avançada.
Arnaldo
Cláudio, eu acho que nos conhecemos no único ano que estudei no SIC, 1959, vindo do seminário de Aparecida que fechou no final de 1958. Lá a fila era invertida, maiores na frente e menores atrás porque caso contrário os menores levavam rasteira e cascudos dos maiores. Por falar em cascudos, em Aparecida o maestro e professor de música, padre Vieira, era especialista em cascudos e apagador voador, quando a balbúrdia era muita. Eu nunca tive vocação sacerdotal mas achei fantásticos os 3 anos que passei interno em Aparecida. Veja você que interessante, tenho muitas lembranças a mais dos anos 1956, 1957 e 1958 que fiquei em Aparecida, dos 10 aos 12 anos, que do ano que passei no Seminário Imaculada em Campinas. A propósito, eu era de LOUVEIRA, como o Luigi Umberto Verardo, que respondeu a este questionário. Eu não sabia da existência deste ex-SIC, nem fui convidado para qualquer encontro. Abraço e felicidades. VILSON COLETTI - E-mail: vilsoncoletti@hotmail.com
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