sábado, 19 de junho de 2010

"Entre o freio e o acelerador, a Igreja mantém a fórmula que dá certo há 2 mil anos"

Hoje quem responde as perguntas é um comunicador profissional. Então é melhor passar-lhe logo "a palavra".


Só uma dica para quem quiser adivinhar antes de ler sua identificação: Foi ele quem apresentou o nosso show no encontro deste ano no ex-SIC.
Quem já baixou, e assistiu, os vídeos cujos "links" estão no "e-mail" que enviamos ontem já sabe de quem se trata.
  • Quando entrou para o ex-SIC?
Em 1962
  • De que cidade/paróquia?
De Amparo, da Paróquia de Nossa Senhora do Amparo
  • Por que entrou para o seminário?
Porque naquela época as crianças da zona rural ou de cidades pequenas queriam ser, quando crescessem, motorista de caminhão ou padre, que, no exercício da profissão, apareciam com destaque, “lá em cima”, pareciam importantes. Em Amparo, o seminário era destino natural de muitos coroinhas, como eu. No meu caso, havia um atrativo extra: eu conhecia o SIC, e me deslumbrava com tudo aquilo, tão grande e tão bonito, pelas visitas ao meu irmão, o Veríssimo, da turma de 58.
  • Quantos anos tinha quando entrou?
Onze anos e nove meses.
  • Quando saiu do ex-SIC?
Em 1971, quando morava na casa dos universitários ao lado do Colégio Pio XII.
  • Quantos anos tinha quando saiu?
21 anos.
  • Por que saiu do seminário?
Foi um processo natural: já trabalhava como jornalista, fui convidado para morar numa espécie de “república” com outros colegas do jornal e avaliei que eu queria mesmo é ser jornalista e não padre, portanto não fazia sentido continuar ligado ao Seminário.
  • O que aprendeu no ex-SIC?
Aprendi a ser adolescente, jovem, e lições para, até hoje, tentar ser um homem de bem.
  • O que faltou aprender?
É difícil, com o olhar de hoje, achar o que faltou no processo educacional daqueles tempos. Se alguma coisa não aprendi – e não deve ter sido coisa pouca – não foi por falta de ensino.
  • O que fez depois que saiu? Estudou o que?
Continuei tudo o que estava fazendo: o curso de Letras na PUCC, de manhã, e o trabalho à tarde e noite.
  • Qual sua trajetória profissional após a saída do ex-SIC?
Continuei no Diário do Povo (Campinas) até  1981, acumulei outros empregos em jornais e prefeituras de cidades vizinhas. No jornalismo fiz de tudo, fui até “dono” de jornal tablóide (na época, sinal de alternativo, marginal – em todos os sentidos).
  • Trabalha ainda?
Sim, apesar – ou por causa – da aposentadoria. Estou há 30 anos na EPTV Campinas, onde atualmente edito um programa de TV semanal e uma revista mensal de mesmo nome, Terra da Gente, sobre biodiversidade, meio ambiente e pesca esportiva.
  • Casou? Tem filhos? Netos?
Casei em 1975 com Luzia Aparecida, tenho duas filhas solteiras: Elaine Cristina e Tânia Regina.
  • Quais as recordações mais marcantes do tempo de ex-SIC?
As que mais marcaram foram as dos primeiros anos, pelo choque de realidades, do antes e depois do ingresso naquele prédio imenso, com tudo grande – salões de estudo, dormitório, refeitório, pátios, campos e quadras, um monte de gente, filas, horários... Sempre que eu me lembro do Seminário, me vejo ainda pequeno, me acostumando àquele novo mundo.
  • Cite um personagem com que conviveu na época que o impressionou positiva ou negativamente.
Entre os colegas, são muitos exemplos positivos, é difícil destacar alguém. Entre os superiores, aprendi a admirar em especial os monsenhores Bruno Nardini e Luiz de Abreu, pelas tantas virtudes de ambos, tão conhecidas de todos nós.
  • Sobrou alguma mágoa? Qual?
Nenhuma mágoa. Minha passagem pelo ex-SIC teve um saldo 100% positivo.
  • Se voltasse no tempo iria novamente para o ex-SIC? Por que?
Iria, sim, pelos mesmos motivos da época e, se pudesse fundir passado e futuro, também pela formação escolar, religiosa, moral e ética que me foi proporcionada.
  • Quais as principais mudanças que a entrada (e/ou saída) do seminário provocou em você?
As mudanças foram mais marcantes na entrada, como explicado acima, pela descoberta de “outro mundo” justamente na fase da pré-adolescência (na época nem se usava esse termo, era só criança mesmo). A saída foi tão natural que nada provocou, positiva ou negativamente.
  • Se dedica à Igreja Católica atualmente?
Não com trabalho pastoral.
  • Qual sua relação com a religião atualmente?
A mesma de sempre em termos de fé, mas sem a prática dos tempos do Seminário.
  • Como você compara a sua religiosidade daquela época com a atual?
Hoje minha religiosidade é mais racional, pragmática, voluntária. Na época era mais emocional, “herança” da família ou imposição de regulamento.
  • Como você compara a Igreja Católica daquela época com a atual?
No conteúdo, na parte da fé e dos dogmas, a mesma, sempre com o prudente pé no freio. Na forma, na parte de pastoral, com o necessário pé no acelerador desde o Concílio Vaticano II. Entre contestações ao atacado e ao varejo, entre o freio e o acelerador, a Igreja mantém a fórmula que dá certo há 2 mil anos. Ela é ao mesmo tempo una na doutrina, mas múltipla na sua atuação de acordo com as circunstâncias de tempo e lugar. Não dá para comparar épocas. A Igreja é santa e os homens pecadores em qualquer tempo ou lugar.
  • O que você acha dos reencontros com os ex-colegas do ex-SIC?
É uma forma de fazer – ou refazer – amizades, reafirmar princípios que nos reabastecem como cidadãos e como profissionais, de uma maneira lúdica.
  • Alguma sugestão?
Sugiro que todos deem mais sugestões para os nossos futuros encontros ou outras atividades, que haja mais comentários, mais mensagens para o grupo, como por ocasião dos primeiros encontros. Entende-se que na época o reencontro era novidade, ainda estávamos nos redescobrindo e, a esta altura, muitas histórias e “fofocas” já foram contadas. Mas ainda dá para inovar, lembrar de mais histórias, revirar mais o fundo do baú.
  • Qual pergunta você gostaria de ter respondido e que não foi feita?
O questionário está completo, perfeito. Nada me ocorre.
  • Alguma mensagem especial aos outros ex-SIC?
Se “nós éramos felizes e sabíamos” – como bem diz o Gessé – só por causa disso somos felizes hoje, e seremos amanhã, e depois de amanhã, e depois... Talvez só nos falte descobrir isso. Até onde percebo, todos já descobriram.

Valdemar Sibinelli



Aí está mais uma entrevista aguardando seus comentários ("...que haja mais comentários...", como ele mesmo escreveu).

E, mais uma vez o lembrete, se for comentar como "anônimo", não esquecer de identificar-se.

J. Reinaldo Rocha (62-67)



6 comentários:

  1. Aí, Valdemar, parabéns, como é bom ler cada entrevista e sentir como o seminário cumpriu seu papel, formando cidadãos e cidadãos cristãos.
    Como resultado, tá aí um bom jornalista!Té mais, Valdemar, e um abraço.
    Lúcio

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  2. Vejam,caros colegas,como é muito importante esses nossos encontros.
    Devo dizer que conheci o SIBINELLI no X encontro,lá no EX SIC.(27/03/2010).
    Ele começou no seminário em 62, e eu em 63.Não me recordo dele lá, e com certeza ele também não,mas quando conversei com ele, citei que moro em Araras, e que aqui há um programa sertanejo na Rádio Fraternidade, cujo apresentador se chama
    Itamar Correa e este sempre cita as chamadas da Globo, principalmente o Terra da Gente,que é editado por você SIBINELLI.
    Parabéns pelo maravilhoso conteúdo nas respostas.

    Abraços,


    DURVAL 63/65.

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  3. Falou, Sibinelli 2. (O 1 é o Veríssimo) Essa aí que a criançada aspirava uma de duas coisas, ser chofer de caminhão ou padre, foi de "cabo de esquadra". Quando entrei no Seminário, 10 anos antes, acho que não tinha tanto caminhão assim. Os caminhões mais populares eram DeSotto ou Dodge. Meu irmão, mais informado, enchia a boca quando aparecia em Amparo um GMC motor marítimo ... Daólio

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  4. Meu bom Sibinelli,
    no dia de Corpus Christi, tive uma experiencia muito singular.
    Visitando familiares, na cidade onde nasci, Iracemápolis, cerca de 150 km de sunpaulo, assisti, no sentido literal da palavra, uma procissão de Corpus Christi, com ruas enfeitadas com tatetes de flores e desenhos de motivos religiosos, tradição em muitas cidades do interior.
    Na procissão, quase toda cidade, crianças, jovens velhos, anjos, padres, hinos religiosos, receita completa.
    Mas o que me provocou de fato, foi rever, passando à minha frente numa passarela social todas as pessoas com quem convivi na minha infância e adolescência, já que deixei aquela cidade com 18 anos.
    É uma sensação muito especial porque não consegui reconhecer alguns e outros, ... que diferença, que mudança, gente que nunca passou perto de uma igreja e seus ritos, “gurias” que paquerei, outras que desejei, colegas em quem fiz golaços com bola de meia na rua de terra, outros de quem levei surras no jogo de pião e bolinhas de gude, aventuras aquáticas no riacho que cortava, limpo, a pequena cidade(hoje já está poluído).
    ...
    DE NOVO, como foi bom saber que eu era feliz e sabia, pois assim não posso reclamar dos dias difíceis, e estranhos de hoje.
    Ó meu velho Casemiro de Abreu....
    Oh! que saudades que tenho
    Da aurora da minha vida,
    Da minha infância querida
    Que os anos não trazem mais!
    ...
    É isto amigo:se “o conhecimento é a riqueza do futuro” ( Alvin Tofler), “os amigos são a do passado, do presente e cada vez mais no futuro”.(Gessé Camargo).
    Sua entrevista toca fundo neste tema. Parabens!
    Gessé.

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  5. Prezado Amigo Sibinelli,

    Voce não disse na entrevista que jogava muito bem futebol de botão, e que fui no seu casamento, mas certamente sabe que temos muita admiração por voce e sua maneira de viver.
    Você é o " Cara "

    Harley L. Fadel

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  6. Oi Sibinelli,
    Parabéns pelo conteúdo das respostas. Com certeza não se lembrará de mim, mas sou José Fernando Crivellari, seu contemporâneo em 1962, entrei em 1961. Coube a mim a honra de ser pra vc uma espécie de padrinho que o recebeu para lhe mostrar as coisas do seminário na sua entrada.
    Fortíssimo abraço, e que Deus o abençoe muito.
    Caso queira se comunicar, esteja a vontade
    fernando.crivellari@ig.com.br
    e.t. - gostaria de estar participando desse convívio dos ex alunos do seminário. Pode me dar a dica de como?

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